Adoraria que alguém da área da música me explicasse o que tem de relevante esse chocalho de plástico, espécie de réplica globalizada do caxixi, do ponto de vista do som/percussão que gera.
Segundo a imprensa, a tal da caxirola foi inventada por Carlinhos Brown. Nós, do mundo do design, sabemos que a coisa não funciona bem assim.
Geralmente os cantores, artistas e mesmo designers dão algumas ideias iniciais que são retrabalhadas por designers industriais anônimos. Vale para calçados e roupas, joias, comida e tanti altri. A marca do artista é um selo de celebridade.
No caso, a empresa produtora e distribuidora, ainda segundo a imprensa, é a The Marketing Store. Terá sido fabricada no Brasil? Talvez.
Deveria dar esse sabor local, ‘étnico’ às manifestações da Copa, tal como a vuvuzela da África do Sul.
Quando lá estive, alguns meses depois da Copa de 2010, ainda se podiam comprar exemplares de rara beleza, feitos por artesãos locais, incentivados, em programa governamental, a produzir diversos elementos da Copa, reinterpretados por suas mãos.
Aqui, o caxixi ficou escondido até no nome.
Mas, assim como a vuvuzela, o tal novo instrumento foi vetado nos estádios por motivos de segurança.
O futebol globalizado é assim, deve ser todo securitizado. Ou seja, de antemão, já se espera que os torcedores utilizem qualquer instrumento como meio de agressão.
Uma bengala pode servir para apoiar o andar ou para bater em alguém ou esconder uma arma letal, é certo. Nem por isso deverá ser proibida de ser portada, não?
Nossos objetos não são inocentes, é certo. Mas é seu uso que os ressignifica, que os traz para a concretude das relações.
Desculpem os leitores pelos pensamentos banais, mas ao olhar para esse instrumento de percussão tão feio, abacaxi cortado e cheio de alças, de plástico texturizado, não deixo de reiterar que estamos mal de design e de civilização.