Ano: I Número: 10
ISSN: 1983-005X
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First things first e First things first 2000
Ken Garland, 1964
Tradutor(a):Gilberto Paim

First things first/Primeiro, o mais importante

Manifesto de Ken Garland, 1964

Nós, abaixo assinados, somos designers gráficos, fotógrafos e estudantes criados num mundo no qual as técnicas e o aparato da publicidade nos foram persistentemente apresentados como os meios mais desejáveis, efetivos e lucrativos para o uso dos nossos talentos. Fomos bombardeados por publicações dedicadas a esta crença, louvando o trabalho daqueles que gastaram a sua habilidade e imaginação para vender coisas como ração para gato, pós estomacais, detergente, restaurador capilar; pasta de dente listrada, loção pós-barba, loção pré-barba, dietas para emagrecer, dietas para engordar, desodorantes, água com gás, cigarros, roll-ons, pull-ons e slip-ons.

De longe, os maiores esforços daqueles que trabalham na indústria da publicidade são desperdiçados nesses propósitos triviais, que pouco ou nada contribuem para a nossa prosperidade nacional.

Junto a um número crescente de pessoas, alcançamos um ponto de saturação no qual o anúncio mais gritante não passa de mero ruído. Acreditamos que outras coisas são mais merecedoras da nossa habilidade e experiência: sinalização de ruas e edifícios, livros e periódicos, catálogos, manuais didáticos, fotografia industrial, suporte educativo, filmes, programas de destaque na televisão, publicações científicas e industriais, e todos os outros meios de comunicação nos quais promovemos uma maior consciência do mundo, a cultura, a educação e o comércio.

Não defendemos a abolição da publicidade de alta pressão sobre o consumo: isto não é realizável. Tampouco queremos reduzir a alegria da vida. Mas propomos uma inversão de prioridades em benefício de formas de comunicação mais úteis e duradouras. Esperamos que a nossa sociedade se canse dos comerciantes cheios de truques; dos vendedores de status, e daqueles que praticam a persuasão camuflada; e que as nossas habilidades sejam solicitadas prioritariamente para propósitos mais relevantes. Tendo isso em mente, propomos partilhar nossa experiência e opiniões, e colocá-las à disposição de colegas, estudantes e outras pessoas que possam se interessar.

O manifesto foi escrito e proclamado pelo designer em dezembro de 1963 no Institute of Contemporary Arts, de Londres. Em janeiro de 1964, em seguida à impressão de quatrocentas cópias com as assinaturas de Edward Wright, Geoffrey White, William Slack, Caroline Rawlence, Ian McLaren, Sam Lambert, Ivor Kamlish, Gerald Jones, Bernard Higton, Brian Grimbly, John Garner, Ken Garland, Anthony Froshaug, Robin Fior, Germano Facetti, Ivan Dodd, Harriet Crowder, Anthony Clift, Gerry Cinamon, Robert Chapman, Ray Carpenter, Ken Briggs, foi publicado no jornal The Guardian, com grande repercussão.

 

First things first 2000/Primeiro, o mais importante 2000

Manifesto coletivo, 1999

Nós, abaixo assinados, somos designers gráficos, diretores de arte e comunicadores visuais criados num mundo no qual o aparato e as técnicas da publicidade nos foram persistentemente apresentados como os meios mais desejáveis, efetivos e lucrativos para o uso dos nossos talentos. Muitos professores e mentores de design promovem essa crença; o mercado a recompensa; uma maré de livros e publicações a reforça.

Encorajados nessa direção, os designers aplicam seu talento e imaginação para vender biscoitos de cachorro, café para designers, diamantes, detergentes, gel para cabelo, cigarros, cartões de crédito, tênis, tonificante para a bunda; cerveja leve e veículos de passeio ultra robustos. O trabalho comercial sempre pagou as contas, mas muitos designers gráficos deixaram que ele se tornasse, em grande parte, o que os designers gráficos fazem. É assim que o mundo percebe o design. A energia e o tempo da profissão são consumidos na elaboração da demanda por coisas que, na melhor das hipóteses, não são essenciais.

Muitos de nós estamos cada vez mais desconfortáveis com essa visão do design. Os designers que dedicam seus esforços principalmente à publicidade, ao marketing e ao branding apóiam e implicitamente endossam um ambiente mental tão saturado de mensagens comerciais que está mudando a própria maneira como os cidadãos-consumidores falam, pensam, sentem, respondem e interagem. Em certa medida estamos ajudando a esboçar um código imensamente prejudicial e redutor do discurso público.

Há ocupações mais relevantes para a nossa capacidade de resolver problemas. Crises culturais, sociais e ambientais sem precedentes demandam a nossa atenção. Muitas intervenções culturais, campanhas de marketing social, livros, revistas, exposições, ferramentas educativas, programas de televisão, filmes e causas de caridade e outros projetos de design da informação precisam urgentemente do nosso conhecimento e ajuda.

Propomos uma inversão das prioridades em favor de formas mais democráticas, duradouras e úteis de comunicação – uma mudança de mentalidade que nos distanciará do marketing de produtos em direção à exploração e produção de um novo tipo de sentido. A abrangência do debate está encolhendo e precisa ser ampliada. O consumismo está vigorando sem contestação, precisando ser desafiado por outros pontos de vista expressos parcialmente por intermédio das linguagens visuais e recursos do design.

Em 1964, 22 comunicadores visuais assinaram o apelo original para que nossos conhecimentos e habilidades fossem utilizados de modo relevante. Com o crescimento explosivo da cultura comercial global, sua mensagem se tornou ainda mais urgente. Renovamos hoje o manifesto na expectativa de que não se passem outras décadas sem que seja levado a sério.

A atualização em 1999 do manifesto First things first  foi realizada por sugestão do designer Tibor Talman pelos editores da revista Adbusters com a colaboração do jornalista Rick Poynor. Foi publicada quase simultaneamente nas revistas Adbusters (Canadá), Emigre, AIGA Journal of Graphic Design (EUA), Eye Magazine, Blueprint (Inglaterra) e Items (Holanda), com as assinaturas de: Jonathan Barnbrook, Nick Bell, Andrew Blauvelt, Hans Bockting, Irma Boom, Sheila Levrant de Bretteville, Max Bruinsma, Siân Cook, Linda van Deursen, Chris Dixon, William Drenttel, Gert Dumbar, Simon Esterson, Vince Frost, Ken Garland, Milton Glaser, Jessica Helfand, Steven Heller, Andrew Howard, Tibor Kalman, Jeffery Keedy, Zuzana Licko, Ellen Lupton, Katherine McCoy, Armand Mevis, J. Abbott Miller, Rick Poynor, Lucienne Roberts, Erik Spiekermann, Jan van Toorn, Teal Triggs, Rudy VanderLan e Bob Wilkinson. 

Mais informações: www.kengarland.co.uk

 


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