Ano: VI Número: 56
ISSN: 1983-005X
Detalhar Busca





Jogo da velha e outros na Serrote

Ethel Leon

O número 16 da revista Serrote traz muitos excelentes textos, alguns dos quais de interesse direto de designers.

Um deles é o ensaio de Keith Houston sobre o sinal tipográfico #, Jogo da Velha, com saborosa pesquisa histórica e etimológica que remonta a Roma Antiga. O texto demonstra seu emprego atual em diferentes contextos, inclusive no poderoso mecanismo de comunicação eletrônica, o twitter e tem múltiplos significados, assim como codinomes tais como cerquilha, tralha, cercadinho e antífen.

Um dos trechos mais curiosos do texto diz respeito ao nome pseudo-erudito do jogo da velha: octothorpe. Depois de rebater as definições do American Heritage Dictionary e do clássico compêndio de Robert Bringhurst, Houston enxerga mais plausibilidade nas explicações que ligam esse nome à empresa Bell, de telefones.

A história é tortuosa e curiosíssima, pois rastreia a passagem das ligações telefônicas por pulso para o formato digital e todas as suas implicações, entre elas a escolha de sinais que pertenciam ao universo da escrita, codificados nos teclados de máquinas de escrever.

Um dos sinais adotados pela companhia telefônica foi o asterisco, rebatizado de estrela; já o jogo da velha receberia, de início, a alcunha de diamante, substituída por octatherp, numa operação que visava criar dificuldades para outros que não os anglófonos. A história tem, no entanto, mais atores e interpretações, que Houston não deixa de detalhar, inclusive na questão do nome, que continua confusa, com a adoção do termo octathorpe, de inúmeras possíveis origens.

Além do ensaio de Houston, há na revista outros muitos pontos de interesse. Belíssimos cartemas de Aloísio Magalhães ilustram o lindo ensaio de Elizabet Hardwick “Triste Brasil”. E o texto “Estética laissez-faire”, de Jed Perl, embora discuta o mundo da arte (com pertinentes e corrosivas ilustrações de Nelson Leirner) pode ser lido com referência ao mundo das mercadorias ‘de design’ que nos cercam, cada vez mais. Vejam só se a frase seguinte não caberia a muito do design contemporâneo: “Mais do que qualquer coisa, o que a estética laissez-faire ameaça, com sua insistência de que tudo pode, é a imaginação disciplinada sem a qual o artista fica desorientado, vagando no vazio.”

 


Comentários

Envie um comentário

RETORNAR

 
loading