Ano: II Número: 14
ISSN: 1983-005X
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Fogão ecoeficiente brasileiro

Giovana Perfeito, da Agência Sebrae

Aliar preservação ambiental e benefícios para a saúde, sem deixar de lado a cultura local de cozinhar em fogão a lenha. É essa a promessa do fogão ecoeficiente, criado para queimar menos lenha e livrar o ambiente doméstico da fumaça. Essa tecnologia social está sendo replicada em diversas comunidades do interior do Estado do Ceará pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis (Ider), uma organização não-governamental.

O fogão ecoeficiente já está em 20 municípios do Ceará, totalizando cerca de 4 mil unidades instaladas. E há um novo projeto para implantação de mais 18 mil fogões. Os municípios que receberam esse tipo de fogão estão, especialmente, em áreas de semi-árido do Estado e há locais sem acesso ao gás de cozinha e à energia elétrica. Nessas regiões, o fogão a lenha é usado em cerca de 95por cento das residências, seja por necessidade ou por questão cultural.

O assessor técnico do Ider, Ákilas Girão, explica que o kit do fogão é composto por estrutura metálica, massa e tijolo refratários. Todos os materiais são encontrados no Estado. “Temos a preocupação em movimentar a economia local. Por isso, também contratamos o pedreiro da comunidade onde o fogão será instalado, além da compra de materiais da região”, conta.

Na confecção do fogão há a colocação de uma chaminé para escoar a fumaça para fora da casa. Além disso, o compartimento que recebe a lenha fica todo fechado durante a queima da madeira. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estar exposto à fumaça dos fogões a lenha tradicionais duplica o risco de pneumonia em crianças. Dados da OMS apontam que, todos os anos, 1,6 milhão de pessoas morrem por doenças causadas pela fumaça da queima da lenha.

“Com a instalação do fogão ecoeficiente em casas com crianças e idosos, houve a redução de doenças respiratórias e de pele. Há relatos de pessoas que iam de três a quatro vezes por semana ao posto de saúde e reduziram as visitas a uma vez ao mês quando o fogão ecológico foi instalado”, destaca Ákila. Sem fumaça dentro de casa, as paredes e as panelas ficam limpas. Isso melhora o ambiente das casas e a auto-estima de seus moradores. Alguns chegam a reformar a casa quando recebem o novo fogão.

A dona de casa Sandra Silveira, de Viçosa do Ceará, a 300 quilômetros de Fortaleza, aprova o funcionamento do fogão. Ela mora em uma comunidade serrana que enfrenta o problema do desmatamento e da falta de lenha. “Recebemos o fogão em janeiro deste ano e gostamos muito do resultado”, diz.

Antes, dona Sandra usava mais o fogão a gás, mas tinha também o fogão tradicional a lenha. “Quando ganhamos o fogão ecoeficiente passei a usar só esse. Ele não faz sujeira em casa, não solta fumaça, economiza mais que o fogão a gás e, além disso, a comida tem mais sabor quando feita no fogão a lenha”, conta.


Preservação

O projeto do Ider e parceiros é voltado, especialmente, para comunidades sem acesso a gás de cozinha, onde o uso intensivo da lenha é fator determinante para o desmatamento. Por isso, o retorno do fogão ecoeficiente para o meio ambiente é muito positivo. Esses fogões reduzem em até 60% o consumo de lenha graças ao melhor aproveitamento do calor.

A lenha é fonte de energia renovável, desde que seu consumo seja racional. E, especialmente, no semi-árido brasileiro ela precisa ser preservada para combater a ameaça de desertificação. Por isso, ao mesmo tempo em que instala os fogões ecoeficientes, o Ider também faz um trabalho de conscientização com a comunidade. São atividades de educação e preservação ambiental para despertar a necessidade de cuidado com o meio ambiente.

O modelo do fogão ecológico surgiu em países como Índia e China e foi adaptado às características, aos materiais e às necessidades do Brasil. Além do Ceará, esses fogões já chegaram também à Amazônia. Em uma parceria com a Sociedade Civil Mamirauá, 20 unidades foram instaladas em residências de comunidades ribeirinhas nas reservas Arunã e Mamirauá no Estado do Amazonas. Além disso, foi desenvolvido um forno eficiente de grande porte para cinco casas de farinha da região.

Esse projeto já recebeu a certificação da Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social e foi finalista, neste ano, do Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, promovido pelo Governo Federal em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

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(Envolverde/Agência Sebrae)

 


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