Ano: VII Número: 62
ISSN: 1983-005X
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O design das duas Alemanhas

Ethel Leon

A Neue Sammlung da Pinakothek der Moderne, de Munique, Alemanha, acaba de abrir na sua unidade de Nurembergue, uma exposição de grande interesse. Trata-se do confronto Oriente e Ocidente, nome da mostra, mais precisamente um cotejo do design realizado na República Democrática Alemã (oriente) e a República Federal da Alemanha (ocidente), os dois países que existiram do fim da Segunda Guerra Mundial até 1990.

Só agora, 26 anos depois da queda do Muro de Berlim, está sendo possível tematizar aspectos da vida cotidiana das duas Alemanhas e, claro, o design está no centro desses estudos. Enquanto se conhecem os produtos emblemáticos da Alemanha Ocidental, fartamente exibidos na imprensa e em mostras de museus do mundo ocidental, desconhece-se o que foi feito na outra Alemanha.

Entre os países do bloco soviético, a RDA era o mais industrializado. Além disso, a importante escola Bauhaus de Dessau pertencia à República Democrática, assim como a manufatura de Meissen, responsável por centenárias porcelanas. O país desenvolveu muitos projetos, entre os quais eletrodomésticos, têxteis, objetos de vidro e porcelana, móveis e automóveis, entre outros, que foram praticamente esquecidos depois da reunificação do país.

Hoje o grupo de pesquisadores da Neue Sammlung  vem se preocupando em coletar esses objetos do oriente e datá-los, tentando perceber aproximações no design dos dois países. Apesar da grande cisão ideológica e política das duas Alemanhas, é curioso perceber a aproximação de traços de seu desenho industrial.

Em conversas que tive com a curadora de design do museu, Corinna Roesner e com o coordenador do curso de design da Technische Universität de Munique, Fritz Frenkler,  ficou claro que durante os anos pós 1989 houve uma espécie de soterramento do modo de vida da Alemanha ligada ao bloco soviético, como se ela nada houvesse produzido, além dos tão ridicularizados veículos Trabant.

É curioso observar – e a mostra atual faz isso deliberadamente – a similaridade de certos produtos do leste e do oeste, caso dos alto-falantes de Dieter Rams para a Braun, de 1958; e do alto-falante de  Karl Clauss Dietel e Lutz Rudolph da Heliradio, de 1963-1965. (ver foto acima).

Também vale a pena ver com atenção a elegância do regador desenhado por Klaus Kunis na Alemanha Ocidental e  seu foco na indústria química, por ser feito inteiramente de plástico (foto).

Há nas duas Alemanhas o ideal de uma linguagem que privilegia o mínimo, antiornamental. Também se sabe pouco dos intercâmbios dos dois países, que se realizaram, inclusive com a cessão de direitos de alguns produtos do Oeste para o Leste.

Segundo a curadoria, na perspectiva de hoje vê-se  o design da Alemanha Oriental como particularmente criativo e inovador, sobretudo porque sujeito a grande carência de matérias-primas. 

 


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