Ano: IV Número: 40
ISSN: 1983-005X
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Sustentável na prática
Walter Spina Jr.

Livro: Design Gráfico Sustentável Autor(a): Brian Dougherty Editora: Rosari

Postado: 10/06/2011

   

Recentemente foi traduzido e publicado no Brasil pela editora Rosari, o livro Design Gráfico Sustentável (Green Graphic Design). Escrito pelo designer norte-americano Brian Dougherty, o texto se baseia na experiência da Celery, escritório de design da qual é sócio e que desenvolve, desde 1997, trabalhos de branding e design gráfico ligados à sustentabilidade ambiental.

Dougherty discute questões que, inicialmente, parecem amplamente difundidas na cultura projetual dos designers gráficos. Mas o autor aprofunda certos assuntos pertinentes e que nem sempre são conhecidos ou cuidadosamente analisados por grande parte dos designers. Os processos de descarte de papel e plástico, dois dos materiais mais utilizados pelos profissionais de design, e as pesquisas de matérias-primas menos agressivos ao ambiente, entre eles.

O autor apresenta a metodologia de projeto utilizada pela Celery, que consiste em pensar na vida útil do produto de trás para frente, ou seja, do seu descarte até a sua elaboração. Até ai nada muito original, quando se fala em tese sobre o assunto. Mas é nessa linha de raciocínio que ele desenvolve as discussões, fazendo uso de alguns projetos realizados pela empresa, os problemas enfrentados, as soluções, os êxitos e as falhas, o que torna palpáveis e mais fáceis de serem compreendidos os temas abordados.

O autor questiona a sustentabilidade dos projetos de design apresentando fatores que envolvem tanto as responsabilidades das empresas produtoras das matérias primas, e portanto, dos designers que as escolhem, e as possibilidades de reuso e descarte do material/produto final. Apesar de a sustentabilidade ter ganhado mais força nas últimas décadas, muitas das empresas adotam soluções superficiais, levando em consideração apenas algumas questões mais visíveis aos consumidores e negligenciando outras fundamentais, que comprometem os benefícios almejados inicialmente.

Dentre os exemplos de sucesso e insucesso estão os relatórios de gestão anuais da empresa HP e a produção de uma capa/pasta de um guia de construção sustentável para o condado de Alameda, nos EUA. O projeto da HP mostra uma mudança de postura da empresa em relação ao consumo de material impresso e um projeto de design consistente, que permitiu a desmaterialização gradual dos relatórios desde 2002. Assim, a empresa reduziu ao mínimo a comunicação impressa ao mesmo tempo em que a integrou às mídias digitais.

Já o caso do condado de Alameda deixa evidente como uma pequena mudança de formato da capa de um impresso pode interferir no consumo de papel e energia em seu processo de impressão. A Celery desenvolveu uma capa, com uma bolsa interna para a colocação de folhas de papel. Porém,o  desperdício de papel era muito grande. Uma mudança de formato nas edições seguintes melhorou o aproveitamento das folhas de papel, permitindo a impressão de quatro pastas, em vez de duas, da versão anterior.

Uma das questões centrais do livro, que o  autor ressalta em diversos momentos, é a necessidade de maior participação dos designers nas tomadas de decisões das empresas. É responsabilidade do designer  sugerir, colaborar e alertar seus clientes para a construção das estratégias da marca e/ou determinado produto. Para Dougherty, o designer gráfico é um dos principais agentes de mudança, responsável pela criação da forma do produto (como suporte de comunicação) e, sobretudo, por exercer grande influência no modo como os usuários interagem com ele.

Certamente, essa maior participação nas tomadas de decisões não é fácil. Muitas vezes o designer gráfico só é contratado para colaborar no desenvolvimento do produto ou serviço quando tudo já está definido pelo contratante. Nesse momento, muitas das decisões que poderiam contribuir para que as ações da empresa tivessem menor impacto ambiental já foram tomadas e modificá-las exigiria certo esforço. Porém, mesmo nessa situação, o designer deve indicar soluções e melhores caminhos a serem seguidos, afirma o autor.

Um dos conselhos de Dougherty aos designers gráficos é procurar  aproximar-se  e trabalhar com empresas e parceiros que conheçam alguns conceitos sustentáveis ou que possivelmente sejam mais abertos a propostas, como as organizações sem fins lucrativos.

O livro é baseado nas experiências e dilemas profissionais enfrentados por Dougherty e sua equipe e, por isso, soa um tanto quanto autopromocional. Porém, apresenta e discute questões fundamentais e ainda hoje pouco presentes no dia-a-dia dos designers. Faz isso não só através dos cases da empresa, mas compartilhando dados de pesquisas de materiais e processos produtivos sustentáveis. Por isso, Design Gráfico Sustentável se torna leitura interessante aos estudantes, recém formados e profissionais de diversas áreas relacionadas a comunicação e produção de materiais impressos.


 

 


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