Moderno, acessível e brasileiro
Ótima notícia para quem gosta de móveis modernos brasileiros: a Atec relança na Paralela Gift, em São Paulo, de 13 a 17 de agosto, uma linha de mobiliário da lendária empresa Mobília Contemporânea, design de Michel Arnoult, mestre do design brasileiro.
São móveis multifuncionais, que servem para residências e consultórios e mesmo outros espaços comerciais. Entre eles, a muito conhecida poltrona Ouro Preto, elegante assento cujas percintas são de fio de pesca de nylon e os estofados finos e elegantes. Além da poltrona, fazem parte da linha dois sofás (de dois e três lugares) cadeiras com e sem braços, mesas de jantar em dois tamanhos, mesas de centro e canto e um carrinho de chá.
Depois de pesquisar vários designers brasileiros, os diretores da Atec, João Figueira de Mello e Silvia Serber, optaram por começar sua produção de design original com Michel Arnoult (ver texto de Yvonne Mautner abaixo). “Ele era um exímio designer que pensava no móvel industrializado”, diz Silvia, “o que nos motivou a fazer esses lançamentos, com a perspectiva de oferecer móveis bem desenhados a preços acessíveis.”
A Atec é representante da empresa norte-americana Herman Miller, respeitada em todo o mundo por ter editado clássicos do design como móveis de Charles e Ray Eames, peças de George Nelson e a cadeira Aeron, que mudou o paradigma dos assentos de escritório. Ao adotar o lema da Herman Miller, de “original design”, João Figueira e Silvia Serber procuraram no Brasil peças para ser oferecidas ao público que aprecia desenho de qualidade.
Quando decidiram pelos móveis de Arnoult, entraram em contato com a família do designer, falecido em 2005, e estabeleceram contrato de licença de direitos. A matéria-prima escolhida para a fabricação da nova linha foi o eucalipto, tingido na cor da imbuia, madeira utilizada pela empresa Mobília Contemporânea nos anos 1960 e 1970. Já nos anos 1990, Arnoult defendia a produção de móveis de eucalipto ou teca, madeiras de reflorestamento, para não aumentar o desmatamento das florestas nativas brasileiras. Com o eucalipto tratado, a Atec dá garantia de dois anos para os produtos.
O desenho das peças foi refeito, graças a móveis encontrados com amigos, familiares e colecionadores, já que não havia registros dos desenhos de fabricação. O revestimento dos estofados é de tecidos rústicos e a idéia é que os clientes escolham os têxteis de sua preferência.
A releitura não parou nos móveis. A marca da empresa Mobília Contemporânea, desenhada pelo artista concretista Willys de Castro, foi adaptada pelo escritório Occa e ganhou um M, marcando a nova fase de produção e os novos conceitos de distribuição dos móveis.
Depois dos móveis de Arnoult, que ganharam um showroom próprio, a Atec pretende investir no design nacional. “Queremos descobrir outros autores, que pensem o desenho racionalizado da produção em série e não o artesanal que sai caríssimo”, diz Silvia Serber.
Michel Arnoult
Yvonne Mautner
Michel Arnoult (1922-2005) foi um exemplo incomum na área de design do mobiliário no Brasil; pioneiro na produção industrial, seriada, de móveis componíveis e desmontáveis, lançou seus produtos no mercado brasileiro na década de 1950, em consonância perfeita com o ideário industrialista da época. Propiciou, assim, à classe média acostumada à compra de móveis caros por encomenda, a opção de móveis inteligentes, leves, simples e modernos.
Às vésperas do entusiasmo desenvolvimentista da era Kubitchek, associou-se a Norman Westwater e Abel de Barros Lima para fundar a empresa Mobília Contemporânea (1954), tornando-se, por meio de seus produtos, um marco na história do design no Brasil.
A forma de trabalho na Mobília Contemporânea retratou bem o resultado positivo da relação direta entre design e organização do chão de fábrica: potencializou o processo de industrialização; imprimiu rigor ao processo de racionalização, necessário à seriação; lançou novas formas de comercialização e de marketing; e as inovações não se deram apenas na produção/comercialização: Michel foi também pioneiro na adesão às madeiras de reflorestamento.
Em seu trabalho encontramos, com transparência, o conceito de design – desenho e produto, com todas as implicações de fabricação, são uma coisa só. O valor estético advém principalmente da estrutura aberta, clara, da unidade entre o externo e o interno, da fidelidade à natureza dos materiais e de sua adequada coordenação.
A Mobília Contemporânea foi, sem dúvida, um exemplo da possibilidade de desenvolver a produção do setor moveleiro com o patamar tecnológico oferecido pela indústria de máquinas da época, com soluções estéticas, originais e de qualidade. Esta ‘lógica industrial’, mesmo nos dias atuais, não é usual nas pequenas e médias indústrias de móveis.
Sempre à frente de seu tempo, Michel preconizava que o Brasil deveria incentivar o design e a produção moveleira nacionais para cobrir a demanda do mercado interno – em vez de exportar matéria prima (a enorme diversidade de madeiras nativas) e trabalho barato em produtos copiados ou desenhados fora – e, com o mesmo princípio, atingir também a demanda de exportação; assunto atual das primeiras páginas de jornal: “indústrias chinesas compram madeira no Brasil, ..., industrializam o produto e o revendem,... para mercados importantes como os EUA” (FSP 03/08/08 B1 – Recuperar tempo perdido será difícil, afirma indústria).
Mais informações:
www.mobiliacontemporanea.com.br
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