Revista Gráfica
Ethel Leon
O que foi que fiz para merecer esta revista na minha mesa? Essa é a pergunta que faço, extasiada, toda vez que recebo a revista Gráfica, do legendário Miran, pseudônimo de Oswaldo Miranda, personagem tão fugidio quanto o também paranaense Dalton Trevisan, o escritor "vampiro de Curitiba".
A revista continua de arrebentar. Organizada como portfólio, reúne substância de altíssima qualidade e de diversas matrizes. Não se trata, no entanto, de peça promocional, mas de documento gráfico, em todos os sentidos.
Primeiro, há a seleção do material, feita de modo a ampliar o conhecimento das artes gráficas e do universo a seu redor. Miran tem prazer confesso em publicar bons trabalhos; em tirá-los do circuito dos jornais e revistas de bancas, geralmente mal impressos e onde desenhos ou fotos são apenas "ilustrações de textos".
Em seguida, está a disposição desse material nas páginas da revista de grande formato quadrado; a qualidade da impressão e, mais importante, o êxito em reunir todas essas características: a revista apresenta noção impressionante de unidade, apesar não só da diversidade de seus conteúdos, mas também dos diferentes tratamentos tipográficos e de paginação, que excluem qualquer monotonia. (Leia o artigo de Daniele Rodrigues de Oliveira e Zuleica Schincariol na seção Ensaios)
Uma quinta qualidade, inestimável, é a proposta da revista com relação à sua leitura e apreciação. A Gráfica dá condições para que se conheça um trabalho, dedicando-lhe muitas páginas. É uma revista repleta de detalhes cuidadosos, que denotam calma ausente do mundo contemporâneo. Parece destinada àqueles momentos de desejada solidão, de distanciamento da velocidade da vida cotidiana. Se a maioria das revistas e jornais são uma espécie de autódromo visual, a Gráfica se aproxima do álbum, de uma espécie de caderno de preciosidades, que não se lê como a um livro, fazendo refletir sonoramente as palavras, mas sim fixando o olhar, deixando que as imagens nos capturem, pelo tempo que quiserem.
Nesse número recém lançado, 62, há material para apreciar por muito tempo. Trabalhos dos ilustradores Samuel Casal e Bruno Maron; mostra do atual design russo (impressionante ver como ecoam os ensinamentos dos construtivos); fotos de Cecil Beaton, reproduções de estudos arquitetônicos de Michelangelo; várias páginas e um cartaz dedicados ao designer suíço Domenic Geissbühler.
Há alguns números, a revista introduziu uma nova seção que celebra os livros de arte brasileiros, cujo design é reconhecido. Nesse número, o escolhido é Rugendas e o Brasil, da Editora Capivara, projeto gráfico de Victor Burton e Ângelo Bottino, ao qual a revista dedica 22 páginas.
É muita, mas muita coisa boa, convenhamos.
Que a Posigraf continue imprimindo (cada vez melhor) essa impressionante revista, que Miran bancou sozinho durante tanto tempo !
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