Ano: I Número: 8
ISSN: 1983-005X
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A redescoberta da Chifruda

A marcenaria carioca Mendes-Hirth acaba de reeditar a poltrona Chifruda, criada por Sergio Rodrigues em 1962. Nessa época, Rodrigues era dono da Oca, loja de móveis modernos, e chamou alguns arquitetos a participar de uma mostra cunhada O Móvel como Obra de Arte.  Lucio Costa, Sérgio Bernardes, Arthur Lício Pontual, Marcos Vasconcelos e Bernardo Figueiredo foram seus convidados. Mas ele também decidiu fazer uma poltrona escultórica, desenho próprio, peça única, de jacarandá e couro, como outros tantos de Rodrigues, inclusive a Mole.

Fernando Mendes de Almeida, um dos sócios da Mendes-Hirth, ouviu de Rodrigues que esta peça foi comprada para uma sofisticada garçonnière e, desde então, não se ouviu mais falar dela. Em 2008, na onda de redescoberta do design moderno brasileiro pelos modernariatos, a Chifruda, como ficou conhecida no escritório de Sérgio Rodrigues, reapareceu e foi adquirida por um norte-americano pela bagatela de 30 mil dólares.

No entanto, antes de partir para os Estados Unidos, pousou no escritório do autor, que convidou a dupla da Mendes-Hirth para ver a cadeira e tirar as medidas, recuperando o projeto original, que nem ele tinha. Foi feita, nas próprias palavras de Roberto Hirth, uma espécie de arqueologia do design.

A partir de agora, a Chifruda passa a ser reeditada em peças numeradas, conforme os padrões da marcenaria praticada por Mendes-Hirth, que destaca procedimentos nobres, encaixes e tratamento caprichado das madeiras.

A Mendes-Hirth tem várias peças de mobiliário de madeira em seu portfólio, algumas exemplarmente modernas como as poltronas de Bernardo Figueiredo e a cadeira de balanço Verão, desenvolvida internamente. Em vários de seus projetos, os sócios, Roberto, formado em Desenho Industrial,  e Fernando, arquiteto e designer, optam por um discurso da própria marcenaria, fazendo sobressair encaixes e detalhes construtivos. Têm inegavelmente um amor extremo ao ofício, e dialogam com várias peças da produção moderna, caso da cadeira Pescador.

Lançam-se em aventuras de engenhosidade, como as cadeiras-mesa, incursão no desenho da dupla-função, que tomou conta do cenário do design jovem mundial por alguns recentes anos. O cuidado com os detalhes, obsessão de artesãos e designers, fica muito claro na coleção de canivetes e facas com funções específicas, como cortar e descascar frutas ou abrir ostras.

A Chifruda é teatral, até mesmo irônica, ao aproximar-se de tronos e fazer a testeira em formato de grande corno. Nesse sentido, afasta-se do ideário moderno de seu período. No entanto, o próprio Rodrigues, em alguns de seus móveis, tem um traço do exagero dos materiais, que aqui, está presente nas formas, como uma antecipação das citações ecléticas do pós-moderno. "Verdadeiro trono de Calígula", sentencia Hirth. (EL)

 


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