Designing pornotopia, de Rick Poynor
Gilberto Paim
O dólar baixo tem permitido que livrarias brasileiras abasteçam generosamente os seus estoques com títulos importados. Nas estantes de arte, design e arquitetura os livros estrangeiros disputam cada centímetro com os nacionais. Ao menos é o que se observa em algumas das mais recentes e espetaculares livrarias do Rio e São Paulo, impensáveis há dez anos atrás, onde se vai cada vez mais para “ler e ser lido” – na feliz expressão de Rui Campos, sócio da Livraria da Travessa.
Há nelas uma profusão de belos livros nos quais a imagem é a grande protagonista. Destacam-se os volumosos coffee-table books, destinados a enfeitar mesas de centro, onde são eventualmente folheados, porém raramente lidos. Seguindo o mesmo filão, estão os livros-revista fartamente ilustrados, que dispensam a capa dura e têm formato mais modesto, nos quais o texto é apenas uma discretíssima moldura para as imagens, quando sequer existe. O livro-revista adotado, por exemplo, pela editora Taschen em algumas coleções, resulta da aproximação de dois produtos culturais: o livro, ao qual pede emprestada a forma e o espaço tradicional de comercialização, e a revista semanal ou mensal recheada de imagens, cujo texto é irrelevante.
O livro-revista não consta, porém, da lista de fenômenos culturais “hifenizados”, que Rick Poynor analisa em seu artigo Hyphenation Nation, mas poderia. O jornalista inglês lembra que, nos anos noventa, graças à exaustão das vanguardas, a aproximação inusitada entre produtos culturais ou entre gêneros artísticos foi recebida pelos teóricos do pós-modernismo como potencialmente renovadora. Uma infinidade de novas realizações surgiu das possibilidades combinatórias dessa estratégia. Diante nos novos híbridos, os critérios de qualidade perderam a relevância, pois estavam fundamentados na especificidade e na autonomia dos gêneros. Na ausência desses critérios, prevalece a rentabilidade comercial e financeira. Hoje, a principal hifenização é aquela que estreita os laços entre comércio e cultura.
Por essa razão, é urgente, segundo ele, redefinir as fronteiras entre arte e design, e entre publicidade e design. Não se trata de purificar o design ou reaproximá-lo de suas fontes modernistas – Poynor considera o neomodernismo previsível e esquemático. Mas sim de enfraquecer o design como catalisador do consumo, e estimular o seu apoio às causas progressistas e à participação na vida pública.
Hiphenation nation faz parte da coletânea Designing pornotopia (Princeton University Press, New York, 2006 ), não facilmente encontrável nas livrarias brasileiras. O ensaio que dá título ao livro aborda a promiscuidade entre design e pornografia nos últimos anos. São ao todo vinte e oito textos de um expert em comunicação visual contemporânea, originalmente publicados em revistas especializadas, acadêmicas ou não, cuja leitura é de grande interesse, especialmente para os que lamentam a retração da reflexão crítica. Bem ilustrado, o projeto gráfico de Nick Bell Design remete à swinging London dos anos sessenta, palco do manifesto crítico First Things First (atualizado em 2000 com a colaboração de Poynor), e está plenamente a serviço do texto.
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Comentários
Ethel Leon
22/08/2008
Abel, vamos estudar o assunto com carinho. Estamos aprendendo a fazer revista eletrônicae sempre quisemos um site limpo, sem luzinhas piscando, janelinhas se abrindo etc..
Achamos que a Agitprop é uma revista de leitura para valer e não apenas de "visualização", como diz o jargão internauta.
E também sabemos que muitos leitores imprimem os artigos para lê-los com calma.
Precisamos desse retorno dos leitores como você para nos ajudar a melhorar a publicação.
Abel Ambrósio da Silva Filho
16/08/2008
Por que além das Envie um comentário e RETORNE, não são oferecidas duas outras opções: Imprimir e Enviar por e-mail?
Abel
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