Ano: I Número: 9
ISSN: 1983-005X
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Em alta, nosso design dito pobre

Leonardo Massarelli com a colaboração de Candido Azeredo

Muito se discute sobre sustentabilidade, ecodesign, e afins, mas poucas conclusões são consensuais. O assunto é polêmico e ainda restam muitas dúvidas sobre materiais e processos que são nocivos ao meio ambiente. A única coisa que sabemos ser um caminho seguro para contribuir com o mundo é a readequação do consumo. Nunca foi mais verdadeiro do que é hoje a famosa frase “menos é mais”.

Nesse sentido, podemos estar à frente de outros países e não nos demos conta disso. Quando olhamos para um produto importado ou, de forma geral, para a cultura material dos países desenvolvidos podemos perceber a qualidade, riqueza e complexidade desses produtos. Os consumidores desses países podem comprar mercadorias, a preços bem acessíveis, extremamente elaboradas em termos de projeto e produção. São inúmeras tecnologias, materiais, moldes complexos, componentes e processos aplicados no desenvolvimento desses bens.

Como criadores, temos um pouco de inveja dessa realidade. Entretanto, as condições adversas a que fomos sujeitados pela indústria brasileira, deixaram-nos um legado importante. Nossos projetos são forçados, pela lei do mínimo investimento, a reduzir componentes, moldes, materiais e processos de produção para que alcancem um custo competitivo. Em decorrência disto, acostumamo-nos a reduzir ao máximo os gastos de nossos clientes. Projetamos buscando a simplicidade. Esforçamo-nos para que o produto tenha um preço acessível ao seu público, mas sem comprometer sua eficiência de uso, sua produção e sua função estética. Temos a capacidade de lidar com essa realidade em grande estilo. A escassez de recursos em tudo que envolve criação e desenvolvimento de novos produtos, como confecção de protótipos, pesquisa de mercado, certificações etc., fez do designer brasileiro um profissional extremamente flexível, ativo e criativo.

Habituado a essa dura realidade de projeto, o designer brasileiro está preparado para o novo ciclo de desenvolvimento mundial que precisa resolver o dilema de como atender, de forma “sócio-ambientalmente” sustentável, à crescente demanda. Dentro desse novo cenário global, essas características, às quais estamos acostumados, estão-se tornando grandes diferenciais competitivos.

Indiscutivelmente, essa nossa capacidade se alinha com os princípios e preocupações de sustentabilidade. Reduzir o impacto ambiental pela economia de processos, energia gasta na fabricação, logística de componentes e redução de materiais são, sem dúvida, práticas às quais estamos acostumados. O custo de um produto está intimamente relacionado com esses aspectos e nossos empresários, ainda de forma inconsciente, demandam esses conhecimentos em seus projetos para alcançar o êxito comercial.

Também, esse perfil do designer brasileiro se alinha a outra demanda global: oferecer produtos, a preços acessíveis, que atendam às necessidades específicas dos novos e volumosos consumidores de baixa renda nos países em desenvolvimento. Nesse sentido, projetos com custo adequado tornam-se extremamente interessantes aos empresários do mundo inteiro, que correm ansiosos para conquistar esse público.

O knowhow adquirido com a realidade do mercado brasileiro faz que o nosso design torne-se um grande referencial de conhecimento para o mundo. Já estamos inseridos no novo contexto contemporâneo que precisa satisfazer uma camada cada vez maior de novos consumidores e, ao mesmo tempo, precisa se preocupar com a responsabilidade sócio-ambiental. Talvez essa seja a grande oportunidade do design nacional encontrar seu lugar ao sol e de conhecermos a tal cara do design brasileiro.

 


Leonardo Massarelli é sócio-diretor e Candido Azeredo é diretor de projetos do escritório  NóDesign, de São Paulo.

 


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