Bienal de Saint Étienne 2008: histórico comentado
Ethel Leon*
A Bienal, que nasceu alternativa em 1998, ganha instalações generosas, direção profissional e abarca cada vez mais empresas e instituições. Idealizada a partir da escola de belas artes da cidade, a Bienal de St. Étienne foi, durante alguns anos, o ponto de encontro de alternativos.
Muitos jovens recém-formados faziam do espaço uma espécie de grande bazar, mesmo que as peças não fossem comercializadas, só expostas. A escola promoveu grandes exposições retrospectivas ou propositivas, entre as quais a do mobiliário de Pierre Guariche, antigo colaborador esquecido de Le Corbusier; ou dos móveis comercializados nos anos 1960 pela rede de supermercados Monoprix; os móveis do artista americano minimalista Donald Judd; uma grande retrospectiva de Bruno Munari, entre outros.
A cidade, que fica a 60 km a sudoeste de Lyon, iniciou sua Bienal de Design no mesmo ano que a França abrigava a Copa do Mundo, em 1998. Saint Étienne foi um dos polos a receber os jogos e iniciou um trabalho urbanístico, coordenado pelo consultor Jean-Pierre Charbonneau, que reabilitou as linhas de bondes, ampliou calçadas e revalorizou o centro da cidade; requalificou pequenos espaços urbanos, ditos de vizinhança. Foram obras nada espetaculares que, no entanto, transformaram a cidade, antes conhecida como o patinho feio da França.
A Bienal, comandada pelo visionário diretor da escola, Jacques Bonnaval, tendo como produtora internacional a relações públicas Josyane Franc, estabeleceu um programa baseado na então não desgastada multiculturalidade. Uma Bienal de Design recebia, diferentemente de outras do circuito Nova York/Londres/Paris/Tóquio e Milão trabalhos do Irã, da Guatemala, do Uruguai, do Senegal...
Das primeiras edições, as empresas pouco participaram. A maioria dos expositores eram designers jovens, adeptos da auto-produção. A escola, em acordo com a prefeitura, no entanto, iniciou um plano de contatar as indústrias regionais e nacionais que, aos poucos, foi surtindo efeito.
O grande exemplo desse contato foi a fábrica de chocolates Weiss. Num primeiro momento, a escola conseguiu convencer a empresa a apresentar nova embalagem. Aos poucos, respondendo às necessidades de competição feroz no mercado europeu, a Weiss percebeu os alcances do design e passou não só a modificar embalagens, mas a redesenhar os próprios chocolates e a instituir loja/conceito.
Os museus da cidade se incorporaram ao evento. O Museu de Arte Moderna, com uma importante coleção de arte moderna e contemporânea, de fotografia e de design, iniciada há apenas 20 anos, realizou exposições memoráveis, como a realizada por seu diretor Jacques Beauffet, que estabeleceu nexos entre a produção artística e o design industrial.
O pequeno Museu da Arte e da Indústria, além de manter exposições permanentes dos métiers industriais da cidade – tecidos, rendas e fitas; bicicletas; e armas; passou a promover exposições de design contemporâneo ligado a esses fazeres.
O Museu da Mina, belíssimo exemplar da antiga mina de carvão, fechada logo após a II Guerra Mundial, se tornou, além de um exemplar da atividade fabril com a qual nasceu o design industrial, um local de exposições de arquitetura e urbanismo.
Além disso, a proximidade com a cidade de Firminy e com o convento de La Tourette possibilitaram que a Bienal de Saint Étienne estabelecesse vínculos com dois sítios corbuseanos de grande interesse. A Igreja Saint-Perre de Firminy Vert, cuja obra esteve interrompida durante 30 anos, foi terminada em 2006 e abriga hoje uma exposição de móveis e luminárias desenhadas pela equipe do arquiteto. Além da igreja, Firminy sedia o mais vasto conjunto urbano realizado por Le Corbusier na Europa, incluindo uma unidade de habitação, um centro cultural e um centro esportivo. O convento dominicano de La Tourette fica a cerca de uma hora de distância de Saint Étienne e já foi incorporado às visitas e às atividades da Bienal.
Com o crescimento e a importância internacional que a Bienal passou a adquirir, a prefeitura, com apoio do Ministério da Cultura, lançou um conjunto de grandes obras, a Cité du Design, que ocupa as antigas intalações militares da cidade, especialmente sua fábrica de armas. Para lá devem se mudar a Escola de Belas Artes (que compreende o curso de design) e também laboratórios de pesquisa ligados à inovação industrial.
É nessa Cité – e não mais no acanhado parque de exposições – que a Bienal se realiza desde 2006, quando assumiu a direção do evento a designer parisiense Elsa Francés, que profissionalizou toda a estrutura, agora não mais subordinada à escola. Essa profissionalização corresponde a um novo momento, em que as empresas passam a estar muito mais presentes e também em que as exposições com caráter de pesquisa e prospecção dão a tônica da Bienal.
* Ethel Leon visitou a Bienal Internacional de Design de Saint-étienne a convite da Cité du Design.
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