Ano: II Número: 13
ISSN: 1983-005X
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Mingei, do artesanato ao design

Ethel Leon

Foi encerrada há alguns dias a exposição O espírito Mingei no Japão, do artesanato ao design, curadoria de Germain Viatte, apresentada no museu parisiense Quai Branly, que se ocupa do diálogo entre a produção contemporânea e saberes milenares de todos os continentes.

O interesse por essa pequena e linda mostra é grande, já que estavam lá muitos exemplos de objetos mingei, que o artista e homem de cultura Soetsu Yanagi (1889-1961) definiu como artesanato popular, ou seja, “tudo que é necessário para a existência cotidiana: roupas, móveis, louças, material de escrita...” Trata-se de objetos produzidos em escala, baratos e cuja propriedade essencial, segundo Yanagi, é a honestidade com relação a essa finalidade de uso.

Yanagi colecionou esses objetos, encontrando neles qualidades de beleza, que tornam as relações entre homens e objetos mais respeitosa e densa. As peças formaram um museu e suas cores e formas não vulgares, seriam um mote, segundo ele, para reavivar amplas tradições camponesas, solidificando ligações entre trabalho e família, desdenhando a fama dos criadores e restabelecendo projetos de criação coletiva.

Os sonhos de Yanagi não se realizaram, é fato. Mas sua busca por esta essencialidade repercutiu em Sori Yanagi, o designer, seu filho. E também em criadores ocidentais como a francesa Charlotte Perriand, o alemão Bruno Taut e o nipo-americano Isamu Noguchi.

A mostra percorreu objetos utilitários do século XVII até o XX em cerâmica, ferro e madeira. Recipientes de vários tipos, móveis, pratos, chaleiras e bules, urnas funerárias e também gravuras e esculturas. Os quimonos, roupas cotidianas, as capas de chuva foram recolhidos por Yanagi dentre comunidades que mantiveram intactas técnicas de tecelagem e estamparia que privilegiavam cores sutis e motivos medievais.

Interessantíssimo ver como a arquitetura japonesa e o espírito mingei repercutiram na visão de espaço de Charlotte Perriand e de Bruno Taut e também nos móveis projetados pela arquiteta francesa depois de sua estadia no Japão. As luminárias Akari de Isamu Noguchi são muito conhecidas, mas vê-las nessa exposição dá um sentido muito mais intenso à procura de Noguchi por essa simplicidade construtiva e poética de seus objetos.

Mas é em Sori Yanagi, com a atualização possibilitada pela indústria moderna, que fica evidente a manutenção da mentalidade mingei, nos tamboretes Borboleta, de laminado moldado, e nos Elefante, de poliéster, no aparelho de chá e nas tigelas industrializadas, que mantém, no entanto, esse caráter de um projeto de respeito, vivacidade e que desafia o encurtado tempo contemporâneo.

 


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