Roberto Sambonet, breve comentário
Ethel Leon
A mostra Roberto Sambonet, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, vale a pena ser vista por todos que têm interesse no moderno, na visão de síntese das artes e também no percurso de um artista/designer italiano, cuja trajetória de trabalho vai dos anos 1950 aos 1990. São desenhos, aquarelas, pintura, design em metal, vidro, plásticos, design gráfico – especialmente belos cartazes, que formam um conjunto no qual são fáceis de entender as articulações, os raciocínios do bidimensional para o tridimensional, assim como as pesquisas de cores e linhas.
Sambonet fez parte daquele conjunto expressivo de artistas intelectuais da Itália do pós-guerra que se uniram a pequenas manufaturas – no caso de Sambonet foi a metalúrgica de sua própria família – e fizeram o design italiano. Depois de passar alguns anos em São Paulo, de 1948 a 1953, trabalhando no Masp como professor de desenho livre, voltou para a Itália e se integrou ao movimento do design de então. Munari, Rogers, Sottsass, Zanuso, Sapper, Maldonado estão presentes na exposição, seja em retratos feitos por Sambonet, seja na co-autoria de projetos.
A geração incrivelmente profícua esteve presente em campos que hoje são tratados como autônomos, mas que, para eles, eram apenas desmembramentos particulares de certas poéticas, buscadas obsessivamente. Sambonet não se aproximou dos artistas da arte programmata, e sua formação acadêmica se faz sentir na pintura e mesmo em algumas peças de vidro para a Baccarat.
No entanto, há uma prevalência de um vocabulário moderno, sobretudo nas peças gráficas italianas (as brasileiras transpõem soluções de sua pintura geometrizada) e nas soluções de design industrial, embora, segundo reproduzido no catálogo, Sambonet considerasse a indústria um mero instrumento. Fazia eco, portanto, a tantos intelectuais do período, para quem a indústria é incapaz de gerar cultura própria.
A mostra vale a pena em seu conjunto. O partido expográfico (de Pedro Mendes da Rocha) dá uma definição de percurso, abdicando do caráter ‘casa’ do MCB, sempre incômodo. A definição das salas por núcleos de interesse de Sambonet, não deixa de apontar certa cronologia didática, absolutamente pertinente. Difícil ver uma exposição de design tão bem pensada e feita, sem textos a mais ou a menos, com espaços de respiração, mas sem a subserviência ao modelo moderno, da suspensão de cada obra em espaço incorruptível, porque severa e supostamente ‘neutro’.
Duas questões a ponderar. Uma diz respeito à edição do catálogo, ofertado na inauguração. (Será que continuará oferecido gratuitamente aos visitantes?) As páginas onde estão apresentados os objetos de vidro, metal e melamina têm fotos de má qualidade que, infelizmente, estão soltas no papel, sem qualquer cuidado em estabelecer escalas e proporções.
A segunda questão diz respeito à ausência de pesquisa brasileira. Pelo que diz o catálogo, todas as peças vieram da Fundação Roberto Sambonet. Na mostra não há sequer menção a Luisa Sambonet, mulher do artista, que, nos anos 1950, foi a professora de estamparia do Instituto de Arte Contemporânea do Masp. Ela chamou atenção para motivos nativos, como antúrios – lembrando Burle Marx; ou desenhos marajoara. Foi ela, ainda, que escreveu vigoroso artigo na revista Habitat, clamando por uma criação própria, autóctone e por uma moda atualizada às novas mulheres.
Luisa Sambonet foi muito importante na realização dos desfiles de moda e sua criação, junto com Lina Bardi e Klara Hartoch, professora de tear do Museu. Foi também decisiva para as criações do marido, entre as quais se encontram vestidos à Mondrian, à Modigliani etc. com tecidos experimentais, de ráfia e algodão, por exemplo, que a exposição também não trouxe.
Parece uma triste sina das mulheres essa de serem esquecidas das histórias oficiais. Isso já aconteceu com Charlotte Perriand e com Ray Eames, com Estella Aronis, entre outras. Se a idéia força da exposição é mostrar que os anos passados em São Paulo, junto ao Instituto de Arte Contemporânea do Masp, se desdobraram posteriormente na trajetória italiana de Sambonet, seria fundamental localizar Luisa nesse percurso.
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