A identidade do Fórum Social Mundial
Fernanda Martins
A marca para o Fórum Social Mundial, que ocorreu em janeiro de 2009, em Belém, Pará, nos permitiu entrar em contato com diferentes etnias do mundo inteiro. Baseadas no público prioritário do FSM, os chamados povos originários, e no tema da edição "Um outro mundo é possível", partimos para uma pesquisa detalhada e cuidadosa. A intenção era entrar em contato com referências visuais das diferentes etnias. “A tatuagem é a roupa do índio”: o comentário feito por um representante indígena durante a reunião de briefing foi a nossa principal referência no processo de criação.
O desafio foi transmitir os conceitos que orientam as edições do Fórum. A partir do briefing os conceitos que deveriam estar contemplados na marca foram: unidade na diversidade, futuro, aliança e planeta.
A pesquisa nos trouxe um universo visual iconográfico riquíssimo, encontrado em pinturas corporais, grafismos em cerâmica, tecidos e trançados, expressos pela cultura material de povos pertencentes à América Latina, Central e do Norte, Oceania, África, Ásia e Europa. Feito isso, percebemos similaridades no uso de tais grafismos: povos que nunca tiveram contato entre si utilizam grafismos semelhantes. Nossa conclusão chegou a uma filtragem de 12 elementos, chamados de grafismos ancestrais.
Os 12 grafismos selecionados estão presentes nas culturas do mundo inteiro quando unidos a um elemento fixo tornam a marca mutável, randômica e democrática, ao permitir ao indivíduo a escolha do grafismo com que mais se identifique, sem perder a unidade. Arquivos da marca estarão disponíveis no site do Fórum para quem desejar usá-la para criar produtos para o evento. O projeto foi licenciado via Creative Commons oferecendo a possibilidade de apropriação da mesma por todo público do Fórum.
Inspiradas ainda na cultura dos povos originários, toda a estratégia de comunicação busca aliar a sabedoria dos povos originários à tecnologia atual. A proposta é evitar o gasto excessivo de papel e impressões, enviar pdfs a todos os participantes e usar outras formas sustentáveis de comunicação. Propomos a divulgação oral dos eventos por meio de arautos (pessoas identificadas e preparadas para passar o conhecimento), centros de informações e mídias de caráter coletivo (em alusão às tribos); a identificação dos participantes será através de tatuagens e pulseiras de sementes de mará-mará, feitas pelas comunidades.
Outra proposta para reforçar a sustentabilidade do evento, além de evitar o excesso de resíduos, foram oficinas de reciclagem de todos os materiais gerados pelo Fórum e favorecendo a geração de renda às comunidades participantes do evento e moradoras do entorno de Belém.
Ao longo do processo sentimos falta de uma maior divulgação da marca do Fórum Social Mundial, e deixamos disponível em nosso blog, depois de registrá-la no Creative Commons. Dentro do espírito colaborativo do projeto de identidade do FSM, criado pelo Mapinguari, nossa intenção era vestir a cidade com a marca do Fórum! Para uso, reuso, reprodução, sem alterá-la!
O Mapinguari desenvolveu também produtos com a marca do Fóorum, em um projeto de criação de um Fundo de recursos para projetos para o Instituto Peabiru.
O projeto foi selecionado na 9ª Bienal de Design da ADG.
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