Está nas bancas e o preço é razoável, especialmente em se tratando de livros ilustradíssimos de design, geralmente inacessíveis a estudantes. A ótica é a do design autoral, cada livro traçando panorama da produção de um personagem, Philippe Starck e Enzo Mari para começar.
A coordenação editorial é do designer italiano Andrea Branzi, que segue o modelo do designer-intelectual, cada vez mais raro. Aliás, Branzi escreveu sobre o Brasil na introdução do livro de Dijon de Morais Análise do Design Brasileiro, de 2006, e tem uma visão hiper-positiva e eurocêntrica sobre nosso país, uma espécie de paraíso tropical da hibridação... Mas essa é outra história.
Os livros são bem feitos, bem acabados, bem traduzidos do italiano, mantendo o mesmo projeto gráfico da versão original. São 20 volumes no total (na edição italiana são 25) cobrindo consagrados designers das empresas italianas, dos quais 13 são originários da Bota e sete de outras paragens, inclusive os brasileiros irmãos Campana.
Os textos têm aquela qualidade dos escritos italianos (há uns poucos autores estrangeiros), que beiram a prolixidade, mas ultrapassam a camada da descrição adjetivada dos objetos. Em alguns dos livros há menção e mesmo longas citações de teóricos. No entanto, como a própria concepção da coleção deixa claro, o partido adotado é quase o de hagiografias.
Personagens tão distintos na produção e no discurso são tratados como expressão de capacidades superiores, de realizações monumentais, mesmo quando o que se mostra são pequenos objetos do cotidiano. A ideia aqui, vigorosa marca do design italiano, é o favorecimento da grife dos designers, apresentados como personagens únicos e carismáticos, que se justapõem e, eventualmente se sobrepõem ao nome das empresas e, em muitos casos, ao que eles próprios projetam.
Não importa que Starck seja o habilidoso cenógrafo de hotéis de luxo, enquanto Mari proponha permanente crítica ao mundo da mercadoria. Ambos são geniais, é esse conteúdo final de uma coleção desse tipo.
É como se a história do design se pautasse pelos mesmos métodos e ditames da história da arte, que tende a concentrar-se nos processos individuais de criação, por mais que constituídos historicamente. Curiosamente, os historiadores acadêmicos do design pregam e fazem outro tipo de trabalho, deixando de lado os estatutos da história da arte e apoiando-se na história cultural. Mas essa "nova história" do design ainda não foi capaz de construir uma grande narrativa, que realoque as contribuições individuais em esferas de tessitura histórica, e não apenas de "contexto" social.
No mundo em que o caráter midiático dos designers é mais importante que sua produção concreta, sobretudo para as exigências do mercado, uma coleção dessas reafirma o grande valor das empresas italianas, justamente num momento em que a indústria chinesa solapa as bases do chamado bel design.