Estilo suíço para sempre?
Sara Goldchmit
O debate Swiss style forever? Swiss graphic design today, realizado em 5 de maio no Museu do Design, em Zurique, reuniu Richard Hollis, Lars Müller e Manuel Krebs, moderados pela designer Agnès Laube. Eles discutiram o desenvolvimento do estilo suíço desde seu apogeu e internacionalização, nas décadas de 1950 e 1960, as razões para as mudanças de paradigmas nas décadas seguintes e a maneira como esse legado se reflete na prática do design gráfico na Suíça hoje.
A Akzidenz Grotesk era o futuro
Richard Hollis conta no prefácio do seu livro Swiss Graphic Design – The origins and growth of an International Style 1920-1965 que veio a Zurique, em 1958, em busca do design. No debate, Hollis acrescentou que, assim como ele, outros designers ingleses estavam impressionados com essa nova comunicação visual que surgia na Suíça, tão moderna em comparação ao estilo vitoriano em vigor na Inglaterra naquela época.
O alto padrão de qualidade da indústria gráfica suíça se destacava desde então. O respeito ao espaço pleno do papel, que passou a estar livre de adornos, o uso da tipografia sem serifa e a substituição da ilustração pela fotografia tornavam as mensagens visuais claras e objetivas. E essa objetividade, segundo Hollis, refletia o espírito dos anos 1950. “A Akzidenz Grotesk era o futuro”, disse o historiador, referindo-se à tipografia sem serifa comumente empregada antes do surgimento da Helvetica. Para Hollis, a gênese do estilo internacional está, portanto, na Suíça.
Já Lars Müller considera que a semente do estilo internacional estava brotando ao mesmo tempo em diversos lugares – como nos Estados Unidos, na Holanda e no Japão – e que a nova linguagem se tornou onipresente pois era simples, objetiva e neutra.
Jogue o grid pela janela
Ao final da década de 1960, a neutralidade do estilo suíço foi colocada em cheque. A Helvetica ou Die Neue Haas Grotesk, desenhada em 1957 por Max Miedinger, com o seu “programa de design embutido” (nas palavras de Manuel Krebs), tornou-se a linguagem do poder no mundo das comunicações corporativas e a face do sucesso do capitalismo no pós-guerra.
A nova geração de designers passou então a criticar o uso indiscriminado da Helvetica em soluções encaixadas no grid. Lars Müller lembrou-se da sua época de estudante na Universidade de Artes de Zurique, por volta de 1983, quando o seu professor dizia: “Jogue o grid pela janela!”. De qualquer modo, Müller também pode aprender as regras de design estabelecidas nas décadas anteriores e hoje normalmente as utiliza em seu trabalho “simplesmente porque é muito chato reinventar a roda a cada projeto. Você decide quebrar o grid, quebrar a fonte, mas muitas vezes percebe que dessa forma a sua mensagem não comunica. Então volta atrás e usa as regras que já sabe que irão funcionar”, explicou. Essa relação de amor e ódio com o legado suíço levou Lars Müller a publicar, em 2005, o livro Helvetica: homage to a typeface. “Fazer este livro foi para mim uma forma de libertação, uma terapia”, disse ele.
A forma ainda segue a função
Manuel Krebs, o designer mais jovem do grupo, confessou: “Eu sou absolutamente viciado no grid”. O seu posicionamento já havia sido mostrado no filme Helvetica, onde ele e Lars Müller aparecem entre os entrevistados. Krebs estudou design gráfico em Biel, na Suíça, nos anos 1990. Nos tempos de estudante, os trabalhos de Neville Brody e David Carson eram os seus modelos de linguagem visual. E ele nunca tinha ouvido falar em Josef Müller-Brockmann.
Mais tarde, no início da sua prática profissional, a necessidade de encontrar padrões geométricos e industriais que resolvessem os problemas reais de design é que o levou a estudar os seus aspectos técnicos. Assim, a história do design suíço se revelou para ele como uma descoberta. Para Krebs, alguns princípios já estão provados que funcionam: se ele opta por uma solução visual baseada na construção do grid, é por motivos funcionais e não para retomar valores do passado. Na sua opinião, o design de cinquenta anos atrás não é melhor nem pior que o design feito hoje. Richard Hollis acrescentou que, atualmente, o domínio das regras diferencia os designers profissionais dos amadores, especialmente depois da popularização do uso do computador.
A pergunta chave do debate – Estilo suíço para sempre? – não teve uma resposta única e levantou outras questões. “Hoje o estilo suíço pode ter desaparecido da superfície, mas está por trás das idéias atuais de sustentabilidade, usabilidade e ergonomia”. Esse comentário final de Lars Müller deixou indicados alguns aspectos mais profundos e relevantes à producão contemporânea do design.
Sara Goldchmit é designer gráfica e mestre em design pela FAU-USP.
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