Ano: II Número: 23
ISSN: 1983-005X
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Educação de lixo ou lixo sem design?

Como mostrou a matéria publicada no jornal O Globo, no dia 27 de novembro de 2009, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, vem fazendo ameaças de suspender o trabalho dos garis nas praias cariocas e na avenida Rio Branco, que fica no centro da cidade. A suspensão da limpeza serviria para conscientizar os cidadãos do cidade de sua própria falta de educação. A ameaça já causou reação entre moradores do Rio, que começaram campanha "Dois gritando", na qual dizem que não são porcalhões. Uma das críticas dos moradores é ao tamanho e ao desenho das lixeiras.

O designer Joaquim Redig também reagiu às ameaças do prefeito. Segue abaixou reprodução de sua carta em resposta a Eduardo Paes, ao jornal e a instituições cariocas.

Rio, 27.11.2009
Ao Jornal O Globo, ao Prefeito Eduardo Paes, ao Secretário de Urbanismo Sergio Dias, e ao IPP, Instituto Pereira Passos:

Antes de acusar o cidadão de falta de educação, precisamos oferecer-lhe o equipamento adequado, para que ele possa ser bem educado. Entre o serviço de limpeza urbana e o usuário da lixeira está o equipamento - ou seja, o design. A foto esquerda da   pág.17 do Caderno RIO d'O Globo de hoje demonstra claramente o problema, muito comum, que analiso com meus alunos há décadas (esta lixeira que temos nas ruas do Rio existe aqui há mais de 20 anos, e é usada no mundo inteiro, não por ser eficiente, mas provavelmente por ser muito barata, já que o grande volume de produção reduz o custo da unidade produzida).

Se há lixo no chão em volta da lixeira, isso não quer dizer que as pessoas sejam mal educadas, ao contrário, quer dizer que as pessoas são bem educadas, porque se dirigiram até uma lixeira para  jogar o lixo. Ninguém se aproxima de uma lixeira para jogar o lixo...  no chão! Se está no chão, há duas razões primárias - e outras subsequentes:

1°) A lixeira estava cheia - ou por ser pequena, ou por não ser esvaziada com a regularidade necessária àquele local. Neste caso, o usuário coloca o detrito sobre a tampa da lixeira, ou no chão, junto a ela, até ajudando o gari (é melhor ali, do que no meio do caminho).

2°) A lixeira estava vazia, mas, ao ser jogado, o detrito rebateu na borda da abertura e caiu de volta no chão, não passando pela boca do recipiente.

As lixeiras que usamos hoje são pequenas, sua abertura de acesso é estreita, e, para o lixo não cair de volta no chão é preciso colocá-lo, com cuidado, DENTRO dela. Lixeira não é lugar para colocar a mão. A posição vertical do plano da boca também dificulta.

A posição ideal é inclinada, como as eficientes e bonitas lixeiras do metrô de São Paulo (que, aliás, são de aço inoxidável, material mais higiênico). Além disso, a distribuição é também fundamental. No Rio, são bem distribuídas em algumas áreas, mal em outras, e
inexistentes em outras. Em certos locais, são imprescindíveis (mas  raras), como por exemplo junto às paradas de ônibus.

Isso sem falar dos sistemas de lixeiras diferenciadas para reciclagem, que hoje predominam nos espaços públicos-privados, como shoppings e universidades, mas não ainda nas ruas da nossa cidade.

Joaquim Redig, designer, professor da PUC-Rio

designredig@alternex.com.br <mailto:designredig@alternex.com.br>
 

 


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