Ano: II Número: 23
ISSN: 1983-005X
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Prêmio MCB, questões

Ethel Leon

É, de fato, uma conquista que o design brasileiro tenha prêmios estáveis, capazes de formar certa tradição e que ajudem na formação de um verdadeiro campo profissional. É o caso do Prêmio Museu da Casa Brasileira (MCB) e do Salão Movelsul de Design. O  Prêmio MCB mostrou avanço expressivo em sua formulação nesta edição de 2009.

Com júri coordenado pelo designer Giorgio Giorgi Jr., professor da Fau-USP, da Facamp e do Senac, o Prêmio demonstrou coragem de eliminar cerca de 90 por cento dos inscritos para ‘valorizar o conjunto exposto’, segundo Giorgi.

Também avançou ao separar produtos no mercado de protótipos, além de não ter misturado livros publicados e trabalhos escritos que não passaram pelo crivo de editoras.

Estas escolhas classificatórias, sempre complexas e problemáticas, distinguem produções de distintas naturezas. Criam condições de reconhecimento dos pares e de avaliação de certas esferas produtivas. Que sentido há em comparar uma geladeira – item industrial de massas, que envolve linha produtiva complexa, diversos atores, envolvendo distribuição, marketing, etc. a um objeto improvisado por um único construtor que pode colocá-lo à venda nos centros de comercialização dos chamados designers independentes ou ainda fazer dele presente de Natal para os amigos?

Em passado recente isso acontecia no Prêmio MCB, afastando várias empresas e estabelecendo como denominador comum uma fala tautológica: “o design é aquilo que os designers fazem”.

Nesta edição há uma clareza maior e basta ver o conjunto para reconhecer que avaliações foram feitas entre semelhantes.

No entanto, quedam questões a discutir. Nos trabalhos inscritos, separaram-se livros de dissertações de mestrado, o que já foi um grande passo.

Mas qual o sentido de premiar trabalhos acadêmicos como dissertações e teses que já passaram pelo crivo do ambiente para o qual foram produzidos, a academia? Certa vez, a arquiteta Cecília Rodrigues dos Santos, ao participar do júri do MCB, levantou o problema e enviou sugestões para a mudança do regulamento. “As teses e dissertações já passaram por sua instância de avaliação e premiação. Misturá-las a outros trabalhos dificulta a avaliação e a definição de critérios ... por exemplo, não há como comparar uma dissertação  de mestrado com um doutorado ou com um trabalho de um curso de especialização. Ou ainda com um trabalho institucional...” comentou.

“De lá pra cá”, comenta, “multiplicaram-se os cursos de design que se estabilizam na academia; com certeza deverá  haver um aumento do número de publicações; em todas as áreas é assim: boas teses e dissertações saem da banca com recomendação para publicação, portanto, logo poderão concorrer como publicações...”

Haveria, talvez, sentido premiar trabalhos que vêm das universidades se fosse escolhido um júri escolhido entre pares, ou seja, entre professores de diferentes universidades.

Será, ainda, que se compreende a premiação dos trabalhos escritos do MCB como passaporte para editoras?  Nesse caso, os textos não deveriam ser submetidos a júri de editores?

Há sentido em avaliar esses trabalhos?

Também na divisão feita entre produto e protótipo, estamos falando de protótipo ou de modelo? O protótipo, se entendo bem, é o primeiro da série, ou seja, já foi destinado à produção. O modelo ou o objeto ainda em fase experimental é uma promessa de produto, a ser realizada ou não.

Creio que caberia ao Museu da Casa Brasileira discutir as vertentes da produção contemporânea. Como avaliar objetos que resultam da produção empreendedorística, que criam canais próprios de distribuição, entre eles a web? Como manejar critérios de julgamento para a produção industrial propriamente dita e as pequenas séries – que são manufaturados, mas que nem por isso prescindem de projeto.

Como entender os projetos que reconfiguram as casas contemporâneas, decorrentes de prestação de serviços, mais do que de artefatos? Como entender o novo consumo de massas no Brasil? Como se dá a presença do design nesta produção? Que qualidades formais e técnicas vêm sendo valorizadas?

São questões que o Prêmio, é lógico, não pode responder. Mas o Museu, em suas tarefas educativas e propositivas, poderia organizar alguns seminários nesta direção, que ajudariam na própria formulação do Prêmio. Fica a sugestão.

 


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