Ano: III Número: 26
ISSN: 1983-005X
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Cidade Nova: Síntese das Artes

Em setembro do ano passado, por ocasião do 8º Docomomo Brasil, a seção Docomomo-Rio publicou as Atas do Congresso organizado cinquenta anos antes por Mário Pedrosa e o Itamaraty a pedido do Presidente Juscelino Kubitscheck, visando a promover internacionalmente a nova capital brasileira, ainda em construção.

O Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte de 1959, cujo tema principal foi a síntese das artes, contou com a participação de Giulio Carlo Argan, Bruno Zevi, Richard Neutra, Eero Saarinen, Jean Prouvé, André Bloc, Charlotte Perriand, Alberto Sartoris, André Chastel, Hans Jaffé, Frederick J. Kiesler, Tomás Maldonado, Romero Brest e Stamos Papadaki, entre outros expoentes da crítica de arte, arquitetura, urbanismo e design.

O riquíssimo documento, muito citado em trabalhos acadêmicos, porém até agora inacessível ao grande público, é apresentado por Henry Meyric-Hugues, presidente honorário da Associação Internacional de Críticos de Arte; Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, coordenador do Docomomo-Rio; Elvira Vernaschi, presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte; e Maria da Silveira Lobo, socióloga e urbanista, integrante da comissão de organização do 8º Docomomo Brasil.

As quatro primeiras sessões do Congresso - Cidade Nova, Urbanismo, Técnica e Expressividade e Arquitetura – ocorreram em Brasília; as sessões Artes Plásticas e Artes Industriais, em São Paulo, simultaneamente à V Bienal Internacional de Arte; e as sessões Arte e Educação e A Situação das Artes na Cidade tiveram lugar no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.  

Embora o tema da convergência e harmonia estéticas, que remetia à “obra de arte total” almejada por artistas e arquitetos na passagem do século 19 para o 20, tivesse alcance limitado nos anos 1950, a necessidade de reorganizar espacialmente o habitat moderno foi um tema exclusivamente abordado pela designer francesa Charlotte Perriand:    
“Até agora falamos de arquitetura monumental e de outras coisas, mas o que toca fundo no coração do homem é o habitat. Nunca se fala nele, e no entanto, é o assunto mais difícil, e o mais mal resolvido. Isso é verdade em todas as partes do mundo, e provavelmente aqui também, É por isso que vos convido a pensar no habitat. É onde o homem dorme e também onde sonha e vive com sua família. Isso pressupõe uma arte de viver, e esta arte muda. Não pensamos mais que há evolução; trancamo-nos em pequeninas peças bem separadas umas das outras, e tenho a impressão de que o espírito se entristece nessas casas. Se a cozinha for numa peça separada, a mulher que trabalha ali se sentirá isolada da família, mas se todos os gestos cotidianos estiverem integrados em uma peça espaçosa, então se estará valorizando os que trabalham e as relações entre as criaturas do habitat. Aliás, essa forma dividida que vimos hoje, essas peças separadas umas das outras, não existiram em outros tempos. Mas o habitat é o parente pobre da arquitetura.
Brasília nos dera a esperança de uma melhora, mas visitando um apartamento de Brasília pude constatar que não havia ali as modificações para melhorar no plano social que eu gostaria de encontrar. Faço votos para que no futuro em Brasília se dê uma atenção toda especial às residências, que são o que toca mais de perto ao homem.”

Atas do Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte; Cidade Nova: Síntese das Artes, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, setembro de 1959; Maria Lobo e Roberto Segre, coordenadores; fotografias de Thomaz Farkas; Editora Fau-Ufrj, Rio de Janeiro, 2009.

A publicação pode ser adquirida na livraria do portal Vitruvius e na rede Entrelivros.

Mais informações: Prourb/Fau/Ufrj, telefone: (21) 2598.1990.

 


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