Ano: I Número: 7
ISSN: 1983-005X
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Apresentando a tipografia
Fernanda Martins

Livro: Tipografia: uma apresentação Autor(a): Luci Niemeyer Editora: 2AB

Postado: 15/07/2008

   

Um pequeno livro, de bolso, lançado em 2000, cujo formato faz com que os estudantes sejam seu público preferencial.

É um livro que cumpre o que se propõe: apresentar os conceitos básicos da tipografia. Um pequeno manual com linguagem agradável mas precisa que aborda, pelo menos minimamente, todas as questões que estudantes e designers devem saber sobre o assunto. 

Em 2000, ainda existiam poucas publicações em português sobre design, e principalmente tipografia, tornando oportuno seu lançamento. Ao traduzir para nossa língua os termos tipográficos, o livro deu início ao necessário debate sobre a adequação da terminologia. O designer brasileiro de alfabetos digitais, talvez por falta de tradição, ou talvez por falta de proximidade com os antigos termos técnicos, utilizam uma variedade de termos em inglês, kerning, leading, por exemplo. Infelizmente, mesmo com as recentes publicações e com o surgimento de uma geração de "type designers" brasileiros ainda não existe consenso na utilização da terminologia.

O livro discute além da pequena compilação de termos, a história dessa área desde Gutemberg até o desenvolvimento da tipografia digital. Discorre sobre as características e as partes do tipo, sobre as variações de estrutura e sistemas de medidas. Aborda as famílias tipograficas e tenta mostrar, de maneira simples, algumas formas de reconhecê-las, discorre sobre legibilidade e leiturabilidade. Oferece algumas orientações e toca em assuntos importantes para o iniciante, por exemplo como selecionar tipos para um projeto gráfico, dúvida freqüente nos estudantes, além de apresentar uma boa bibliografia,  

Essa edição dedica,ainda, um capítulo às fontes digitais. Talvez por ser uma época onde ainda existiam muitas incompatibilidades entre plataformas e formatos, esta parte não ajuda muito o leitor. Está correta quanto ao conteúdo porém, no fundo, é apenas uma explicação sobre formatos existentes e aqueles que estavam sendo desenvolvidos na época, como o Opentype. Apenas recentemente esse formato vem sendo utilizado pelas empresas de software e portanto pode ser realmente aproveitado.

Existem alguns pequenos erros, talvez corrigidos em edições posteriores, principalmente em relação aos tipógrafos. Erik Spiekermann está vivo e Gudrun Zapf-von Hesse é uma mulher, esposa do famoso Hermann Zapf. Apesar dos esforços e em função do formato, é pouco ilustrado, o que faz falta num tema como este, além de não aprofundar muito os temas. Deixa em aberto algumas questões que podem levar o leitor mais interessado a querer pesquisar mais.

Os computadores, principalmente depois de 1984 com a consolidação da plataforma APPLE e do WYSIWYG (what you see is what you get), foram responsáveis pela última revolução na tradicional arte da tipografia. A tipografia é per se uma área resistente a mudanças, de certa forma, ainda hoje se utiliza a mesma lógica dos tempos de Gutenberg, apenas aperfeiçoada tecnologicamente. 

O computador assumiu importância fundamental no modo de produção do Design, tanto na criação, quanto na produção do impresso. Na época da tipografia de metal o processo de produção era longo: desenhar os tipos, cunhar matrizes, fundir letras em moldes, compor, imprimir, desmontar, guardar os tipos para serem reutilizados. As máquinas componedoras do final do século XIX trouxeram velocidade mas foi a fotocomposição que deu adeus à materialidade do tipo. A rapidez com que evolução acontece na área obriga o designer a permanecer em estado de alerta e constante aprendizado. Todo o conhecimento de gerações está embutido nos programas de geração de fontes e diagramação eletrônica. Na criação e produção de originais para impressão o designer de hoje acumula as funções destes muitos profissionais. Muitas vezes sem saber nada do assunto.

A educação do designer não acompanhou essa evolução, o profissional de hoje é um usuário que não tem o domínio do conhecimento que se encontra acumulado nas máquinas. É um usuário poderoso e talvez não tenha consciência ou reflita propriamente sobre as implicâncias econômicas, sociais e ambientais deste seu papel.

Tipografia: uma apresentação é a porta de entrada para estudantes que iniciam o estudo do design porém um alerta: não o suficiente! A matéria tipografia, apesar se ser um dos pilares da criação e construção do projeto gráfico, ainda não faz parte da maioria das grades curriculares das escolas. Situação que vem mudando recentemente, ainda bem!

 


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