Ano: III Número: 30
ISSN: 1983-005X
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Alessi em Munique

Ethel Leon

A Pinakotheke der Moderne de Munique sedia atualmente grande exposição da empresa Alessi, um dos nomes internacionais canônicos do design italiano/internacional. Com curadoria de Alessandro Mendini, seu diretor artístico, a mostra traz a possibilidade de entender as diferentes etapas de uma empresa familiar que se tornou globalizada.

Fundada em 1921, a Alessi era ‘mais uma’ das oficinas artesanais sediadas na região dos Alpes italianos, no triângulo entre a França, a Suíça e a Itália, mais precisamente na região de Crusinallo.

Já no período anterior à guerra, a empresa foi-se transformando para enfrentar mercados mais amplos e, para tanto, fez uma transição da oficina artesanal para uma pequena indústria, alterando substancialmente o modo de fazer de seus produtos. O lançamento do conjunto para café e chá La Bombé, de 1945, é o marco desta passagem. Produzido em aço inox, o serviço marca o início de nova fase da empresa, cujos objetivos eram vender para a Europa e não mais apenas para os arredores.

Vale lembrar que nesse período pós II Guerra Mundial, o design italiano alcançou vigor  decisivo, liderado por empresários muitos deles antifascistas, caso de Adriano Olivetti. Várias das pequenas manufaturas italianas estabeleceram contatos muito próximos com  arquitetos e artistas e promoveram grandes inovações formais, utilizando novas matérias-primas e sem se prender ao rigor formalista tão festejado até então pelo MoMA.

Logo o design italiano seria interpretado pelo Museu de Arte Moderna de Nova York como o representante da nova paisagem doméstica, conjunto simbólico da maior importância no período da Guerra Fria, por expressar qualidades de liberdade (e consumo) individual.

Nos anos 1970, a empresa convidou Ettore Sottsass e Richard Sapper para projetar novos produtos. E em 1983, o herdeiro Alberto Alessi lançou o Tea and Coffe Piaza, na qual onze arquitetos e designers projetaram uma espécie de arquitetura em escala de pequenos objetos, fazendo repercutir a intensa discussão da arquitetura pós-moderna de então.

Alberto assumiria a direção da empresa, aproximando-se mais ainda dos arquitetos radicais, entre os quais Alessandro Mendini, expoente do pós-modernismo na Itália. A atuação de Mendini na Alessi é até hoje um dos exemplos mais significativos de como o discurso pós-moderno adentra uma empresa e a auxilia a formar novo perfil, ampliando seu público, que passa a ser o mercado mundial e seus nichos.

Muito do que foi feito por grandes nomes como Sottsass, Sapper, Michael Graves, Mendini, Branzi etc. foram formas plenas de ironias – caso mais significativo é o do saca-rolhas Anna G. de Mendini, referência a um personagem ficcional de Donald Thomas que, por sua vez, inventa cartas de Freud a um de seus discípulos sobre uma suposta paciente Anna G (referência a Anna O. famosa paciente do médico Josep Breuer). Mais adiante a empresa se rendeu a trocadilhos e jogos de linguagem óbvios e infantis.

A narratividade das formas da Alessi, seu humor às vezes sutil e satírico, às vezes francamente infantilizado ganhou lugar nas lojas de design e aeroportos, estabelecendo um padrão denominado fun design, copiado por muitas empresas em todo o mundo.

Alberto Alessi, em entrevista à imprensa à qual assisti há alguns anos, disse estar preocupado com o futuro do design, pois o item que mais vendia − o espremedor de limão de Philippe Starck − não funcionava como tal e, ainda por cima, era muito feio...

Parece que o público mundial continua prestigiando os objetos Alessi. A empresa mantém sua produção com cerca de 500 empregados, em Crusinallo, mas tornou-se uma marca global e a associação com muitas empresas permitiu a diversificação de sua produção, que vai de tecidos a azulejos, relógios (com a Seiko) e as canetas (com a Mitsubishi) além de um automóvel com a Fiat.

Em 2001, foi inaugurado o Museu Alessi, mas nem por isso a empresa deixou de se apresentar em importantes museus de design, como é o caso da Pinakotheke de Munique. 
 
 

 


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