Ano: I Número: 8
ISSN: 1983-005X
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Boas idéias viram negócios lucrativos
Itiro Iida

Livro: Inovação: da idéia ao produto Autor(a): Henry Petroski Editora: Blücher

Postado: 15/08/2008

   

O livro Inovação: da Idéia do Produto, de Henry Petroski apresenta nove estudos de casos de inovações tecnológicas, a partir de uma idéia ou patente, até tornar-se um negócio lucrativo: clipes de papel, lápis, zíperes, latas de alumínio, aparelhos de fax, aeronaves, água e saneamento, pontes e grandes edifícios. A abordagem não se limita aos aspectos técnicos e científicos, pois o autor analisa os contextos econômicos, sociais e culturais que restringiram ou favoreceram as implementações dessas idéias.

Em alguns casos, como clipes, zíperes e latas de alumínio, o autor mostra que não basta ter uma boa idéia e patenteá-la, se não for desenvolvido, em paralelo, materiais adequados e máquinas para a sua produção massificada. Isso envolve muito investimento, persistência e, por vezes, diversas tentativas e erros, até se chegar a um produto aceitável a um custo competitivo. Cada um deles pode envolver dezenas de patentes, passando por melhorias sucessivas em certas características do produto, em várias décadas.

Os aparelhos de fax sofreram diversos desenvolvimentos, desde 1843, quando um relojoeiro escocês construiu um modelo com um estilete movido por um ímã. Contudo, o desenvolvimento e difusão dos modelos atuais ocorreram após a popularização das linhas telefônicas e padronização internacional para que qualquer aparelho pudesse receber mensagens transmitidas por aparelho de outra marca, situada em qualquer parte do mundo. Os japoneses investiram muito no desenvolvimento do fax porque as mensagens escritas em ideogramas não podiam ser transmitidas pelo sistema convencional de telex.

O livro apresenta também a evolução das aeronaves a jato, a partir do pioneiro Comet inglês, de 1953, até o projeto do moderno Boeing 777. Algumas das primeiras aeronaves explodiram no ar, devido aos conhecimentos insuficientes sobre fadiga de materiais. O projeto da Boeing foi inteiramente realizado em CAD-CAM, utilizando 2.000 terminais conectados a oito dos maiores mainframes da IBM, exigindo o desenvolvimento de diversos softwares especiais. Contudo, a maior inovação desse projeto foi o envolvimento dos clientes  (operadoras de rotas aéreas) nas especificações do projeto. Com isso, a aeronave foi dotada de diversas características vantajosas em relação aos concorrentes.

Os sistemas de abastecimento de água e saneamento tiveram desenvolvimento relativamente recente: a partir da segunda metade do século XIX. Até então,  acreditava-se que doenças como cólera e febre tifóide eram transmitidas pelo ar. A malária seria transmitida por gases emanados de pântanos que, em italiano, eram denominados de mala aria, ou paludisme em francês. A origem aquática dessas doenças só ficou evidente a partir da construção dos esgotos de Londres, que antes eram lançados diretamente no Rio Tâmisa, misturando-se com a água captada para consumo humano.
 
Em relação às pontes, os antigos romanos já as construiam de pedra, em forma de arco. A introdução do ferro e do aço como materiais de construção revolucionou os projetos de pontes. Contudo, a primeira ponte de ferro fundido, construída na Inglaterra, em 1779, ainda utilizava a forma de arco. Desenvolvimentos posteriores levaram à grande diversificação dos projetos, utilizando vãos em balanço e as “pênseis”. O autor narra em detalhe a construção da ponte São Francisco-Oakland, sobre a baía de São Francisco (EUA) com uma enorme viga em balanço de 326m colocada a 56m acima do nível do mar. Obras desse porte não dependem apenas dos aspectos tecnológicos, pois acabam sofrente muitas interferências políticas e econômicas.

No último capítulo, o autor descreve a evolução dos grandes edifícios, tendo como marco o Palácio de Cristal, construído para abrigar a Feira Mundial de Londres, em 1851. Esse edifício foi montado a partir de elementos pré-fabricados, onde as paredes deixaram de ser elementos estruturais, para funcionar apenas como divisores de espaços. Grandes edifícios tornaram-se viáveis devido ao invento do dispositivo de segurança de elevadores, criado por Elisha Otis. Outra evolução marcante foi a colocação da estrutura na parte externa do edifício, funcionando como verdadeiros exo-esqueletos e liberando o espaço interno.

Enfim, o livro mostra a complexidade dos fatores que se entrelaçam e condicionam a evolução tecnológica, ao longo dos nove exemplos apresentados. O seu autor é professor de engenharia da Universidade de Duke e recebeu uma bolsa da National Science Foundation dos EUA com a proposta de preparar material didático para o ensino de engenharia, mostrando os difíceis caminhos da inovação tecnológica.

 


Comentários

Eduardo Woltmann
19/11/2008

Muito bom livro, e resenha muito bem escrita.

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