Este precioso livro editado pela Editora Senac São Paulo é um tesouro à disposição para todos aqueles que se interessam por uma das invenções mais antigas do homem: o tecido em suas mais diferentes manifestações.
Dinah Bueno Pezzolo nos apresenta o resultado de profunda e minuciosa pesquisa sobre as diversas formas e relações que o tecido foi tomando ao longo da história. O resultado contempla uma diversidade tão rica como são as diferentes culturas e épocas: do Egito (linhos, 8000 anos) à China (seda, 4750 anos).
Mesmo que se tenha uma idéia do que isto pode representar, somos surpreendidos ao longo do livro com detalhes importantes, porém muitas vezes desconhecidos. Por isso este livro é, sem dúvida, uma ferramenta valiosa para o aprimoramento do conhecimento no campo têxtil, tanto nos aspectos técnicos como nos estéticos. A começar pela belíssima capa, fotografia de um trabalho do brasileiro Renato Imbroisi, grande nome na área do artesanato com design. O rigor gráfico e plástico com que é tratada esta edição é, por si só, indício do cuidado e do respeito ao leitor. É um belo livro, um livro digno.
A autora é uma profunda conhecedora de moda e compartilha conosco o que sabe. E nós somos todos aqueles que, por um ou outro motivo, necessitamos deste saber. Penso que estudantes e profissionais de diversas áreas têm aqui um arsenal de informações básicas e auxiliares para um bom desempenho em seus projetos. Porque, ao fazer suas consultas, o leitor mais interessado em aspectos técnicos (ou até tecnológicos) irá deparar com a beleza acima citada, enquanto aquele mais interessado em detalhes estéticos (o estilista, por exemplo) não poderá deixar de ver informações técnicas que o auxiliem. E, soma-se a tudo isto, a história e a cultura.
Para o designer têxtil (ou de superfície), há referências interessantes sobre a tradicional estampa Toile de Jouy e um pouco sobre o importante trabalho do artista fauve Raoul Dufy.
O capítulo Toile de Jouy tem um sabor especial para aqueles que se interessam pela história das estampas, desenvolvimento de produto e comportamento de mercado. O surgimento desse tipo de tecido, ao mesmo tempo rústico e decorado, não se deu por acaso: foi conseqüência direta do “gosto de aristocratas na Europa” aliado à proibição de importação dos tecidos indianos, imposta por Luís XIV, e mais o caráter empreendedor do alemão Christophe-Phillippe Oberkampf. Descendente dos famosos tintureiros de Wurtemburg, Oberkampf inventou uma máquina para estampar que trabalhava com um cilindro de cobre gravado.
Muito interessante, também, o trecho que cita a paixão de Matisse pelos tecidos e como ele se inspirava neles para fazer suas telas. Além disso, curiosidades sobre o uso das listras, os diferentes xadrezes (e como são construídos) são informações valiosas.
Fica, entretanto, o interesse em saber um pouco mais sobre o processo criativo dos desenhos das estampas, tramas e diferentes estruturas (e construções têxteis) no Brasil, desde o século passado até os dias de hoje. Ou de como se ocupavam os nossos designers têxteis (apresentados aqui como “estilistas de padronagens”) e quais foram o resultado de suas criações – talvez por não ser o foco deste livro. Ou quem sabe, porque no Brasil, até muito pouco tempo, a criação nacional não era considerada ingrediente importante do resultado final. O que valia aqui era copiar o que era criado e feito lá fora. É muito, muito recente o olhar do mercado e do próprio empresário do setor para a produção criativa deste profissional fundamental na cadeia produtiva têxtil.
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Renata Rubim é designer de superfícies e consultora de cores. Atende a empresas e é conferencista na área de design de superfície, em que se especializou na Rhode Island School of Design. Autora do livro "Desenhando a Superfície", Ed. Rosari, SP, o primeiro no Brasil sobre o tema. Seu escritório atende a clientes de diferentes segmentos, que investem em design.
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