Ano: I Número: 9
ISSN: 1983-005X
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Design gráfico: um novo farol
André Stolarski

Livro: Design gráfico: os novos fundamentos Autor(a): Ellen Lupton e Jennifer Cole Philips Editora: Cosac Naify

Postado: 18/09/2008

   

Cumprindo a promessa de editar obras de referência em sua coleção dedicada ao design, a Cosac Naify lança uma obra corajosa, completa e indispensável a professores, alunos e profissionais: Design gráfico: os novos fundamentos, de Ellen Lupton e Jennifer Cole Philips*.

O livro é uma exploração dos principais fundamentos da linguagem visual como há muito tempo não se via. Não se trata, no entanto, de um manual de design gráfico, mas de um conjunto de fundamentos. Noutras palavras, o tema em questão não é como fazer design gráfico, mas de que elementos o design gráfico é feito.

Estão lá temas já consagrados tais como linha, ponto, plano, ritmo, equilíbrio, escala, textura, cor, figura e fundo, enquadramento, hierarquia, modularidade, grid, padrões e diagramas, acompanhados de outros não tão consagrados, mas impostos pelas mudanças tecnológicas e teóricas do design recente, tais como transparência, camadas, tempo e movimento, regras e aleatoriedade. 

Cada tópico é tratado com textos curtos, precisos e diretos – mas de nenhuma forma superficiais – que exploram sua essência conceitual e prática, bem acompanhados por dezenas de exemplos altamente criativos e inusitados, produzidos com ferramentas e em contextos contemporâneos, na medida ideal para a exploração e consulta prazeirosa e atualizada. 

Os exemplos, por sinal, são um dos pontos altos do livro. Compostos quase exclusivamente por trabalhos elaborados por um grupo altamente diversificado de professores e alunos do MICA - Maryland Institute College of Art, demonstram que é possível produzir resultados de alta qualidade a partir da investigação sistemática de princípios essenciais de linguagem sem recorrer necessariamente a autores famosos, consagrados ou inalcançáveis. Por outro lado, expõem abertamente a mecânica dos exercícios propostos em sala de aula que geraram os resultados publicados, o que é um grande estímulo tanto para alunos quanto para professores de design gráfico.

Vale também mencionar os dois pequenos textos que apresentam o livro – verdadeiros ensaios críticos a respeito da pertinência de falar em fundamentos visuais na atualidade e da sua importância na relação dos designers com os novos meios tecnológicos de produção visual.

Somando tudo isso, o resultado é a renovação consistente de um gênero literário que esperou quase 40 anos para tornar-se novamente atual, e que nunca teve um só exemplar publicado em língua portuguesa. Sua edição representa não apenas uma grande contribuição prática, mas a superação crítica de um dos maiores nós teóricos do design gráfico contemporâneo. Trata-se, portanto, de uma ótima ferramenta para superar o afã tecnológico vazio e os manuais defasados que frustram jovens e adultos interessados em explorar os níveis fundamentais da linguagem visual. 

Nos parágrafos seguintes, investigamos o porquê dessa enorme defasagem e a superação crítica que este livro representa.

Nas quatro últimas décadas, o panorama do design gráfico passou por modificações tão grandes, que educadores e intelectuais devem ter considerado impossível – ou mesmo dispensável – elaborar um trabalho contendo os principais fundamentos da atividade. Prova disso é que os títulos mais atuais que tratam desses fundamentos datam das décadas de 1960 e 1970 (dentre os quais se destacam o Graphic Design Manual de Armin Hoffmann [1977] e o The Graphic Artist and his Design Problems, de Josef Müller-Brockmann [1968]).

A desaparição desses títulos não ocorreu por acaso. De fato, desde o final dos anos 1960, o design assistiu ao amadurecimento de uma crítica cada vez mais feroz aos princípios universais elaborados pela Bauhaus e defendidos pelo design moderno. 

Nos aos 1920, ao investigar os fundamentos da linguagem, a Bauhaus procurou não apenas definir uma estrutura comum para descrever as formas visuais, como também defendeu a universalidade do significado dos elementos essenciais dessa estrutura. 

Essa universalidade não demorou a cair por terra e, no auge da investida crítica da escola pós-moderna nos anos 1970, os exercícios formais baseados no repertório bauhausiano foram amplamente condenados por estarem impregnados dessa ideologia universalizante.

Em meados dos anos 1980, enormes inovações tecnológicas tomaram a cena, democratizando a prática do design e tornando-o ao mesmo tempo produtivamente mais simples e linguisticamente mais complexo. 

Oscilando entre o status de ferramentas auxiliares e potências criadoras autônomas, essas inovações demoraram algum tempo para serem digeridas, fazendo coro com a teoria pós-moderna em suspeitar que diversos princípios até então tidos como sólidos já não faziam mais nenhum sentido. 

Impulsionados por essa democratização e pela força da crítica ao design moderno, muitos designers passaram da teoria à prática, gerando obras desafiadoras que demonstraram enorme vigor e transformaram o desrespeito àquelas regras em regra.

Nesse contexto, que tornou os antigos manuais obsoletos e até mesmo retrógrados, alguém poderia questionar o sentido de editar um trabalho que pretenda contribuir para a formação dos novos designers reafirmando uma visão estrutural já desmerecida tanto pela teoria quanto pela prática.

Para responder a essa pergunta, basta observar a realidade dos jovens designers <st1:personname w:st="" on""="" productid="" em"="">em formação. Com</st1:personname> acesso permanente, facilitado e incentivado a computadores e inúmeros outros dispositivos digitais, seu impulso normalmente é o de "ceder à tentação de recorrer diretamente ao computador, deixando de lado níveis essenciais de pesquisa, exploração e ideação que estão em outros territórios", como lembra a autora Jennifer Cole Philips.<o:p></o:p></span></font></p> <p class="conteudo_1"><font size="2"><span><o:p></o:p></span><em><span>Design gráfico: os novos fundamentos</span></em><span> é uma bem-sucedida tentativa de reverter esse quadro e incentivar a experimentação com a linguagem visual. O livro reafirma a existência de uma estrutura comum às formas visuais, mas escapa da armadilha de universalizar seus significados, tratando esses fundamentos de forma atualizada em relação às tecnologias mais atuais. <o:p></o:p></span></font></p> <p class="conteudo_1"><font size="2"><span><o:p></o:p>Afinal, como lembra Ellen Lupton, foram os próprios softwares que hoje dominam a produção do design gráfico, "organizando a matéria visual em menus de propriedades, parâmetros e outras qualidades essenciais da forma", os verdadeiros responsáveis pela ressurreição da organização categorizada dos elementos visuais fundamentais utilizados pelo design gráfico. Em meio à maré caótica de boa parcela da produção do design gráfico contemporâneo, voltamos a ter um porto seguro construído não pela teoria, mas justamente pela tecnologia, tida como o grande agente desestabilizador das visões tradicionais, do qual este volume certamente é um novo farol.<o:p></o:p></span></font></p> <p class="conteudo_1"><font size="2"><span><o:p> </o:p></span></font></p> <p class="conteudo_1"><span><font size="2">* A resenha foi escrita a pedido da editora Cosac Naify, por ocasião do lançamento do livro.</font> <o:p></o:p></span></p><p></p>

 


Comentários

Marcello Montore
02/10/2008

Caro Abel, ambas as funções (enviar o artigo para outra pessoa e imprimir) estão no próprio browser. No Internet Explorer estão no menu \"arquivo\", \"enviar\" / \"imprimir\". Mas você também pode convidar a pessoa a conhecer a Agitprop e ela mesma acessar os artigos! Um abraço... Marcello Montore (AgitProp | Editor)

Abel Ambrósio da Silva Filho
27/09/2008

Senhores, Parabéns pela Revista. Por que a página Leitura não apresenta a possibilidade de se remeter o ensaio ou artigo a outra pessoa, bem como a alternativa de imprimir? Por favor, contemplem esssas duas oportunidades de estimular a disseminação do ensaio ou texto, além do envio de comentário ao site. Abel

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