Ano: IV Número: 38
ISSN: 1983-005X
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Visitando a cozinha de Margarete

Ethel Leon

 

O espaço do balcão, o design e a cozinha moderna é o nome da exposição do Museu de Arte Moderna de Nova York, que trata do mais fértil tema do cotidiano doméstico: a relação das pessoas com a área de produção de comida de uma casa.

 

Mais de 300 objetos foram expostos, mas a grande vedete da mostra é um exemplar da famosa cozinha de Frankfurt, projetada em 1926/27 pela austríaca Margarete Schütte-Lihotzky para o ambicioso programa de casas para trabalhadores desenvolvido durante a República de Weimar. A arquiteta trabalhava no escritório de ninguém menos que Adolf Loos (‘Ornamento e crime’) e concebeu três diferentes tipos de cozinha, de acordo com os tamanhos dos apartamentos.

O projeto de Grete Lihotzky, como ficou mais conhecida, revela a concepção de racionalizar o espaço, organizá-lo eficientemente, a partir do modelo de laboratórios, de cozinhas de navios e de trens, o que certamente ecoava as ambições social-democratas e socialistas de então. A Ford, a eletricidade, a ordem planejada eram objetivos de quem perseguia utopias de igualdade social. A ideia se baseava na Existenzminimum, o espaço racionalizado que deveria atender as necessidades de todos.

Projetada para custar pouco, a cozinha de Frankfurt não dispunha de geladeira – item considerado supérfluo na época, já que as pessoas faziam suas compras diariamente. Mas tinha vários utensílios simples e bem desenhados, como os recipientes de alumínio para guardar alimentos secos e a tábua de passar dobrável, que liberava a área da janela. 

O espaço era projetado como estação de trabalho, com todos os utensílios e equipamentos à mão das mulheres (eram elas que cozinhavam), como extensões de seus corpos.

A arquiteta austríaca foi presa pelos nazistas, mas escapou com vida, depois de 5 anos de reclusão. Morreu em 2000, aos 103 anos.

Seu modelo de cozinha repercutiu no mundo inteiro e se tornou, quem diria, a ‘cozinha americana’. Ainda é base de muitos projetos. O objetivo de Grete Lihotzky era liberar as mulheres dos pesados fardos de cozinhar, passar e lavar, num período em que poucas e poucos defendiam o trabalho doméstico compartilhado entre homens e mulheres.

A notar o interesse (ainda!) pelo design moderno dos anos 1920, exibido junto com peças como o espremedor de limão de Philip Starck, objeto de um período em que a cozinha sofreu profundas transformações, afetadas pela cultura narcísica dos anos 1980...

 


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