A Mona Lisa do design
Ethel Leon
Os cânones são sempre um convite para irreverências. Na tradição do design europeu a peça modelar é a mais que sesquicentenária Thonet, especialmente a consagrada 14, que foi exportada da Austria e da Alemanha para todos os cantos do mundo.
Ela se firmou como cadeira moderna graças à frugalidade de sua construção, sua antecipação do golpe de chicote do Art Nouveau e também por não se destinar exclusivamente a um tipo de ambiente. Serviu para restaurantes e bares, residências – inclusive de muitas fazendas brasileiras -, ateliês de artistas, lojas e escritórios.
Muitos designers já a releram, muitas empresas a copiaram, alguns artistas já a reproduziram em telas. Miró, por exemplo, trabalhou escultoricamente suas formas aproximando-as de corpo feminino.
Recentemente o franco-argentino Pablo Reinoso, artista plástico e designer, decidiu trabalhar a Thonet em várias possibilidades, desdobrando e alongando seu encosto, emaranhando a palha antes de trançada, recriando os assentos.
Há pouco tempo também, no Brasil, o designer venezuelano-brasileiro Pedro Useche fez uma instalação com as cadeiras de boteco, aquelas de ferro tubular, que empresas de bebidas adotam. Ao prolongar seu encosto para o alto, Useche criou uma espécie de ‘costas quentes’, demarcação de espaço, como se estivesse protegendo a hora de lazer dos atropelos do entorno.
Tão presentes e há tanto tempo em nossa paisagem, essas cadeiras precisam mesmo de releituras para lembrar que elas não são naturais como os morangos e as batatas. (Ups, quem disse que batatas e morangos, são 'naturais'?)
|
|