O lava-rápido brasileiro
Ethel Leon
A máquina está lá para ornamentar. Ela cumpre a mesma função que os fogões modernos, importados dos Estados Unidos ou da Alemanha, dos primeiros 30 anos do século passado, que as donas de casa brasileiras não deixavam ser manejados ou ‘pilotados’ pelas empregadas.
Parece a introdução dos supermercados no Brasil, durante os anos 1950, quando as madames paulistas faziam questão de circular nos corredores usando chapéus e estolas de pele. Hoje se discute mais a obsolescência dos sacos plásticos do que o brutalizador trabalho dos adolescentes de ensacar e carregar compras.
O design no Brasil , nos anos 1950, era também uma espécie de ornamento modernizador. Nada de chegar perto de linhas de produção industriais, desenvolver modelos, inventar. Copiava-se, repetia-se, mas chamava-se o artista gráfico para criar embalagem e marca.
Os lava-rápidos dos postos parecem mesmo meia boca. Não fosse o trabalho braçal dos frentistas, e o automóvel sairia mais ou menos lavado. Afinal, para que tanta lavagem, especialmente na parte externa dos veículos, sujeitos ao pó, á chuvas, à poluição?
Já as cancelas de estacionamentos parecem funcionar razoavelmente bem. Nem por isso aqui entre nós, excluem os ‘guardadores de máquinas’. Em muitos shopping centers lá estão postados os funcionários que, eventualmente, retiram o cartão para o motorista. Ou os postos de pedágio nas estradas que não prescindem de atendentes.
O downsizing das empresas parece ter abolido a figura do ascensorista. Em compensação, todo prédio grande tem lá seus seguranças, que controlam...as cancelas eletrônicas.
A impressão que tenho é que, enquanto permanecerem essas bases fajutas de nossa modernização, o design industrial, de uso público e pertinência, vai continuar sendo exceção. Alguém me diga que estou errada, por favor.
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