O Brasil perdeu um de seus expoentes em design de produtos: o engenheiro José Carlos Bornancini faleceu em 24 de janeiro passado, aos 85 anos. Autor de grande número de projetos industriais - de armas, talheres, tratores, fogões, baldes industriais e interiores de elevadores, entre tantos outros
Premiadíssimo com seu sócio Nelson Ivan Petzold, o gaúcho Bornancini foi capaz de quebrar vícios repetitivos de desenho, que demonstravam apenas uma certa inércia das indústrias e a ausência de pesquisa das equipes de desenvolvimento de produtos. Foi assim que chegou às tesouras para destros e canhotos com anéis de neoprene; à consultoria para que a fábrica Todeschini substituísse os tradicionais acordeões – cada vez menos vendáveis - por armários componíveis de cozinha.
Bornancini sempre assinou revistas estrangeiras e pesquisava incessantemente patentes industriais, tentando introduzir novos materiais e técnicas em seus projetos. Talvez para cada um dos projetos efetivamente desenvolvidos, ele tivesse mais de dez encaminhados. Como designer de produtos tão diversos, ganhou as características de não aceitar os fatos e as coisas no estado em que se apresentam, pensando sempre em modificá-las para melhor.
Não mantinha crenças ortodoxas no plano das técnicas, ao contrário. Foi desse modo que apostou nos ‘pontos vermelhos’, rubros parafusos de cabeçote plástico, substituindo o metal em tesouras (e que se tornaram, mais tarde, um lugar comum em todo o mundo). Também no projeto do fogão Walig Nordeste, que reduziu a altura dos fogões para atender o público-alvo, Bornancini e Petzold demonstraram acreditar mais na sua pesquisa do que no fato consumado: os fogões fabricados e distribuídos no Brasil, na época, importavam as medidas de similares norte-americanos.
No entanto, apesar da vertente ‘professor Pardal’, compatível com sua formação, nunca descuidou do resultado formal dos objetos que assinava. Comprometido com a produção industrial em escala, Bornancini foi também professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Junto aos pares, sempre demonstrou um humor notável: contava casos e piadas como ninguém e praticava a auto-gozação como permanente exercício crítico.
Se o céu existe, e é aquele ambiente dito perfeito, Bornancini certamente está lá, desafiando com a costumeira inquietude, os equipamentos, questionando sua calmaria feita de fixidez e imutabilidade.