Ano: II Número: 24
ISSN: 1983-005X
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Declaração sobre Desenho Industrial para o Desenvolvimento, de Ahmedabad
Texto de assinatura coletiva
Tradutor(a):Yvonne Mautner e Natália Leon Nunes

 
Unido
-Icsid, ÍNDIA  14 a 24 de janeiro de 1979  

Design para o desenvolvimento
 

1 O Encontro para a promoção do Desenho Industrial em Países em Desenvolvimento (janeiro de 1979) promovido pela Organização de Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas (Unido) em cooperação com o Conselho Internacional das Sociedades de Desenho Industrial (Icsid) e o Instituto Nacional de Design da Índia, alinhado à Declaração e Plano de Ação de Lima e seguindo o Memorando de Entendimento assinado entre a Unido e Icsid em abril de 1977, para acelerar atividades de design conjuntas em países em desenvolvimento, em decorrência da satisfação de necessidades urgentes neste campo, e levar em frente, da forma mais ampla as atividades promocionais para alertar países em desenvolvimento para as vantagens de incluir o desenho industrial em seu processo de planejamento,

Adota

A declaração Ahmedabad sobre Desenho Industrial para o Desenvolvimento.

2 Tendo revisto a situação, com respeito ao desenho industrial, em alguns países em desenvolvimento,

3 Tendo em mente que o design melhora a função, facilita a comunicação, simplifica a produção, uso e manutenção,

4 Reconhecendo que o problema encarado pela maioria dos países em desenvolvimento é que mesmo sendo o design uma necessidade real, ainda não é sentido como suficientemente necessário,

5 Percebendo que a metodologia de design não é conhecida de forma adequada, e é mal usada enquanto recurso econômico,

6 Tendo conhecimento de que poucos países têm recursos de organização, de financiamento e profissionais que possibilitem que o  desenho industrial assuma seu papel,

7 Convencidos de que o design pode ajudar a melhorar a qualidade de vida no planejamento econômico e que o designer pode se tornar um agente do progresso,

8 Reconhecendo que por meio do design, tradições culturais relevantes podem ser preservadas e utilizadas com vantagem,

9 Reconhecendo que a cooperação entre a Unido e o a Icsid poderia não só avançar na transferência de tecnologia, know-how e informação no campo do desenho industrial, como também estimular a auto-confiança,

10 Levando em conta que a Unido e o Icsid concordaram em levar à frente, da forma mais ampla possível, as atividades necessárias para alertar os países em desenvolvimento das vantagens de incluir o desenho industrial em seu processo de planejamento,

11 Tendo em mente que para um primeiro passo para atingir estes objetivos, este Encontro acordou em ajudar a iniciar a cooperação e trocas entre instituições e designers preocupados com problemas dos países em desenvolvimento

12 Tendo decidido adotar uma posição comum e uma linha de ação, o Encontro

Declara solenemente

13 Sua firme convicção de que o design possa ser uma força poderosa para melhorar a qualidade de vida nos países em desenvolvimento;  

14 Acreditar firmemente que designers têm de ter uma compreensão clara dos valores de sua sociedade e do que constitui o standard de vida de seu próprio povo;

15 Que o design em países em desenvolvimento precisa estar comprometido com a busca de respostas locais para necessidades locais, usando habilidades, materiais e tradições nativas, ao mesmo tempo que absorve o extraordinário poder que a ciência e a tecnologia lhes pode agregar;

16 Que designers em qualquer parte do mundo têm de trabalhar para desenvolver um novo sistema de valores que dissolva as desastrosas divisões entre os mundos do desperdício e do desejo, preservar a identidade dos povos e atender às áreas prioritárias de necessidades para a maioria da humanidade;

17 Tendo em vista o porvir, o Encontro adota as várias medidas propostas no seguinte Plano de Ação.  
 
 
B. Plano de Ação

Medidas

1 Países em desenvolvimento são encorajados a considerar a criação de instituições de design, centros de design e/ou outras práticas de design e instituições promocionais para difundir a metodologia, a percepção e a consciência do design.

2. Estas instituições devem desenvolver relações próximas e sustentadas com a atividade industrial no governo e no setor privado em todos os níveis, incluindo indústrias pesadas, indústrias de médio e pequeno porte, empresas rurais e de artesanias, assim como com instituições educacionais e de pesquisa e com o povo, usuário final do design.

3 Nos países em desenvolvimento,  a criação de associações profissionais de design deve ser seriamente considerada e tais esforços devem receber auxílio. Estas associações  podem funcionar paralelas às instituições de design promocional .

4 Instituições de design são dignas de apoio financeiro e de outra natureza  por parte de  seus governos, que devem ser a principal fonte de auxílio neste estágio inicial do desenvolvimento.

5 Estas instituições devem trabalhar para estabelecer uma prioridade para o design industrial por meio da criação de uma consciência nacional do design. Elas devem acelerar a percepção que em todas as áreas de gastos públicos, a integração do design no processo de planejamento pode assegurar ótimas qualidade e utilização de recursos. Elas devem comunicar que o design industrial diz respeito à melhoria do nosso meio ambiente por meio do uso apropriado das matérias primas, produtividade aumentada, com a proteção da saúde, segurança humana, recursos naturais e culturais, com a intensificação dos ambientes de trabalho e com a expansão das oportunidades e ganhos de trabalho em todos os níveis, incluindo exportações. Por essa razão, ações de design devem ser incorporadas em planos para o desenvolvimento nacional.

6 Para atingir estes propósitos, tais instituições em países em desenvolvimento devem considerar a importância de articular uma declaração sobre a importância do design que pode servir como consenso nacional sobre a necessidade de criar uma consciência do design e para utilizar o design como uma disciplina para melhor planejamento.

7 Tais instituições devem realçar a importância de estabelecer e melhorar os recursos para a educação e treinamento em design,  melhorando a experiência do design, assim como auxiliando designers a agir como educadores e catalisadores para a consciência do design, não importa com o quê eles trabalhem. Assim, as habilidades do design podem ser disseminadas em diversos níveis simultaneamente e, consequentemente, influenciar a atividade industrial em larga escala no mundo em desenvolvimento.

8 A criação de prêmios de design nacional, exposições, documentação e programas de publicação deve ser encorajada como auxiliar da compreensão mais ampla do design industrial e de recursos e tradições do design.

9 Sistemas de cooperação ativa devem ser estabelecidos e promovidos entre instituições de design dos países  desenvolvidos e dos países menos desenvolvidos, e entre estas instituições no mundo menos desenvolvido.

10. Estes acordos de cooperação podem ser bilaterais assim como multilaterais. Organizações internacionais incluindo Icsid, Unido, Unesco, Unctad, WHO, Unep, Ibrd, o Banco de Desenvolvimento da Ásia, o Banco de Desenvolvimento da África, Iadb e outros devem ser encorajados a proporcionar auxílio ativo a tais acordos de cooperação.

No momento em que o conceito de globalização perdeu definitivamente qualquer aura redentora, após a crise financeira de 2008, vale a pena ler a Declaração de Ahmedabad, que situa papel central do design no desenvolvimento e na redução das distâncias científico-tecnológicas entre países.

O designer (no caso, industrial) é chamado a organizar-se, promover ações educativas e promocionais, sob os auspícios dos governos locais com o objetivo de integrar diversas atividade do design nas políticas de desenvolvimento. 

As décadas que seguiram viram, no entanto, o design definir-se enquanto prática mais ligada a software do que a hardware e também a atividades artesanais de pequena monta, muitas vezes ligado ao comércio do luxo e do desperdício.

Certamente, o novo momento mundial reclama atuação mais ampla do design, mais afeito a práticas socialmente e ambientalmente comprometidas, embora não mais apenas identificado com as indústrias.

 


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