Dois objetos prosaicos do cotidiano vêm me tirando do sério: a geladeira e o teclado de meu computador fixo.
Nunca me queixei das geladeiras, cerca de oito de tamanhos e marcas variadas, ao longo da minha vida. Até mesmo a que tive em casa na França, pouco maior que um frigobar de hotel, perfeita para os hábitos de compra quase cotidiana de ingredientes, era capaz de armazenar muitos itens por mais tempo e nunca reclamei dela.
Pois bem, no ano passado minha geladeira quebrou e o serviço técnico não conseguiu consertá-la. Era de esperar. Serviços técnicos hoje são eufemismo para a mera substituição de peças, a habilidade de entender mecanismos, motores e dispositivos tendo-se perdido ou concentrado em parques industriais.
OK, me rendo e vamos lá comprar outra geladeira. Escolhi uma grande, como a anterior, de porta única e freezer acima do refrigerador. A empresa que ficou de entregá-la avisou – somente no dia marcado para a entrega – que aquele modelo estava esgotado. Na época, eu estava viajando e decidi por uma escolha de emergência, pela Internet, sem examinar o mastodonte que minha cozinha passou a abrigar.
A capacidade de armazenamento é a mesma da minha anterior, supostamente. Mas a bendita Brastemp é feita para parecer maior e tem em seu desenho de fachada uma espécie de ridículo frontão. O interior é terrível. Atendendo a apelos de marketing e a falatórios de TV (já explico), o armário gelado tem montes de traquitanas inúteis que só atravancam o interior.
Compartimentozinhos, cestinhas, gavetinhas e porta-latas roubam espaço precioso. Retirei os removíveis e a situação melhorou. Mas alguns não saem, a não ser que eu danifique o eletrodoméstico, como a geringonça no freezer desenhada para pendurar duas taças. Vejam só, a geladeira é de 400 e poucos litros, pensada, portanto, para famílias de 3, 4 pessoas. Para que servem apenas duas taças geladas penduradas como morcegos, de cabeça para baixo?
A prateleirinha de ovos não é fixa. E a ideia subjacente é a da máxima liberdade. Você coloca os ovos onde for melhor, de preferência longe da porta. Isso, acabei sabendo depois, porque um programa de TV, provavelmente um especial sobre alimentação, anunciou de forma bombástica e calamitosa que ovos guardados em porta de geladeira são ameaça à saúde pública. Bom, se disponho a tal da prateleira na porta, ela ocupa não o espaço total, que é larguíssimo, mas impede que qualquer outra coisa seja guardada em suas proximidades. Nas prateleiras internas ocupa um lugar danado.
Acabei por escondê-la sobre o tal do porta-latas, de forma transversal à porta. Desse modo, não enxergo quantos ovos há em casa e, quando vou retirar a bandeja, se não tiver destreza e calma, acabo derrubando uma ou duas unidades. Essa geladeira enorme vive me deixando na mão, não consigo guardar tudo que gostaria e, em dias de festa, é desesperador!
Eu poderia continuar listando problemas, mas não quero cansar os leitores. Minha amiga Leda Brandão, arquiteta, comprou para sua casa de praia o modelo similar da Cônsul e também vive às voltas com a falta de espaço. Só que, como a marca é mais ‘popular’, seu modelo tem menos traquitanas e acaba sendo melhor que a minha, ironia, mais cara.
Maravilha, não?
Agora, o teclado: meu Dell começou a bambear e decidi substituir, mantendo a coerência da marca. Encomendei pela Internet sem a menor preocupação. Afinal era a mesma empresa do anterior, que me serviu bem durante três anos.
Que nada! O dispositivo de incliná-lo mudou. Para muito pior. A inclinação é mínima e, se tento que a parte superior do teclado fique mais elevada, a pecinha de apoio simplesmente dobra, deixando o teclado plano. Em princípio, achei que era eu que não conseguia entender o mecanismo, afinal sempre fui desajeitada etc.. Nada disso! O problema está mesmo no design do teclado.
Aproveito para reclamar de outro problema ridículo, presente em todos os teclados que já vi: por que a tecla CAPS LOCK FICA TÃO PERTO (ops) fica tão próxima da shift, induzindo a erros de fixar as caixas altas? E por que a luzinha que acende para alertar o erro fica do outro lado do teclado e é tão tênue?
Graves problemas de interface, acredito. De design, portanto.
A designer Silvia Fernández me contou, certa vez, que Dieter Rams tem o mesmo carro há décadas e se recusa a trocá-lo, por princípio. Sempre achei essa postura exagerada, afinal há ganhos evidentes nos novos automóveis, a começar pelos air bags e freios. Depois da lamentável experiência de compra da Brastemp e desse teclado Dell, confesso que entendo as razões do legendário designer da Braun.