Voltei de viagem há pouco tempo. Sinto-me compelido a colocar no papel uma experiência importante, que julgo oportuno compartilhar aqui antes que os ricos detalhes me escapem.
Como professor, mergulhado de corpo e alma no ofício há dez anos, costumo prestar atenção na prática de meus colegas como forma de aprimorar o meu próprio fazer pedagógico.
Pois certo workshop, no qual me inscrevi na expectativa de alargar minha compreensão tanto sobre o assunto em pauta como sobre estratégias diferenciadas de ensino, serviu como material para profundas reflexões de base epistemológica e educacional.
Dedicado à exploração da paisagem tipográfica de uma cidade histórica, a oficina muito me ensinou sobre como ser um "bom" professor.
Acostumado que estou em discutir assuntos da metodologia, surpreendeu-me o ineditismo dos procedimentos adotados no referido workshop, que abaixo descrevo em detalhes.
A título de humilde contribuição, sugiro-lhe a alcunha de Método “Então é isso, gente”.
1. Chegue atrasado. A pontualidade é defeito dos ansiosos. O atraso funciona como catalisador das expectativas, ao gerar na audiência uma esperança de que algo de muito bom – fruto do trabalho de profissionais muito bons – está prestes a acontecer. Use o bom senso para estipular o tempo ideal; na falta dele, 40 minutos é um parâmetro adequado.
2. Peça para que todos se apresentem. Esgote o tempo que lhe resta da primeira metade do workshop com a apresentação de todos os participantes. Não se preocupe se o tempo é escasso para a sua proposta de trabalho – afinal, você já sabe que não dará conta do que prometeu.
3. Não prepare o "passeio". Apesar do workshop se propor a explorar a paisagem tipográfica de determinado local, não faça um pré-mapeamento, pois isso pode atrapalhar o frescor das observações. Vá ao cenário sem ter ideia dos lugares interessantes a se visitar, do tempo que esta atividade consumirá e do trajeto que se seguirá. Isso leva ao item 4.
4. Tenha um bom guia turístico, ou ainda participantes locais no workshop. Como a preparação é desnecessária, ou até prejudicial, conte com o conhecimento de pessoas que tenham uma noção mínima a respeito do local a ser explorado. Assim, você não corre o risco de se perder, ou cair em cantos obscuros da cidade.
5. Peça aos participantes que fotografem todas as manifestações tipográficas que encontrarem. Não importa se o grupo ficar parecendo excursão de oriental, fotografando todos a mesma plaquinha de táxi ou a mesma fachada do fórum. O importante é que todos se sintam úteis na coleta do material empírico.
6. Domine alguns softwares básicos de Mac. Você vai precisar disso em dois momentos: quando for baixar as fotos de vinte smartphones para uma pasta do computador; e quando for correr a apresentação de slides com o produto do levantamento de campo.
7. Projete as fotos com efeitos visuais. Chegou o momento de observar a produção. Como o material é volumoso, deixe que o computador organize randomicamente as imagens. Para não correr o risco de exagerar no enfado, programe a mudança das imagens em ritmo acelerado. E – muito importante – não deixe de elogiar o software e sua capacidade de organização.
8. “Então é isso, gente”. Não comente, não analise, não categorize, não conclua. O importante é deixar no ar. O grande mérito desta metodologia é a abertura semântica; qualquer tentativa de interpretação pode prejudicar o processo individual de elaboração intelectual dos participantes.
Guilherme Mirage Umeda é doutor pela Faculdade de Educação da USP e professor da ESPM-SP.