O legado intelectual de Décio Pignatari
Giorgio Giorgi Jr.
Exímio sacador, Décio Pignatari nos encantava e divertia em suas aulas, ao fazer as mais inesperadas associações. Tal competência, somada a memória e erudição prodigiosas, permitia-lhe dizer-se e desdizer-se com o mesmo brilho argumentativo. Ao fazê-lo, exercitava os neurônios e, de quebra, desconcertava as inevitáveis hordas de bajuladores. Sempre houve quem - pelas costas, é claro! - o chamasse de chutador. Quem dera...
Aos designers minimamente atentos e curiosos, matou a cobra e mostrou o pau. Seus poemas e textos teóricos, em bloco, constituem uma caixa de espelhos que reflete múltiplos aspectos do exercício do projeto. A ênfase na consciência de linguagem - ou seja, na consciência da natureza do suporte físico a partir do qual se articula toda poética, verbal ou não-verbal - é preponderante nesse sentido.
Tendo transitado com brilho por múltiplas linguagens, sempre alerta às armadilhas do automatismo verbal, enquadrou com a clareza possível o conceito de ícone trazido à tona pela Semiótica de Charles S. Peirce (atenção, incautos, nada a ver com o significado corriqueiro do termo). Ao acentuar a especificidade - e, portanto, a intradutibilidade - do suporte físico, ajudou a traçar o mapa do território do possível, onde técnica e poética podem flertar e, se o acaso permitir, até namorar...
Ao partir, além da saudade, nos deixa a batata quente de seu legado intelectual. Temo não estarmos à altura de tão preciosa dádiva.
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Comentários
carlos zibel
20/12/2012
Giorgio, e Ethel, justa homenagem a esse inesquecível, para quem o conheceu e aprendeu a amar- Decio Pignatari.
Dele, não saia ninguém menos que reformatado pelo convívio.
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