Ano: V Número: 51
ISSN: 1983-005X
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Noguchi, sutil e assimétrico

Ethel Leon

Vale a pena visitar a exposição de Isamu Noguchi no Instituto Tomie Ohtake. A mostra dá uma ideia do trabalho desse artista, que não separou algumas esferas da atividade. Arquitetura, escultura, paisagismo, cenários, design de móveis, todos são regidos pela noção de projetos, em sua maioria, assimétricos, geo ou  biomórficos.

Esta adoção de formas que nos aproximam de estados brutos da natureza, inclusive daquela de fato quase intocada, como a lunar, foi uma das respostas encontrada no mundo do design e da arte no pós II Guerra Mundial.

O desenho biomórfico de Noguchi, como no sofá e na banqueta, projetados para a empresa norte-americana Herman Miller, ecoou de modo não tão sutil em várias partes do mundo. O historiador do design Paul Betts descreve em seu livro The Authority of Everyday Objects uma espécie de febre que tomou conta da Alemanha dos anos 1950 e que ele denomina de Nierentisch, justamente a forma ameboide ou que lembra um rim, como resposta às linhas retas de uma modernidade fria e insensível.

Reduzir o emprego de materiais, fazê-los ‘falar’, ´para Noguchi, significou constelar-se com artistas como Arp e Giacometti também ao tecnólogo Richard Buckminster Fuller, cujo rosto esculpido por Noguchi está na mostra paulistana. Pois não há em Noguchi uma negação da era moderna. Mas a necessidade de ela manter seu contato com o passado.

Noguchi não separou tradição e modernidade. A pesquisa sobre as luminárias de papel arroz, as Akari são prova disso. Assim como seu respeito pelas formas elaboradas por atividades artesanais tão cheias de conteúdo como as japonesas.

As Akari e a sutileza de sua luz nos lembram o que Junichiro Tanikazi nos explica em seu lindo livro Em Louvor da Sombra (leia aqui a resenha de Gilberto Paim sobre o livro: http://www.agitprop.com.br/index.cfm?pag=leitura_det&id=16&Titulo=leitura).

A luz suave, anterior à eletricidade, marca profundamente os ambientes e os objetos cotidianos japoneses. A laca, que a muitos parece vulgarmente brilhante,  ganha outra aparência sob luz indireta e suave.

A conversa do artista nipo-americano com os surrealistas também leva a esta noção do artista total, criação do romantismo. Como Salvador Dali, Noguchi  não vê fronteiras para a atividade artística que vai do móvel à joia, do cartaz à pintura. Próximo desta vertente radical da arte moderna, ele demonstra que nem tudo pode estar contido nas linhas claras da racionalidade.

Na exposição há pouco da produção de Noguchi como designer. Além do conhecido sofá (que não está no Tomie Ohtake), o artista projetou uma poltrona de metal e bambu e duas mesas de café. A segunda delas, produzida pela Herman Miller, quando George Nelson era o diretor de design da empresa, foi copiada por inúmeras empresas mundo afora. No Brasil, desapareceu dos representantes da Herman Miller, incomodados por não saber como enfrentar o volume de pastiches.

Pois as assimetrias, a eventual justaposição de materiais (madeira laqueada e vidro, metal e bambu) seduziram o mundo por sua aparente simplicidade. Aparente, apenas aparente.

 


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