Ano: V Número: 51
ISSN: 1983-005X
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O design e as manifestações de rua

As manifestações ocorridas em mais de 300 cidades brasileiras vêm apresentando as mais distintas reivindicações. Vemos movimentos de milhares (pela redução da tarifa de transporte) até atos de desobediência civil de um pequeno grupo de aposentados da Varig. Médicos, caminhoneiros, lixeiros, motoristas de ônibus, portuários são muitos os que se expressam reivindicando uma vida melhor.

E uma vida melhor sempre esteve na pauta e nos discursos do design, pelo menos de cem anos para cá.

Ao examinar os conteúdos de muitas manifestações, perguntamos o que o design tem a ver com o que está sendo reivindicado ou repudiado. Muito.

Ao apontar a direção de tarifas zero, ou seja, responsabilizar tributariamente o conjunto da sociedade pela questão do transporte de massas, o Movimento Passe Livre, também tem indicado os problemas sérios dos transportes enquanto sistema; dos meios de transporte; dos insumos necessários para o bom funcionamento dos ônibus, trens e metrôs das grandes cidades.

A odiosa catraca, denunciada há tantos anos pelo designer Joaquim Redig, expressa essa política que é contra o usuário - que ainda tem de viajar em ônibus com chassis de caminhões, sem projeto decente de acessibilidade a quem não conseguir vencer enormes degraus de seus vestíbulos. 

Os ônibus urbanos, denunciou recentemente a professora Marilena Chauí, se destinam a transportar coisas e não pessoas. Menos ainda pessoas com coisas na mão. Ou pessoas com crianças no colo ou em carrinhos.  Nem um só espaço concebido para acondicionar mochilas ou sacolas, nem o menor gesto de atender os transeuntes.

A carência de um sistema de mapas das localidades; de informações de trajetos; de horários; de interligação com outros meios de transporte só completa esse quadro. Quantos de nós já fomos parados na rua ou já abordamos outras pessoas para perguntar sobre um endereço, uma parada de ônibus?

E quem diz que nossa população, de baixa escolaridade, não se beneficiaria com mapas e diagramas é porque nunca andou de metrô! Os fluxos do metrô, a simplificação de seus mapas, herança do tube londrino, de longa data, são facilmente absorvidos pelos usuários, pois, claro, foram feitos pensando neles, no uso, na facilidade da comunicação.

Não só nos transportes a política anti-público transparece. Não há banheiros nas cidades. Não há qualquer acesso a água. Há poucos espaços de lazer públicos, poucos parques. As calçadas, mal feitas, vão cedendo lugar às ruas entupidas de carros. As barreiras se sucedem, se atropelam, enfeiam nossas ruas.

É como se nunca se houvesse pensado nas demandas de uma sociedade urbanizada e de massas entre nós. A chamada nova classe C, que frequenta universidades particulares, se desloca muito mais pelas cidades. Enfrenta problemas seríssimos da chamada mobilidade.

O sonho do automóvel se dissolve nos mega-engarrafamentos, também agravados pelas deficiências dos sistemas de informação viária. O acesso a equipamentos culturais e de lazer, poucos, também é dificultado por várias razões, mas também pela ausência de política pública de informação nessa área.

A Agitprop é uma revista comprometida com o design brasileiro. Não nos cabe aqui analisar as manifestações e as reviravoltas institucionais que elas vêm produzindo. Mas, disso temos certeza, políticas públicas que excluem design excluem respeito aos cidadãos.

Os designers que entendem o alcance de sua atuação estão convidados a apresentar aqui seus projetos por cidades melhores, por um país mais justo.

 

Equipe Agitprop

 


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