Ano: V Número: 52
ISSN: 1983-005X
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Cabelos brancos, óculos ou bengalas

Ethel Leon

Só recentemente tomei conhecimento da iniciativa dos publicitários da agência Garage Interactive Marketing de São Paulo para mudar o isotipo que caracteriza os idosos brasileiros. Sensacional a iniciativa e as respostas, as mais diversas.

O conceito de idoso, hoje, é complicado. Idoso é quem tem mais de 60 anos. No entanto, para a previdência social, a aposentadoria por idade só vale a partir dos 65. Para os homens. Para as mulheres, é 60 anos mesmo.

Segundo estimativas das Nações Unidas, os idosos formam o grupo que mais cresce no mundo e, em breve, haverá 1 bilhão deles no mundo. Dois bilhões em 2050.

E o conceito é esquisito mesmo, sobretudo num país tão desigual e machista como o Brasil. Quem tem acesso a saúde de qualidade, não foi devastado por trabalhos insalubres, conseguiu ter boa rede de sociabilidade, entre outros fatores, tem melhor envelhecimento do que aqueles que não tiveram esses privilégios (sim, aqui entre nós, não são direitos, mas privilégios). Alguém chama Caetano Veloso ou Chico Buarque de ‘idoso’?

Já as mulheres...Cansamos de assistir a manifestações de preconceito com relação àquelas de 50, 60 e 70 anos. É  ‘ridículo’  uma mulher ser mais velha que seu par; é o escândalo de um biquíni de septuagenária...

E, claro, tal sorte de preconceitos não poderia deixar de influir nas escolhas de sinais gráficos. No caso, o isotipo contra o qual os publicitários se rebelaram é de uma pessoa curvada e apoiada em bengala.

Há propostas muito boas, vejam no link: https://www.itsnoon.net/chamada/135/criacoes/.

A minha escolhida é muito simpática, assinada por Valter Hara, pois apresenta o número 60 fazendo as vezes de óculos num rosto sorridente e neutro (nem masculino nem feminino). Vejam ao lado... óculos, difícil escapar deles acima dos 55 anos. Já bengala, quantas pessoas de mais de 80 anos a dispensam?

Temos outras formas de discriminação nos sinais gráficos?
 

 


Comentários

Heloísa C Dallari
30/08/2013

Reflexão deliciosa e pertinente. Afinal de contas o conceito de idoso é tão diverso quanto a própria ideia de brasilidade num país tão multifacetado quanto o nosso. Partilho da sua escolha pela isomarca que sorri serenamente. Obrigada Ethel!

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