O mundo do design brasileiro acaba de perder uma grande pessoa. André Stolarski faleceu, aos 43 anos, no dia 31 de agosto, de complicações decorrentes de tratamento de câncer.
Designer gráfico, agitador cultural, pesquisador, André terminou no ano passado seu mestrado na FAU-USP discutindo as relações entre design e arte - Design e arte: campo minado uma antologia de discursos comentados e uma proposta disciplinar é o título de seu trabalho. Ninguém melhor do que ele para discutir o tema, depois de ter feito a impecável curadoria da exposição concreta 56, investigando as relações entre artistas concretistas e o nascente campo do design brasileiro na produção bi e tridimensional.
André também se preocupou em qualificar o design brasileiro, e fez isso incansavelmente, ao traduzir textos importantes, como Elementos do estilo tipográfico, Pensar com tipos e O ABC da Bauhaus. Ele também escrevia, participava de debates, organizava mostras. Autor de livro e vídeo sobre Alexandre Wollner, teve a grande preocupação de estabelecer relações do passado com o presente, retirando do esquecimento nomes, obras e práticas diluídas ou esquecidas.
Uma de suas mais complexas e recentes empreitadas foi na Fundação Bienal de São Paulo, em que tratou de recuperar ‘arqueologicamente’, como dizia, o trabalho de identidade visual da instituição, realizado por Aloísio Magalhães. Não para eternizá-lo, gelificado e desprovido de sentido, mas para atualizá-lo diante das novas questões da contemporaneidade.
Tive o prazer de trabalhar com André – o diálogo com ele sempre foi o melhor – na exposição Singular e Plural, 50 anos de design brasileiro, montada no Tomie Ohtake, em que eu era a curadora e ele o designer encarregado da expografia. Foi quando o conheci. Depois disso, seguiram-se mesas redondas conjuntas, participação em júris, conversas informais e sua colaboração na Agitprop, sempre de tão alta qualidade e generosidade.
No ano passado nos encontramos junto a arquitetos, designers e artistas da África do Sul, que vieram a São Paulo participar da divulgação do trabalho Designing South Africa. No encontro realizado na Fundação Getúlio Vargas, André era o mais otimista: acreditava firmemente que os organizadores, em diversos níveis, da Copa do Mundo no Brasil, se interessariam pelo que os sul-africanos teriam a nos ensinar.
Esse era um traço constante de sua personalidade: o otimismo, muito comum em realizadores que conseguem enxergar além das pequenas questões comezinhas e têm projeto mais alargado de vida.
Em janeiro, ao comentar seu mestrado, que ele gentilmente me enviou, ficamos de organizar um debate discutindo as relações entre design e arte em museus brasileiros, de certa forma, uma conversa entre seu mestrado e meu doutorado. Chegamos a nos falar, mas ele estava em tratamento e resolvemos adiar o projeto, que, infelizmente, não chegou a ocorrer.
Saber que André não está mais entre nós e que faleceu tão jovem provoca dor e certa perplexidade em muitos dos que conviveram com ele.
Nós, da Agitprop, estamos de luto por essa perda.
Nossa melhor homenagem ao querido André Stolarski é republicar seus textos, de grande pertinência e atualidade.
Que eles motivem os jovens estudantes e profissionais a encarar a atividade de modo tão entusiasmado e sério, como André fazia.