Faz alguns meses foram substituídos muitos semáforos para pedestres em São Paulo, capital.
Os responsáveis pela nova forma de comunicação talvez achem que a vida dos transeuntes nesta cidade é muito amena, contemplativa e monótona e decidiram injetar doses de emoção taquicárdica na vida cotidiana. Para que andar de bugue nas areias de Natal ou de Beberibe? (Os motoristas dos carrinhos sempre perguntam “com emoção ou sem emoção?” ) Ser pedestre, usuário de ônibus, metrô e trem, em São Paulo é ter fortes emoções todos os dias.
O tal do semáforo é fantástico, porque quase inacreditável. A luz verde acende por esbaforidos segundos e o pedestre olha aquela fileira de carros e ônibus parados à sua direita, motocicletas resfolegando de aflição, motoristas acelerando ameaçadoramente, o asfalto quente, o arremate defeituoso da calçada e da rua e a luz verde que...rapidamente é substituída por uma vermelha piscante. Acima do semáforo, uma placa avisa “SÓ atravesse no verde!”
Apesar de estranhar os dizeres, já que o código das luzes, vermelha e verde já está tão incorporado que dispensa palavras, eu costumava respeitar a advertência da placa. Mas um dia percebi que a luz vermelha fica piscando segundos suficientes para que conseguisse atravessar a rua.
Então alguém me contou que os responsáveis (sic) por esta nova sinalização explicaram que é assim mesmo, que o pedestre, ao avistar a luz vermelha piscante, tem ainda algum tempo para atravessar a rua. Ele não pode fazê-lo quando a luz para de piscar!
Achei que era mentira de quem me contou, há limites para as estultices. Para minha decepção, não é difamação, encontro na web notícias com explicações das autoridades de que é assim mesmo...
Presumo que a mudança deva ter sido planejada por defensores ferrenhos do automóvel, para quem o pedestre é espécie de inimigo público. O semáforo bipolar pode provocar aumento da pressão cardíaca e matar o cidadão atravessante; sua dificuldade de entender a mensagem ambígua dessa pisca-pisca pode simplesmente levá-lo a demorar-se na pista e facilitar o atropelamento. Será isso: um plano arquitetado para extermínio dos pedestres paulistanos?
Não adianta! Somos muitos, estamos acostumados às artimanhas dos motores, dos semáforos e das placas enganosas e venceremos!