Ano: V Número: 54
ISSN: 1985-005X
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Andador de bebês

Ethel Leon

Recentemente a justiça brasileira proibiu a venda de andadores para bebês em todo o território nacional. A medida responde a uma campanha feita por pediatras desde o início do ano, que se baseou em avalições dos riscos ao desenvolvimento infantil e também aos números de acidentes, muitos deles fatais, de que foram vítimas crianças pequenas.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, os bebês que usam o equipamento levam mais tempo para ficar de pé e para caminhar sem apoio, engatinham menos e têm resultados inferiores em testes de desenvolvimento. Alguns médicos argumentam que a criança muito pequena pode ter lesões nas articulações e na musculatura pelo uso de andador. Também o exercício físico é prejudicado pelo uso do andador, pois, com ele, a criança gastar menos energia do que o faria sem esse artifício.

Em julho, o Inmetro realizou uma avaliação de dez marcas disponíveis no mercado, e todas foram reprovadas. Agora, com a proibição, os fabricantes do dispositivo anunciaram que vão recorrer judicialmente da decisão. E a polêmica ganha algumas páginas de revistas e jornais. Ficamos sabendo que o andador é proibido no Canadá desde 2007.

Esta proibição é um alerta para a ‘naturalidade’ dos objetos que nos cercam. O caso do andador, menos universal que a mamadeira (veja resenha do livro O desdesign da mamadeira nesta edição), não deixa de nos sugerir algumas perguntas: Qual a base cultural de sua criação? Um produto, para ser aceito, precisa responder a um conjunto de ditas necessidades que o legitimam no mercado.

Pois bem, o que faz que pais e mães queiram apressar o desenvolvimento motor de sua cria?  Pois esta seria uma ‘necessidade’, abreviar o tempo de dependência dos bebês? A precocidade artificial estabelecida pelo andador seria um valor para pais e mães? Por que? O que está em questão? Já que, mesmo andando artificialmente, a criança de menos de um ano de idade precisa e muito – dos adultos para sobreviver.

 


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