Ano: I Número: 2
ISSN: 1983-005X
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Senna e o desenho moderno

Ethel Leon

É curioso constatar a longevidade do desenho moderno. Ele parece ressurgir a cada momento, em diversas latitudes. Uma delas, estranhamente próxima a nós, é o conjunto de itens desenhados pelo carioca Bernardo Senna para a empresa sueca Maze.

O jovem designer conta que o processo de trabalho se dá à distância: ele não acompanha protótipo, muito menos produção. A empresa aprova seus desenhos, assina-se um contrato e todo o detalhamento é feito on-line. No final do processo seguem os arquivos fechados para a Suécia. Lá a Maze trabalha com seus fornecedores, todos suecos, e exporta para outros países europeus e, mais recentemente, para a Austrália.

Suas exigências quanto aos projetos: que sejam frugais, econômicos, peças que caibam em espaços pequenos e possam auxiliar as pessoas na organização de suas coisas. “Todos os objetos”, diz Senna, “são constituídos de basicamente um componente, o gancho de parede é feito em arame de 6mm.”

Senna retoma traços e propostas dos anos 1920. Lá está o cabide de pendurar casacos, pura linha estruturante, herança do mobiliário tubular. Ah, dirão os que gostam de entender as formas na sua literalidade, mas esse cabide é “orgânico”, verde, sinuoso... Sim, mas ele não deixa de ser a linha estruturante de que fala Henry Van de Velde, o arabesco ascendente tão caro à arte islâmica, que nega relações de fundo estrutural e superfície de contato. É tudo uma coisa só, ossatura e pele.

E a prateleira zig-zag toda branca, não é uma retomada de Rietveld e seus planos? E de Mackintosh com sua fantasmagoria branca, querendo desaparecer no espaço?

Com sua lógica de superpor planos, o revisteiro cria uma noção de tridimensionalidade muito próxima ao cubismo. A ironia, se é que há uma, é que esta peça se chama Nippon, referência à bandeira japonesa, a mais amada de todas por artistas do mundo. 

No entanto, se nos anos 1920, Stam e Breuer construíam ‘na unha’ seus objetos, hoje o designer envia renderings e fotos pela Internet, raramente acompanhando a produção. O contrato se estabelece por royalties. Segundo Senna, maneira bem melhor de receber do que venda de projetos.

Mais informações: www.bernardosenna.com

 


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