Ano: II Número: 16
ISSN: 1983-005X
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Panorama do estudo das cores
Paula Csillag

Livro: O Guia Completo da Cor Autor(a): Tom Fraser e Adam Banks Editora: SENAC

Postado: 17/04/2009

   

A Editora SENAC São Paulo lançou a versão brasileira do livro The Complete Guide to Colour, publicado originalmente pela inglesa Ilex Press em 2004 (o titulo em inglês já indica sua origem, uma vez que o termo em inglês americano, seria Color). O titulo apresenta uma pretensão muito louvável dos autores: a de apresentar um guia completo sobre cores.

Fraser e Banks iniciam o livro de forma insólita, com uma epígrafe de Frank Zappa. O músico disse que escrever sobre música é “como dançar sobre arquitetura”. Eles fazem uma analogia com essa referência para tratar os escritos sobre cor, pontuando a aparente insignificância de tais escritos, mas terminam por ressaltar sua importância. Apresentam argumentos sobre a relevância desses estudos, não apenas teóricos como também práticos, para “qualquer pessoa que trabalhe com cores, antes de usar o pincel, o mouse ou outra ferramenta.

O livro, que tem 224 páginas, é organizado em blocos temáticos. O primeiro apresenta um panorama dos sistemas, teorias e semiótica das cores. O segundo abrange questões de aplicação das cores em arquitetura, fotografia, cinema e arte. O terceiro foca aspectos mercadológicos da cor, tais como a cor no ponto-de-venda, a cor em marcas e publicidade e as cores em publicações. O quarto e último bloco abrange questões técnicas relativas ao uso da cor, tais como o gerenciamento, a calibração e a captura de cores, e a manipulação de imagens em softwares.

Com referências muito precisas, sem ser demasiado acadêmico, cada um dos blocos contém capítulos de fácil leitura. A maioria dos capítulos engloba apenas uma página, o que facilita o manuseio do livro e mostra o esforço de síntese dos autores.

O projeto gráfico é impecável e as muitas imagens são excelentes, o que, para um livro sobre cor, é muito importante. Chama atenção a qualidade da impressão, que no caso da edição brasileira, é mérito da Editora SENAC. Vemos no livro, o magenta como magenta de fato, e assim por diante, feito este muito significativo, considerando-se outras publicações sobre cores que não apresentam cuidado semelhante.

O título do livro indica de cara a pretensão louvável de apresentar um guia completo sobre cores. Intenção esta, que por mais louvável que seja, seria viável? Um estudo amplo sobre cor abrange fronteiras com diversas áreas de estudo, desde a física e a química, passando pelas artes, pelo design, psicologia, comunicação, semiótica, fisiologia da percepção, produção gráfica, arquitetura, decoração e sociologia, entre outras. Desse modo, um estudo que se poderia dizer completo é quase inviável. Some-se a isto, o fato de que qualquer área de estudo pode apresentar diversas linhas de pensamento, pontos de vista conflitantes e pesquisadores de origens díspares.

Existiria algum estudo inteiramente completo? Ou a ciência seria uma instância em constante evolução? Vejam-se as explicações sobre a luz. As explicações científicas de Newton, seguidas pelas teorias de Huygens, Maxwell, Hertz e Röntgen, que esclarecem o entendimento da luz como ondas eletromagnéticas - cada comprimento de onda equivale a determinada cor - foram contrapostas pelas teorias da física quântica, defendidas por Einstein, entre outros teóricos. Para este ponto de vista, a propagação da luz se daria por meio de partículas denominadas fótons, que sepropagam em linha reta. Cada fóton consiste de energia quântica: quanto mais curto o comprimento de onda, maior a quantidade de energia quântica liberada ao atingir outra partícula. Ambos os pontos de vista a respeito da propagação da luz podem se complementar mutuamente. Segundo os neurocientistas V. Bruce, P. Green e M. Georgeson, no livro Visual Perception, no atual estado de conhecimento humano a respeito da luz, devemos contentarmo-nos com duas analogias imperfeitas (BRUCE, GREEN & GEORGESON, 2003). 

Entretanto, o aprofundamento em questões tais como a propagação da luz e o entendimento do fenômeno cor talvez não seja útil para determinados públicos. Por seu caráter “panorâmico”, trata-se de um livro indicado para iniciantes no assunto, que ainda não têm necessidade de aprofundar-se em questões específicas, mas precisam obter uma visão geral, entretanto precisa, das questões atinentes às cores.

O livro é tão bem elaborado graficamente que dá vontade de pedir aos autores para aprofundarem alguns capítulos, tais como, A Cor na Bauhaus, Cores em Publicações ou A Cor em Marcas e Na Publicidade. Já capítulos tais como Os Sistemas de Cor e Gerenciamento de Cor, apesar de sucintos, cobrem muito bem assuntos que às vezes aparecem com erros em algumas publicações.

É bom lembrar que todo autor imprime pontos de vista próprios ou estabelece um recorte temático para seus escritos. O recorte de Tom Fraser e Adam Banks converge para uma perspectiva da cor nos meios digitais, daí o valor dos capítulos referentes a esta temática serem os melhores. Fica apenas o desafio, tanto aos autores quanto às editoras envolvidas, de constante atualização, acompanhando as inovações dos softwares mencionados no livro. De qualquer maneira, os leitores são beneficiados com os repertórios riquíssimos dos dois autores: Tom Fraser, especialista em instrução profissional para software orientado para o desenho, e Adam Banks, editor-chefe da destacada revista britânica MacUser. Ganhos para os leitores.

 

FRASER, Tom e BANKS, Adam. O Guia Completo da Cor. São Paulo: SENAC, 2007. Tradução: Renata Bottini. 224 páginas. ISBN: 978-85-7359-593-2.

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Paula Csillag, presta serviços de consultoria em cores para empresas. Graduada em Artes pela ECA-USP. Mestre e Doutora, é professora de Cor e Linguagem Visual na ESPM e Belas Artes. Aquarelista premiada com exposições nacionais e internacionais. Pesquisa e publica, participando de congressos nacionais e internacionais.

 


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