Ano: V Número: 54
ISSN: 1985-005X
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Cartaz Aberto

Gabriel Manussakis

O Cartaz Aberto é um projeto que nasceu em 2011, em meu trabalho de conclusão no curso de design gráfico na Universidade Mackenzie. Esse trabalho, orientado pela professora Andréa Almeida, consistiu na elaboração de um concurso nacional de cartazes, cujo tema foi corrupção.

A participação era aberta e o resultado foi surpreendente: 126 inscrições de diversas cidades do país, repercussão positiva em dezenas de blogs sobre design e a manifestação de diversas pessoas interessadas em adquirir alguns dos 2000 exemplares impressos do cartaz vencedor.  Esta é uma característica importante do concurso, pois desde a primeira edição, o cartaz vencedor recebe uma tiragem que fica disponível para ser adquirida pelo público em geral.­

Nesse cenário de acontecimentos positivos, dar continuidade ao Cartaz Aberto, mesmo depois de formado, foi uma decisão natural. Obviamente, as dificuldades aumentaram, pois, uma vez formado, não foi mais possível contar com a estrutura que a Universidade oferece a seus alunos em fase de graduação. Assim, a segunda edição do concurso mostrou as dificuldades com as quais o Cartaz Aberto teria de lidar para dar prosseguimento a suas atividades.

O tema da segunda edição foi “Belo Monte para quem?”. A especificidade do tema refletiu não só na quantidade de cartazes inscritos, 86, uma sensível queda em relação ao concurso anterior; mas também na qualidade, pois a complexidade do tema exigiu muita pesquisa dos participantes sobre a construção da Usina de Belo Monte, o que resultou em cartazes com reflexões muito consistentes sobre o tema.

Em 2013, o Cartaz Aberto entrou em seu terceiro ano de existência, e, nesse momento, fazendo uma análise dos resultados, é possível afirmar que foi um ano transformador para o projeto. O concurso de cartazes com o tema “Cárcere Cotidiano” propôs uma reflexão sobre as diferentes formas de escravidão contemporânea. A limitação de usar apenas três cores - pois o sistema de impressão do cartaz vencedor seria a serigrafia - não inibiu as inscrições, que chegaram a 200 cartazes, o recorde. Parte desse alcance conseguido se deve à ADG e à Agitprop, que foram importantes parceiros de mídia durante o período de divulgação.

A avaliação dos cartazes reuniu diferentes gerações de profissionais na área do design gráfico nacional: Alex Mazzini, Prof. Eddy (Auresnede Pires Stephan), Ethel Leon, Guto Lacaz, Priscila Farias e Thiago Reginato. O encontro aconteceu na Apis Design Integrado, espaço gentilmente cedido pelos responsáveis pelo escritório Fabricio Marangon e Alexandre Alves. Após uma intensa discussão sobre os trabalhos, o júri escolheu, por unanimidade, o cartaz de Débora Gonzales como o vencedor do concurso. As impressões já foram realizadas e podem ser adquiridas. Para tanto, os interessados devem entrar em contato com o Cartaz Aberto por meio de seu site.

Além disso, um projeto iniciado em 2013 revelou um novo campo de atuação para o Cartaz Aberto. Trata-se do Cartaz Aberto na Escola, que levou aos alunos do 8º ano da Escola Castro Alves, em São Leopoldo (RS), uma oficina de cartazes com o mesmo tema do concurso, porém adequado ao universo da adolescência. Todos os trabalhos participaram de um concurso fechado e a avaliação ficou a cargo dos professores Henrique Luzzardi e Vanessa Cardoso, ambos do curso de Design da UNISINOS. O projeto foi uma parceria entre o Cartaz Aberto e o PIBID - Unisinos (Programa Institucional de Bolsas para Iniciação à Docência).

O projeto mostrou a força do cartaz para transformar as pessoas, seja quem o produz, seja quem o aprecia. O Cartaz Aberto na Escola levou para o jovem de uma escola pública a oportunidade de refletir e de se expressar sobre as diferentes formas de prisão vivida na adolescência. Temas como o medo da violência urbana e a ditadura da beleza foram abordados pelos alunos como modos de cárcere cotidiano.

Além disso, eles puderam também entrar em contato com uma nova profissão, o Design Gráfico, e assim, quem sabe, essa experiência possa ter sido a semente de um futuro profissional, desde cedo engajado em fazer de sua profissão uma forma de ativismo social. As respostas dos alunos após a conclusão das atividades foram muito positivas e mostraram que este é um caminho que merece ser continuado.

O ano que se inicia traz imensas expectativas de aprimorar e ampliar ainda mais a abrangência das atividades do Cartaz Aberto. O concurso entra em sua quarta edição, mais maduro e com a responsabilidade de abordar temas cada vez mais importantes para a sociedade e continuar as oficinas dentro das escolas se tornou uma das responsabilidades do projeto.

 

Gabriel Manussakis é formado, desde 2011, em Desenho Industrial / Programação Visual na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Trabalhou por 4 anos na área de criação da Apis Design Integrado. Com especial interesse na área de cartazes, criou com Andréa Almeida, em 2011, o Cartaz Aberto. Como autor, teve cartazes expostos na Mostra “Sustentabilidade: e eu com isso” da Bienal Brasileira de Design Curitiba 2010; Mostra “Um cartaz para São Paulo 2012” e “Good 50x70 2010 Exhibition Milan.

 


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