Recentemente, ao apresentar a um amigo um projeto que tive a oportunidade de fazer, uma série de banquinhos/mesinhas de uso residencial, tive que responder à pergunta: "Por que mais um banquinho? Não acha que temos banquinhos demais?"
A pergunta faz sentido, especialmente em uma época em que temos uma super oferta de produtos em nossa sociedade. Outro amigo e colega, renomado designer e professor de design, tem colocado estas questões em discussão. Devemos criar mais produtos? Deveríamos, em vez disso, eliminar produtos de nossa realidade, tão carregada de elementos supérfluos e, com isso, reduzir o desperdício que sobrecarrega nosso meio ambiente?
Este projeto nasceu de uma solicitação da entidade patronal local, que visava estimular a indústria de mobiliário a adotar o design como ferramenta competitiva. Uma empresa tradicional, bem equipada, mas com o mercado de atuação voltado para mobiliário especial ou sob medida, foi nos designada para atendimento. Em uma primeira visita constatamos que a empresa possuía algumas características marcantes e que poderiam ser exploradas no projeto que faríamos.
Com sua produção voltada para peças sob medida, esta empresa produz muitos retalhos de matéria prima, que são zelosamente guardados e identificados. Sua linha de equipamentos inclui uma maquina CNC de ultima geração e um centro de usinagem para chapas, com poucas horas de uso efetivo na produção. Além disso, a empresa possui um setor de pintura e laqueamento de alto nível de acabamento, também com uso moderado na produção.
A empresa atua especialmente no setor de móveis de estar, com peças próprias e de outros fabricantes que comercializa em suas lojas. Refletindo sobre este setor constatamos que nestes últimos tempos houve uma verdadeira revolução nos ambientes de estar com o advento das TVs planas e de grandes dimensões, que se popularizaram com a constante queda de preços. Com isso as televisões voltaram para as salas, já que antes frequentavam os quartos individuais e passaram a reunir mais pessoas para apreciar filmes, DVDs ou programas esportivos da TV a cabo, por exemplo. Um maior número de pessoas reunidas exige mobiliário adequado, como assentos adicionais eventuais ou mesmo mesinhas de apoio para drinques, petiscos, pipoca, etc. durante as sessões de TV. Sem falar na violência urbana que tem feito as pessoas ficarem mais em casa.
A partir destas considerações é que surgiu o conceito de UNI, DUNI, TÊ. Um conjunto de peças, que utiliza, sempre que possível, retalhos de uma produção, uma máquina sofisticada e flexível que praticamente executa todas as operações de produção e um processo de acabamento de alto valor agregado, que permite inúmeras opções de acabamentos. As peças possuem detalhes de acabamento, de montagem de detalhamento que lhes dão uma personalidade marcante: alturas diferentes, três pés, furos de identificação na superfície, grande flexibilidade de uso. Eles geram a pergunta óbvia: serão mesas ou banquinhos? Ou os dois? Há uma questão aí colocada, que inclui certo humor no tratamento e no uso das cores, tornando-os únicos e divertidos.
Claro que há outros banquinhos bons e divertidos no mercado. Mas a empresa precisava de produtos que fossem fáceis de produzir e comercializar e que convencessem os responsáveis de que design valia a pena. Por que então não explorar este nicho, com as facilidades já instaladas, concorrendo para atender a uma necessidade nova e de forte potencial de mercado e que, diga-se de passagem, não era bem cumprida pelos produtos existentes?
Produtos devem ser adequados à sua época, atender as necessidades do usuário e ter características de flexibilidade no uso e na aplicação. Todos têm um prazo de validade, que nos dias atuais se torna cada vez mais curto. Justamente por causa do surgimento de novos produtos e novas necessidades, é que há uma verdadeira “evolução das espécies”, que suplanta produtos existentes que, por sua vez, deixam de ser produzidos. Essa é a realidade deste nosso tempo.
Enquanto houver necessidades novas, novos banquinhos/mesinhas serão produzidos mais adequados ao seu tempo. Somente sua difusão e seu uso constante dirá se são adequados ou não! UNI, DUNI, TÊ estão aí para isso!
Os móveis, fabricados pela Elon Móveis de Design (Petrópolis, RJ), foram exibidos na expo RIO+Design em Milão, por ocasião do Salone del Mobile 2014.
Freddy Van Camp possui graduação em Desenho Industrial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1968). Atualmente é professor auxiliar da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Desenho Industrial, com ênfase em Desenho Industrial, atuando principalmente nos seguintes temas: design, desenho de produtos, mobiliário, mobiliário de escritório e comunicação visual.