Só recentemente chegou a minhas mãos o livro Diseño, identidad y sentido Objetos y signos de YPF (1920-1940), pequena publicação redigida por Javier de Ponti, Alejandra Gaudio, Laura Fuertes, Cinthia Popoo e Silvana Nessi. YPF é a sigla pela qual ficou conhecida a Yacimientos Petrolíferos Fiscales, a empresa argentina de petróleo, que foi estatal durante muitos anos. Seus autores se debruçaram sobre o tema de maneira exemplar.
Antes de mais nada, perceberam que seria anacrônico pensar em identidade corporativa, tal como a entendemos hoje, já que a empresa foi criada no começo do século XX, quando esse conceito não existia na Argentina, e trataram de problematizar a questão. Também reconheceram que todos os elementos da YPF, produtos e informações remeteram à identidade nacional, já que a empresa, criada em 1910, inaugurou um período de construção da nação moderna. A pesquisa levada adiante pelos autores teve de vislumbrar quem (e em que condições) formulou esta identidade que, por sua abrangência, penetrou no cotidiano nacional.
Para construir seu trabalho, os pesquisadores tiveram de enfrentar a história do país e da empresa, esta centrada também em seus artefatos e em suas comunicações. Para tanto, foi necessário conhecer de perto os agentes sociais responsáveis por suas políticas, destrinchar seu pensamento e suas ações. Foi também preciso comparar a construção da identidade visual da YPF com outras empresas petrolíferas, Shell e Standard Oil, que atuavam na Argentina.
Um ensaio sobre cultura material e a pertinência de suas categorias para a análise da identidade da YPF, estabelecida por meio de seus objetos que tomaram parte da vida quotidiana argentina, lançou mão de autores como Paul Virilio, Daniel Miller e Bruno Latour.
A análise da YPF vai dos edifícios da empresa até os produtos que ela distribuía como inseticidas; sua frota de veículos e embalagens, os postos de distribuição dos combustíveis, enfim toda a esfera de atuação da empresa, identificada com o Estado e que sofreu as primeiras ações de privatização durante a última ditadura militar argentina (1976-1983), vindo a ser privatizada nos anos 1990.
O estudo mostra como a marca YPF foi determinante de outras imagens estatais do país e como foram construídas estas identidades que mantinham diálogo entre si.
Dificilmente veremos esse trabalho publicado em português, o que é uma pena, pois, em primeiro lugar trata-se de pesquisa de história do design de primeira linha; em segundo, porque ao lermos o trabalho, somos imediatamente remetidos à Petrobras, muito posterior, mas que também foi construída sob a égide da noção de autonomia tecnológica nacional e progresso.
De toda forma, quem quiser encomendar o livro, pode escrever para a editora Dicere: dicere-2012@gmail.com