O designer Sergio Fahrer apresentou ao público um conjunto de cadeiras, mesa de jantar e de centro e uma luminária que têm acabamento em acrílico impresso com desenhos transcritos de trajes do estilista Lino Villaventura.
Fahrer mostrou as peças em seu showroom onde figuravam algumas das vestimentas desenhadas por Villaventura. Desse modo era possível comparar os motivos apreendidos de tecidos bordados com diferentes linhas, aplicações de tecidos superpostos, vitrilhos e outros detalhes que fazem das roupas painéis como se mosaicos tridimensionais, espécies de arte decorativa à la Gustav Klimt, em que os ornamentos se fundem com o corpo, criando segundas e terceiras peles.
Não se tratou de desfile, apresentação dos itens de Villaventura tais como são exibidos nos eventos de moda. Os trajes foram pendurados em fios e moviam-se ligeiramente. Difícil chamá-los de roupas. Parecem abrigos individuais para o corpo, móveis e escultóricos. Sua extrema riqueza construtiva e de superfície forma espécie de barreira, proteção, como um muro ajardinado e de tal forma tridimensionalizado, que impossível reconhecer.
Provas das proezas técnicas que Sérgio e seu irmão Jack gostam de enfrentar, as cadeiras estampadas com aqueles desenhos são peças de desenho comedido, completamente transformadas pelas estampas que as tornam vistosas e espaçosas. A impressão em acrílico exigiu grandes esforços técnicos, faz as cores saltarem, como se compensassem o que se perde no tato dos tecidos bordados e rebordados.
A mesa de jantar é revestida de placas quadradas de acrílico cuja posição pode variar, formando desenhos diversos, ilusões de jogos americanos de tecido ou toalhas bordadas. Alusões ao têxtil que a mesa dispensa.
Já a luminária, discretíssima no desenho, é uma espécie de balizador e sua altura próxima a de corpo humano magro, como modelo de passarela, confere graça particular à estampa acrílica.
Alguém poderia dizer que a passagem de vestimentas tão suntuosas e assinadas pelo maior nome da moda brasileira é apenas uma cartada mercadológica, na busca incessante das novidades que move nossos tempos. No entanto, seria empobrecedor limitar-se a esse ângulo de compreensão.
Há algo de difícil no processo, não só da escolha das estampas, seu recorte, mas na passagem para o acrílico, que mobilizou saber técnico especializado. A transposição dos desenhos de Villaventura para os móveis de Fahrer parece pertencer à linhagem da felicidade de quem faz, propugnada por William Morris, espécie de celebração do trabalho árduo e prazeroso, ou melhor, prazeroso porque árduo, de busca pela perfeição que se dá no plano da matéria e na escala humana.