A identidade institucional do TSE
Bitiz e Glória Afflalo
Está para sair o resultado do concurso da nova marca do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Tribunal quer contornar um problema: por usar o brasão da República como logo, considera-se confundido com outros órgãos públicos que adotam o mesmo símbolo.
No cenário político este assunto pode ter um significado: o Tribunal não quer ser confundido com o governo. Mas a nós, neste texto, interessam os conceitos e aplicações do design em relação às identidades das instituições governamentais, e que podem solucionar as confusões.
Entendemos que o TSE sinta falta de uma identidade, muito mais pelo fato de o Estado brasileiro não ter sua identidade consolidada, do que por necessidade de uma imagem própria. Uma identidade visual é o resultado de um conjunto de informações e conceitos pré-definidos, formalizada, sistematizada e aplicada por meio de elementos e recursos visuais que incluem o símbolo, tipografia, cor[es] e regras de uso: não se restringe à criação de mais um logo. Não entendemos porque o Tribunal Superior Eleitoral quer ser uma instituição autônoma, sem vínculo com o Estado brasileiro
Há no Brasil uma confusão entre Estado e governo. Estados são perenes, governos são passageiros. Os governos têm-se dedicado a criar imagens para cada governante. São vários logos que se acumulam. A cada mudança de governo surge uma nova imagem, em todos os níveis: federal, estadual e municipal. Todos querem caracterizar sua passagem com sua própria marca. As instituições perdem identidade e sua força de representação como administração pública coesa e organizada, que trabalha para o bem público. E gastam muito dinheiro na implantação das suas novas imagens a cada período governamental.
O Tribunal Superior Eleitoral tem repassado para diversos países o modelo eleitoral do
Brasil e sua tecnologia. Nestas ocasiões, representa o Estado brasileiro: seu trabalho, seu desenvolvimento e sua evolução em vários governos. Portanto, sua identidade é parte deste Estado.
Há muito que se fala na identidade brasileira. Muita coisa tem sido feita para consolidá-la. Se o TSE pode ter uma marca própria, o TSJ também poderá, como qualquer outro órgão do Estado brasileiro. Se a representação deste povo se pulveriza, com que elementos traduzimos a imagem de uma identidade? A fragmentação é companheira do pouco reconhecimento.
As grandes corporações transnacionais usam sua identidade visual para manter unida a variedade de atendimento nos diversos países. Sua força é consolidada nessa prática.
Os governos da França, Alemanha e Suiça são bons exemplos de identidades consolidadas. Integrada à União Européia em 2004, a Polônia está desenvolvendo um símbolo nacional forte.
São conhecidas as tentativas de criar um selo de identidade brasileira para os nossos produtos. Quantas vezes nossos pensadores não estudaram e discutiram a necessidade de uma identidade nacional, para esse país de tamanha diversidade cultural? Para muitos as identidades nacionais estão sendo retomadas, num processo de resistência à globalização. É uma tentativa de afirmar cada parte neste todo do século XXI.
Uma identidade visual reforça a expressão da identidade nacional. Em vez de um concurso para um novo logo, que resultará em uma marca a mais entre outras tantas, a proposta deste governo deveria ser a realização de um programa de identidade visual com design de um sistema que represente o Estado Brasileiro e ofereça o cada órgão público sua visibilidade própria. Isto é possível, por meio de uma série de critérios visuais e gráficos combinados e com variáveis distintas para uso de cada instituição. Isso seria o ideal para um país com o nosso que quer se impor mundialmente como uma nação com uma imagem consolidada.
É tempo de pensar a representação visual da identidade do Brasil e como seu desenvolvimento adequado pode fortalecer a imagem do país. Precisamos da força do conjunto e não do esfacelamento das partes.
Bitiz e Glória Afflalo são designers.
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