Pequenas coisas esquecidas
Fred E. Schroeder
Tradutor(a):Denise Banho/Telmo Pamplona*
Introdução
“Eletricity in the Household” (Eletricidade Doméstica), escrito por A.E. K ennely em 1890, é, no dizer do próprio autor, “em si mesmo uma história condensada do passado da ação, o centro de sua atualidade e a referência para seu futuro”. Deste modo, se configura como um microcosmo que merece estudo detalhado. Com efeito, quando atentamente analisados, os equipamentos domésticos nos desvendam, mais do que outra página da história das artes decorativas e do mobiliário, uma tecnologia embutida na ornamentação da vida doméstica. A tecnologia doméstica certamente não foi negligenciada pelos historiadores, todavia, um olhar mais atento para um grupo de artefatos revela algo importante sobre o passado das nações, que subsiste na atualidade como herança.
O ato corriqueiro de “plugar” uma instalação elétrica embutida na parede pode ser também reconhecido como uma conexão direta com um sistema industrial – em suas atividades cotidianas as pessoas provavelmente não relacionam as tomadas aos dínamos, do mesmo modo que não relacionam as florestas do Canadá às páginas do jornal que folheiam.
Como o “plug” e a tomada se desenvolveram, possibilitando conexões e funcionamento dos aparelhos elétricos de uso cotidiano, é o tema central deste ensaio.
Fios flexíveis, “plugs” e tomadas utilizados nos circuitos elétricos foram concebidos quase que simultaneamente à instalação do primeiro sistema de instalação de Edison, em 1882.
Em 1890, muitos outros componentes elétricos eram encontrados nos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, em sua maioria exibidos na Exposição Mundial de Chicago de 1893.
Ainda que a indústria americana só tivesse promovido os eletrodomésticos a partir do século 20, mais vigorosamente a partir de 1915, isso só foi possível quando finalmente esquemas diferentes foram compatibilizados com a estandardização de sistemas de alimentação convenientes e intercambiáveis. (1)
A aplicação elétrica do “plug” é algo que Thomas Edison não inventou. Isto foi um curioso “lapso”, já que Edison antecipou praticamente tudo aquilo que estava relacionado com o bulbo de iluminação incandescente e suas aplicações. A “Official Gazette” do
Departamento Americano de Patentes de 27 de dezembro de 1881, continua uma impressionante quantidade de cinco páginas de invenções, que especificava desde um “filamento...feito de bambu ou fibra similar” até uma bomba à vácuo para tirar o ar de um bulbo de vidro, um tubo condutor isolante, um dínamo, um regulador de voltagem, um medidor, um chandelier, os processos para manufaturar estes vários componentes, e, na Patente n. 251551, o completo “Sistema de Iluminação Elétrica” para residências. Nesse sistema, o “plug” foi completamente omitido. Durante 2 anos Edison vendia luz elétrica para Wall Street, com 8000 lâmpadas iluminadas pela força de uma estação central e, por volta de 1890, as estações centrais elétricas estavam fornecendo luz para todo o mundo. Mas não havia nenhuma maneira conveniente de utilização do sistema para outras finalidades. A idéia de se aplicar s novos circuitos de luz doméstica para outros usos foi imediatamente cogitada por muitos inventores, e o termo “appliance” (aplicação), referido aos equipamentos que podem operar na corrente elétrica doméstica, tornou-se comum.
O artigo de Kennelly de 1890 “Eletricidade Doméstica” – o primeiro dirigido ao leitor comum – é ilustrado com uma foto de uma máquina de costura elétrica junto com um diagrama para instalar um termostato elétrico, alarme de incêndio, alarme contra roubo, relógio, sistema de campainhas, e para um ventilador, um fonógrafo e um forno elétrico.
“Não se deve supor”, diz Kennelly, “que qualquer destas aplicações são visionárias, porque todas estão sendo realmente utilizadas”.
Isto era realmente verdade, considerando que todos estes equipamentos domésticos constituíam novidades nas rotinas domésticas. (2)
Três importantes pontos precisam ser destacados acerca do artigo de Kennelly: primeiro, em 1980, tecnologia e ideias criativas foram formuladas para a aplicação doméstica, e a instalação doméstica não foi esquecida. Segundo, Kennelly destacou a eletricidade doméstica como aplicável (3) para iluminação, aquecimento e pequenos motores. Mas o terceiro ponto tem algum aspecto negativo, uma vez que todos os equipamentos domésticos que ele descreve eram ligados permanentemente. Por outro lado, suas previsões, assim como seu entusiasmo futurista, estavam a uma década adiantadas de seu tempo. (4)
Com o novo século veio a sensação de se estar à beira de uma revolução no funcionamento das casas, porém George E. Walsh, escrevendo no “The Independent”, em 1901, depositava esta sensação num futuro inquieto:
“Com um poder invisível, que pode ser transformado em luz, calor e energia, a tendência será inventar todo o tipo de implementos para reduzir os inconvenientes da vida. Por exemplo, a máquina da costura terá um acessório elétrico que pode ser usado a qualquer momento para rodar a máquina pelo tempo que se deseje. Muitas donas de casa acaloradas devem estar olhando com inveja os ventiladores elétricos que refrescam o ar dos restaurantes nos dias quentes, e não demorará até que ventiladores apropriados sejam colocados em todas as casas para uso privado”.
O empecilho, diz Walsh, é o custo. Fogões, fornos e lavadoras de louça elétricas estavam disponíveis, ainda que seus custos de energia fossem caros. “Só se necessita do barateamento da energia elétrica para introduzi-los em 9 entre 10 lares deste vasto país”. Indubitavelmente o preço da eletricidade era um fator de impedimento (como o caso do aquecimento elétrico atual, em alguns lugares), mas a necessidade de fiação permanente parece ter sido o problema tecnológico maior naquele momento. Se houvesse alguma maneira flexível de se conectar equipamentos ao circuito elétrico, eles poderiam certamente tornar-se mais atrativos aos consumidores.
Poucos esquemas haviam sido patenteados durante a década 1880/1890. Sigmund Bergmann, um moldador (ferramenteiro) empregado de Edison, e mais tarde seu colaborador em manufaturas e acessórios, patenteou, em 10 de abril de 1893, uma “Connection for Electric-Light Fixtures” (conexão para a fixação da luz elétrica) que, não só utilizava um “plug” parafusado (screw plug) para conectar os soquetes tipo Edison, mas já sugeria sua difusão de uso. Um historiador (John Mellanby, autor de “The History of Electric Wiring”, Londres, 1957) estimava que o primeiro tipo de “plug” e soquete “normal” surgido na Inglaterra foi introduzido por T.T. Smith, também em 1883, e a criação da solução de 2 pinos deu-se em data anterior a 1895. Um arranjo similar aparece no catálogo da General Electric de 1889. Em 1887, Charles G. Perkins, de Hartford, Connecticut, patenteou um “Connector for Electrical Appliances” (conectores para aplicações elétricas), e no início da década de 1890 surgiram patentes para o “conector elétrico flexível”e “fixador elétrico (para teto)”, “para fazer conexões... para translado de inventos como as luzes elétricas, os motores elétricos e aparatos similares”.
E o “plug e tomada para uso elétrico” (plug and receptacle for electrical purposes) foi patenteado em 1894, incidentalmente introduzindo tal nomenclatura.
Alguns destes elementos foram produzidos, presumivelmente, para aplicações especiais, mas certamente não se destinavam ao uso doméstico. Durante a década de 1890/1900, entretanto, muitas invenções adaptaram-se a corrente elétrica domiciliar para aplicações convenientes. Duas delas, a tomada embutida na parede (flush wall receptacle) e o “plug” cerâmico (Box-shaped ceramic plug), conhecido como “Chapman Plug”, induziram uma quantidade de diferentes modelos para instalação em paredes e assoalhos (adiante o assunto será retomado). Entretanto, a solução mais comum utilizada era a existente nos soquetes de luz Edison , com sua familiar base espiral parafusada. Conta a lenda que Edison teve esta idéia ao “parafusar” uma tampa em uma lata de querosene. Ela trouxe a vantagem de assentar firmemente o bulbo, sem romper, arrancar ou vibrar a lâmpada e seu delicado filamento. Foram lançadas no mercado outras lâmpadas depois de 1900, cada qual com sua própria base, mas a de Edison alcançava 70 por cento do mercado. Para todos os usos,ela era o modelo. Contudo, o descuido no desenho primitivo das conexões de inventos como os de Bergmann, e o descaso para com a viabilidade de utilização dos “plugs” e soquetes de luz apresentados nos catálogos de manufaturas de 1892, confirmam a inexistência de registros publicados de qualquer mercado real ou uso doméstico de equipamentos elétricos até a virada do século XX. Ao longo dos primeiros 25 anos do século, uma quantidade de soquetes de lâmpada com conectores foi inventada, desenhada e produzida por três empresas, principalmente, as quais permanecem ainda hoje liderando o setor de equipamentos de fiação no mercado americano: Harvey Hubbel de Bridgeport, Reuben Benjamin de Chicago e General Electric de Schenectady. Todas elas utilizavam o soquete de luz de Edison. Não obstante, o conhecimento popular sobre soquetes e conectores foi ficando defasado. Somente em 1904 a “Scientific American” publicou um artigo chamado “Eletricidade Doméstica”, mostrando fotos de pessoas usando conectores de soquetes de lâmpadas elétricas numa máquina de costura elétrica, numa lavadora de louça (que era equipamento da moda na época), numa bolsa elétrica de água quente e num ferro de passar “que pode ser encontrado nas mesas de passar nos quartos dos mais modernos hoteis”.
Este artigo dizia que “Além dos inventos elétricos aqui encontrados, existem muitos outros cuja utilização está sendo viabilizada. Frigideiras elétricas, fornos de bolo, torradeiras, panelas elétricas e máquinas de café, são alguns dos muitos inventos que encontram seu lugar nas casas equipadas com eletricidade”. Vivia-se uma “era elétrica”, e o autor acerta mais na previsão do que na precisão, acrescentando que “nenhuma nova casa é considerada completa a não ser que esteja equipada com circuitos elétricos de luz, ainda que o dono possa utilizar a eletricidade ou o gás para iluminação”.
Referindo-se ao ano de 1904, S.M. Kennedy, agente geral da “Southern California Edison Company”, contava, em 1915, sua experiência comercializando eletricidade: “Por um período de 11 anos, desde a data de sua primeira aplicação comercial prática...”. Suas estatísticas incluem equipamentos domésticos vendidos por varejistas e também aquelas vendidas porta-a-porta por seu grupo de vendedores. Em 1904, existiam 500 adesões na “Southern California”; em 1906, 12.500; em 1910, 44.635; e em 1914, 141.705. Todas elas plugadas em soquetes de luz, uma prática que seria reconhecida como bastante conveniente. Podia-se plugar um ferro de passar, às custas de ficar no escuro. O parafusamento do plug necessariamente torcia o fio. E se um ferro acidentalmente caísse, o fio teria que ser desconectado do plug ou do aparelho, com a possibilidade de acontecer um curto-circuito ou um choque elétrico. Como se pode imaginar, as soluções para estes problemas eram avidamente procuradas. Algumas casas já tinham sistema de múltiplos soquetes de luz e luminárias, podendo assim utilizar alguns soquetes para as luzes e outros para os aparelhos. Adaptadores logo chegaram ao mercado, tornando possível parafusar um soquete duplo numa simples saída de luz (este tipo de adaptador ainda pode ser encontrado nas lojas de ferragens). Na questão da torção do fio (um problema que Bergmann antecipou em 1883), duas soluções foram encontradas. A que parece ter sido a dominante no mercado, de 1911 até fins de 1925 foi o “plug” de Benjamin. Reuben Benjamin trabalhou em inventos elétricos desde 1901, sendo seu primeiro invento comercializável um adaptador “cluster” sem fio do tipo acima mencionado, fabricado no seu porão por garotos do curso secundário, após as aulas. O investimento de 2.400 dólares tornou-se 100 mil dólares em vendas no primeiro ano. Por volta de 1909, Benjamin desenvolveu um plug que permitia que o conector de soquete de luz rondasse, enquanto o fio do aparelho permanecia parado. A data específica é indeterminada, de um lado por causa do lapso de tempo entre o pedido de patente e sua concessão (uma invenção podia ser comercializada enquanto esperava patente), de outro porque a “Benjamin Electric” comprou os direitos para invenções similares, e também porque Benjamin estava constantemente aprimorando seus inventos. O mais importante a considerar, entretanto, é o fato da patente de Benjamin expirar por volta de 1911. Enquanto isso, Harvey Hubbel seguia outro caminho. Ele inventou, em 1904, um “plug separável” (figura 1). A parte interna era parafusada no soquete de lâmpada do tipo Edison, enquanto a parte externa era plugada na parte interna por meio de pinos ou pequenas lâminas. A parte interna do “plug” parafusado era um tipo que ainda existe atualmente, enquanto a outra parte, que se tornou conhecida como “plug” (plug cap), é o invento do qual evoluiu nosso moderno “plug” de 2 pinos. As vantagens do “plug” separável são claras. Não somente porque um puxão acidental no fio separa os 2 elementos, como ainda evita danificar o fio, o soquete ou o aparelho elétrico. O usuário poderia também deixar a parte interna instalada enquanto utilizava o “plug” do final da fiação do aparelho para inserir em outras saídas, também abastecidas de outra parte interna similar, tornando assim possível mover lâmpadas, ventiladores ou ferros de passar para outros lugares.
Quando Hubbel patenteou o “plug” separável, dois desenhistas inventores de “plugs” requereram patentes no mesmo dia. Um deles, apresentado em 1903, tinha dois pinos, enquanto o outro, de 1904, tinha lâminas “in tamdem”, isto é, no mesmo eixo, em vez de paralelas uma a outra.
Um pequeno detalhe, mas, como veremos, isto afetou o desenho dos receptadores por muitas décadas.
Ambas as soluções para o problema de inserção conveniente na corrente doméstica estavam baseadas na possibilidade de receptáculos de luz de soquete (com movimento tipo rosqueado) e por esta razão eles foram prontamente adaptados numa conveniência parcial porque, por razões óbvias, as saídas de luz eram localizadas, ou em muros altos, ou, mais comumente, no centro de tetos. Assim o uso de aparelhos tornava-se incômodo, muitas vezes necessitando de cadeira ou escada para plugar o aparelho. A primeira patente que especificava um “plug” com fio extensor foi requerida em 1901 “para conectar os fios de uma lâmpada incandescente numa instalação fixa”, mas, ainda que o fio de extensão pudesse tornar o “plug” do aparelho mais acessível, o sistema interno poderia resultar, e realmente resultou, num “carnaval festivo” de fios pela casa.
A solução foi desenvolver um sistema permanente de receptores instalados em alturas convenientes, e, sempre que possível, mascarar ou disfarçar os receptores e respectivos fios.
A data real da introdução de receptores de parede (tomadas) para aparelhos portáteis é indefinível. Uma placa escondida no assoalho com um “plug” de 2 pinos foi patenteada já em 1890 e existem soquetes de parede ingleses datados de 1893. Em 1895, Frederick A. Chapman, de Filadélfia, patenteou uma “chave”(cut-out block) e uma “caixa” para parede e teto que serviam para luz e força, podendo ser usadas para instalações embutidas “para prevenir uma aparência desagradável”. O “plug” de Chapman não se parece com nenhum aparato moderno, claramente desviando-se de todas as patentes de Edison-Bergmann. Em vez de usar pinos ou lâminas, é retangular, feito de porcelana com uma parte de cobre para fazer o contato nas laterais. O receptador também é feito de porcelana. Quando o “plug” é inserido, portas de metal fecham-se sobre ele no receptador, que, embutido, deixa à mostra somente o fio do aparelho saindo de uma placa de metal na parede. O desenho era eficaz, e vários fabricantes introduziram elementos intercambiáveis e refinamentos. A casa histórica “Glensheen Mansion” em Duluth, Minessota (construída entre 1906 e 1908), tem estes receptores e “plugs” em muitos aposentos, e eles ainda estão em uso (figura 3). Porém, encontrá-los, é como achar dinossauros vivos num mundo perdido. Eles são membros de uma linha de produção que não evoluiu.
É conveniente lembrar, por outro lado, que Edison não previu receptáculos de parede em seu sistema original, e demonstrava não hesitar na predileção por ligações fixas de luz com ocasional uso do “plug” de Bergmann. O resultado foi que a indústria prosseguiu atenta à competição dos vários desenhos de receptáculos de parede (tomadas). Até o início dos anos 20, alguns receptáculos tinham o “soquete parafusado” de Edison no qual se podia plugar o “plug” Benjamin, o “plug” não giratório (conforme já salientado, oferecendo limitações para seu desligamento emergente), e o “plug” do tipo Hubbell, separável, com a parte externa acoplável através de 2 pinos ou de 2 lâminas “in tandem” ou paralelas. E havia outros. Em 1915, exemplares foram enviados a Associação Nacional (americana) de Luz Elétrica (NELA – National Electric Light Association), requisitados para uma reunião em Nova York, na tentativa de estabelecer algum grau de padronização. A publicação Electrical World documentou a realização desta reunião com fotos de 17 tipos diferentes de receptáculos de parede, grande parte deles comercializados pelo mesmo fabricante (figura 4).
As diferenças no design não eram meramente formais, algumas refletiam diferentes amperagens, voltagens, polaridade, e necessidade de correntes, outras, como nos sistemas atuais, previam a plugagem das secadoras de roupa de 240 volts na saída de baixa voltagem, dispensando o uso de instalação especial e prevenindo a reversão da polaridade de equipamentos eletrônicos. Por outro lado, a rivalidade e a confusão em 1915, eram vistas como excessivas pela indústria e, o mais importante, os vendedores sabiam que os consumidores em potencial estavam se tornando mais atentos a respeito de instalações receptoras, para não mencionar sua irritação com sistemas que não aceitavam os diferentes “plugs” instalados nos novos aparelhos adquiridos. A propaganda às vezes dizia mais sobre isso do que a literatura técnica, como por exemplo, num anúncio de 1910, na Colliers (revista, da Automatic Vacuum Cleaner Company, que dizia: “Você não necessita eletricidade para uma limpeza perfeita”).
Há aqui evidências de resistência às vendas de equipamentos domésticos e ao período de transição no conceito de facilitar o trabalho doméstico. Na Glensheen Mansion nem todas as salas tinham receptores de parede, e só uma arqueologia da casa poderia nos desvendar algo sobre a concepção da eletricidade doméstica naquele tempo.
O sistema de limpeza por aspiração era permanentemente instalado através de um motor de sucção colocado no porão, de onde saía a tubulação para o edifício. O sistema de luz permanentemente instalado era tão abundante e bem localizado que a maioria das salas, ainda hoje, não necessita de luzes adicionais, e as poucas instalações de saídas modernas (instaladas mais recentemente) tendem a ser fios de extensão colocados na fiação de uma instalação fixa de parede já instalada originalmente. Sua disposição sugere somente o uso de rádio e relógio nos quartos e, na biblioteca, o uso de um rádio e uma televisão. Os receptores originais estavam limitados a proporcionar abajures de mesa e de pé. Por isso, nenhuma das lâmpadas conectadas por “plug” eram realmente portáteis; os “plugs” de Chapman não engatavam facilmente, e mesmo estas lâmpadas móveis eram desenhadas para cada decoração específica da sala.
A vantagem de ser portátil, em conseqüência, parece estar limitada a uma posição adequada de um determinado fio, tendo em vista permitir a leitura ou a costura numa escrivaninha ou numa poltrona.
Quartos de empregados não tinham receptadores; nem as áreas de trabalho. A razão para o primeiro dado é obviamente relacionada à classe social, mas a razão para o segundo (ausência de receptores nas áreas domésticas de trabalho) é um reflexo de um antigo programa de projeto: os equipamentos domésticos adaptáveis nos soquetes de luz estavam se tornando significativos no tempo em que esta casa foi desenhada, mas uma casa (de fato, uma patrimônio) amplamente servida por empregados, dificilmente requeria economia de mão-de-obra.
Também existem evidências de que o ano em que a construção de Glensheen foi planejada pode ter sido o mesmo ano em que os receptadores de rodapé foram preliminarmente introduzidos.
Em 1905, H.W. Hillman desenhou “a casa sem chaminé”, um lar totalmente elétrico, em Schenectady, NY. O nome é de algum modo incorreto porque Hillman foi obrigado a instalar uma fornalha de carvão, ainda que houvesse aquecimento elétrico em todas as salas e não existisse uma chaminé na cozinha, dotada de um “aparelho elétrico para cozinhar e assar”.
Vinte anos depois, em reminiscências relatadas à revista Electrical World, Hillman disse que “consistia em uma nova idéia especificar as saídas nos rodapés e nas paredes, permitindo usar os utensílios domésticos com mais liberdade, sem ter que remover as luzes dos seus soquetes”.
Este lar de demonstração, foi largamente propagandeado, e quase que imediatamente tornou-se famoso internacionalmente.
Uma página inteira de domingo do jornal Herald de Nova York foi copiada pelos jornais locais americanos e em Londres, Paris e Berlim, seguido rapidamente por artigos nas revistas GoodHousekeeping, Cassier´s Magazine e American Homes and Gardens, este último foi reimpresso no Scientific American Supplement.
Alardeando estas delícias elétricas, como uma “pipoqueira” e um “vibrador massageador”, a planta mostra saídas de parede em várias salas e três abajures portáteis. O “triturador de detritos” e o “moedor de café” estavam localizados numa mesa ao lado da sala de jantar, que tem “uma borda acoplada com as tomadas necessárias”.
Essas mesas, de acordo com a Scientific American, eram “consideradas artigos padrões, numa loja de departamentos em Schenectady”. Porém, um grande fluxo de eletricidade já havia passado pelos fios da América, antes das inovações de um engenheiro em Schenectady e de um milionário em Duluth se difundirem.
Podemos traçar a evolução das inovações através de vários caminhos. Em 1913, uma casa rural perto de Chelsea, Oklahoma, foi construída com materiais de catálogo da Sears Roebuck; embora inicialmente sem força elétrica disponível, a casa foi suprida e construída com fiação e circuitos elétricos completos, sem receptores de parede. O proprietário recordava ter plugado o ferro de passar, a torradeira, a máquina de lavar roupa e o refrigerador em extensões da fiação original “no princípio dos anos trinta”, quando saídas de rodapé foram adicionadas.
Até 1915, o catálogo de vendas de ferragens do fornecedor Marshall-Wells, em Duluth, que abastecia centenas de varejistas de Minnesota a costa do Pacífico dos Estados Unidos e do Canadá, não listava receptores de parede, fios de extensão, ou “plugs” adaptadores, ainda que entre suas 3.800 páginas existissem ferros de passar domésticos de marca Hotpoint, nos modelos El Bako, El Boilo, El Comfo, El Stovo e El Glostovo – todos da Hotpoint e todos equipados com “plug” de soquete de luz do tipo Edison. A Marshall-Wells tinha mais de 20 páginas de “Instalações Intercambiáveis Wakefield... Para Eletricidade, Gás e Combinação de Luzes”, caixas de luz, fiação e caixas combinando gás e eletricidade (o cano de gás servia também como conduite para a fiação), mas não havia receptores de parede (5). O ano deste catálogo, 1915, iria ser lembrado como o mesmo ano em que a NELA (National Electric Light Association) foi pressionada a padronizar os receptores de parede e “plugs”, e, também, o ano em que S.M. Kennedy observava, após 11 anos, aparelhos com soquetes de lâmpada da Southern California demonstrarem saturação.
Por volta de 1915, os aparelhos estavam se tornando um modo de vida americano, ainda que as casas com fiação conveniente para o uso de aparelhos ainda estivessem em estágio evolutivo. Dez anos após, saídas duplas, que iriam acomodar os “plugs” modernos, sem adaptador de soquete de lâmpada, estavam padronizadas; embora George Adler, um engenheiro elétrico ainda iniciasse seu artigo “Modernizando a sua Fiação” na revista Good Housekeeping perguntando “quando você quer usar sua torradeira elétrica pela manhã, você tem que desenroscar uma lâmpada de alguma instalação de luz para asseguras uma saída conveniente na mesa?”; “quando você quer usar o aspirador de pó no seu quarto, você tem que conectá-lo a uma instalação na parede e ter o fio balançando?”. Estas questões simples proporcionam a um historiador social imagens de uma realidade que é muitas vezes esquecida ou suprimida: esquecida porque os aparelhos de lâmpada de soquete desapareceram completamente no tempo havia mais de meio século, e suprimida, porque nem os catálogos, nem as revistas de fotografia de interiores domésticos, ilustram a desordenada inconveniência no uso dos aparelhos, de 1904 a 1930. Anúncios no Ladies Home Journal, entre 1911 e 1917, mostram donas de casa plugando aparelhos em soquetes de lâmpadas (figura 5), mas, depois de 1917, o processo de conectar os aparelhos não foi mais apresentado. Estas imagens não iriam vender aparelhos, nem mostrar casas como proprietários e fabricantes elétricos gostariam. Um artigo publicado em 1924 na House and Garden, revela algumas pistas sobre a situação doméstica: “Porque as pessoas instalam saídas em locais inconvenientes para plugarem e, porque é necessário muita conversa para que o construtor realize uma instalação elétrica de modo correto e confortável, esta pequena história sobre um assunto importante foi escrita... Está constatado que você usa o aspirador de pó 135 horas por ano – ou aproximadamente 500 vezes ao ano. Se a sua saída (ou receptador) mais próxima está na altura do joelho ou da cintura, imagine seu esforço para alcançar a altura do lustre!”.
Ambos os artigos, da Good Housekeeping e da House and Garden, clamam para persuadir os proprietários a refazerem a fiação, usando as novas saídas convenientes desenhadas para acomodar os “plugs” de lâminas, paralelas ou “in tandem”. Estes receptores duplos embutidos (“duplex flush receptacles”) foram introduzidos no mercado nove anos antes (de novo, em 1915) por Hubbell (figura 6).
Quanto os “plugs” despertaram de interesse, o artigo da House and Garden é inequívoco, descrevendo o desenho dos “plugs” separados, à moda de Hubbell , como “o plug indicado”. Assim, entre o “plug” separável e o receptor em T (para lâminas paralelas ou “in tandem”), a indústria elétrica finalmente alcança o estágio para a padronização, o que ocorreu discretamente em 1917, quando 6 fabricantes concordaram com aquele receptador. Em 1926 o comitê de fiação da NELA (National Electric Light Association) divulgou um relatório que dizia “daqui a poucos anos os plugs para conectar os aparelhos comuns aos soquetes, e os receptores ou saídas convenientes para ligar aparelhos comuns ao circuito, que não através de soquetes, estarão sendo padronizados no sentido de que os plugs e receptores de praticamente todos os fabricantes serão intercambiáveis”. Também é digno de nota o fato do código de fiação ter sido liberado para “permitir um circuito com vários receptores para esquemas de 10 amperes”. Antes, o código requeria um circuito separado para cada esquema individual acima de 660 watts. O comitê de fiação do NELA aponta que “as tomadas parafusadas com fendas in tandem, e os plugs com lâminas também “in tandem” , ainda estão sendo fabricadas de por prazo limitado e reduzido”. As tomadas parafusadas com fendas “in tandem” devem desaparecer, mas ainda haverá um uso para os plugs com lâminas “in tandem” Este uso, propunha o comitê, seria para aparelhos de alta wattagem, não porque previniria uso impróprio, mas como uma lembrança ao consumidor do perigo de sobrecarga no circuito.
Em 1930 a transição estava quase completa. Embora o catálogo da Sears Roebuck de 1927 ilustrasse todos os aparelhos com “plugs” de soquete de lâmpada (o modelo específico não era claro), o catálogo da Marshall-Wells de 1928 já mostrava alguns aparelhos com o “plug” Benjamin, e outros com “plug” separável, mencionando também alguns outros aparelhos (não claramente apresentados) que possuíam “plugs” de lâminas. O catálogo da Sears Roebuck de 1930 foi o primeiro a mostrar uma mistura similar.
Em seus catálogos do outono de 1930, a Sears Roebuck adicionava ferros de passar na lista de aparelhos com “plugs” de lâminas, acenando o fim de uma era.
Nos anos subsequentes ocorreram mudanças, mas não às custas de um acesso padronizado e flexível à corrente elétrica central (nos Estados Unidos, pelo menos; já que internacionalmente a situação não é tão flexível). Apesar do desenho básico se constituir no “plug” de lâminas paralelas, desde 1962 tomadas padronizadas têm apresentado um terceiro furo para aterramento. A variedade e o número de aparelhos usados numa casa tem crescido indubitavelmente – escovas de dente elétricas, facas, televisores, condicionadores de ar, computadores, churrasqueiras de quintal, como exemplos; porém, não somente os aparelhos básicos são os mesmos do catálogo da Sears Roebuck de 1927 – lâmpadas, aspiradores de pó,ferros de passar, churrasqueiras, chapas de cozimento, torradeiras, liquidificadores, secadores de cabelo, almofadas de aquecimento, ventiladores, aquecedores, máquinas de lavar roupa, pipoqueiras, fogões, rádios, máquinas de costura e trens de brinquedo – mas muito destes aparelhos foram antecipados por inventores, tão cedo quanto 1890. Se houve alguma mudança significativa, provavelmente é no número crescente de aparelhos que funcionam independentemente nos circuitos da casa. A bateria, que antecedeu os dínamos e os sistemas de circuito elétrico, e foi usada nos primeiros aparelhos motorizados como os ventiladores de mesa, foi bastante desenvolvida e, juntamente com a alta eficiência do circuito impresso e dos semi-condutores, liberou dezenas de aparelhos – como furadeiras, rádios, cortadores de grama, gravadores e calculadoras – dos fios e tomadas.
O uso prático para esta história de uma tecnologia comum está na pesquisa, reconstrução e interpretação dos históricos lares do século XX.
Temos agora a dimensão de avanços importantes como a introdução comercial dos aparelhos de lâmpada de soquete em 1904, o aparecimento da tomada T padronizada, em 1917, e o desaparecimento dos aparelhos de soquete de lâmpada em 1931. É claro que nossas casas são realmente sítios arqueológicos, contendo não somente nosso presente e nossos planos para o futuro como também a condensação do passado. Raramente nos deparamos com tão perfeito e imperturbável meio tecnológico como a Glensheen Mansion. Geralmente, uma casa incorpora os resíduos da mudança. Perseguindo a analogia arqueológica, casas que foram construídas ou eletrificadas entre 1880 e 1918 trazem a marca dos vários estágios da evolução da eletrificação doméstica. A marca não só se revela na aparência da fiação; outros aspectos do sistema têm sua arqueologia também – fios, cabos, conduites, fusíveis, quadros de entrada quase “subterrâneos”, lustres, lâmpadas, e outros aparelhos são “vanguardas”, compartilhando da história das artes decorativas e do desenho industrial. “Pequenas coisas esquecidas” é uma frase que o historiador arqueólogo James Deetz extraiu de registros coloniais para intitular seu livro sobre a arqueologia das coisas do dia-a-dia, como os utensílios de comer.
Aparelhos com “plug” de soquetes de lâmpada são pequenas coisas que foram esquecidas por todos, exceto os eletricistas, engenheiros elétricos e pelos comerciantes de ferramentas, ainda que, nem o esquecimento, nem o tamanho reduzido, sejam indicativos da insignificância. Estes “plugs” representam um passo tecnológico necessário para a conversão de nossos equipamentos domésticos nacionais (americanos), do trabalho manual e de combustíveis inconvenientes para a automação e a flexibilização dos arranjos internos, ao mesmo tempo em que os padrões de luxo e necessidade mudaram completamente neste primeiro quarto de século. Hoje, jantares à luz de velas, preparados em utensílio aquecido a álcool, são lazeres luxuosos, embora um estoque generoso de tomadas em cada sala seja uma necessidade que poucas pessoas dispensariam.
Notas
(1) Estatísticas americanas sobre equipamentos domésticos e respectivos suprimentos não podem ser considerados senão a partir de 1899, quando um valor superior a 1,9 milhões de dólares na venda destas manufaturas foi registrado, sendo dobrado no período dos 4 anos seguintes. O maior incremento registrado (42%) se deu em um ano, entre 1915 e 1916. Sobre o assunto consultar “Historical Statistics of the United States: Colonial Times to 1970”, Bicentennial Edition, Washington D.C., 1975.
(2) Além de ventiladores, os primeiros motores foram destinados às máquinas de costura, que foram vistos na Exposição de Paris, em 1881; nos Estados Unidos a C & C Electric Motor Company, fundada em 1886 por Charles Curtis, Francis Bacon Crocker e Schuyler Skaats Wheeler, começaram a fabricar motores para máquina de costura de baixa voltagem, introduzindo, em 1887, um modelo de 110 volts para tirar vantagem dos circuitos de luz. Malconm Laclarem, “The Rise of the Electrical Industry during the Nineteenth Century”, Princeton, N.J. O primeiro aparelho com pequeno motor elétrico, de Nicola Tesla, era um ventilador, em 1889; no mesmo ano foi requerida a patente para um grande ventilador de teto Philip Diehl de Elizabeth, N.J.
A maioria dos aparelhos de som exibidos em 1893 NA Exposição de Chicago “eram movidos a motores elétricos”, incluindo alguns movidos “por circuito direto de luz incandescente”. J.P. Barrett, “Eletricity at the Columbian Exposition”, Chicago, 1894.
(3) Na publicação “The Rise of the Electrical Industry during the Nineteenth Century”, Princeton, N.J., 1943, Malcom MacLaren destaca que a maioria dos usuários de equipamentos elétricos eram firmas, e não residências (pag. 92). O uso ocasional da bateria para pequenas aplicações, especialmente ventiladores, foi que 8% das moradias americanas tinham serviço elétrico; isto dobrou em 1912. Diferenças entre o rural e o urbano não foram relatadas, mas é razoável se presumir que quase todas estas moradias estavam em cidades. Ver “Historical Statistics of the United States”, pag. 827.
(4) O autor deste artigo destaca em nota (no texto original) o fato da publicação “The Nineteenth-Century Readers Guide” trazer apenas um artigo escrito por Kennelly no segmento “Eletric apparatus and appliances, Domestic”. Destaca também o fato de, embora expostas na Exposição Mundial de Chicago de 1893, panelas elétricas, torradeiras, caldeiras elétricas, chapas de aço para cozimento (elétricas), secadoras de cabelo, acendedores de cigarro, fonógrafos e outros equipamentos, de origem americana, inglesa e alemã, tais equipamentos não receberam nenhuma menção em revistas populares, jornais ou catálogos.
(5) “Instalações combinadas de gás e eletricidade, hoje tão frequentemente reproduzidas como apropriadas para esquemas de iluminação vitorianos, teve um surpreendente curto período de produção e popularidade... (mas) ainda em luzes somente elétricas, entre 1890 e 1910, a média das instalações elétricas derivava principalmente da estética e funcionamento da luz de gás. Até 1910, instalações elétricas continuaram a ser feitas de canos e tubos de metal”. Fonte: Melissa L. Cook and Maximilian L. Ferro, “Electric Lighting and Wiring in Historic American Buildings” in Technology and Conservation, primavera de 1983, pág. 32.
Sobre o Autor(a):
Fred E. H. Schroeder, autor do artigo, não é propriamente um tecnólogo, tendo se destacado como professor de Humanidades na University of Minnesota, Duluth, USA, elaborando ensaios e estudos históricos sobre construções escolares no meio rural americano, artigos de higiene feminina e da produção em massa de arte e decoração.
Para abordar o tema em questão, o Prof. Schroeder contou com a colaboração de:
Julian D. Tebo, secretário da Associação Americana de História da Eletricidade,
Michael Lane, diretor do museu “Glensheen Mansion”,
Al Kuhfeld, curador da “Bakken Library of Eletricity in Life”,
Bill Peavler, da sociedade Histórica de Oklahoma,
Bruce Maston, historiador da “GE Realty Plot Historic District”,
Merwin Brandon e Richard Lloyd, assessores de Normas Elétricas Americanas,
Lenore Swoiskin, arquivista da Sears Roebuck,
John Bowditch, curador de maquinaria do Instituto Edison,
Bernard Carson, da Universidade de Tecnologia de Michigan e Erskine Stanberry.
O autor contou também com a colaboração de diversas instituições americanas de documentação e pesquisa histórica de tecnologia aplicada.
O que é bom para os Estados Unidos certamente também será para o Brasil!
Telmo Pamplona
Esta afirmação, tão questionada pelo pensamento antiimperialista desenvolvido na década de 60, além de sintetizar o compromisso de alinhamento do Brasil na política externa do “mundo livre” capitalista, revela também a incrível mudança na cultura urbano industrial brasileira, com destaque em São Paulo, processada de modo acelerado a partir do pós-guerra. Não se trata somente da difusão de uma série de produtos industriais elétricos americanos nas casas brasileiras, estimulando o nascimento de uma nova cultura material com seus novos hábitos e rotinas. Trata-se da ruptura que provocaram em relação ao contexto antecedente.
A “revolução elétrica”, em curso na cidade de São Paulo já a partir do início do século (inaugura-se o bonde elétrico em 1900), serviria de base para uma “revolução industrial” tardia, que, do ponto de vista produtivo, estava centrada nos produtos da era mecânica. Um infindável conjunto de novos equipamentos elétricos, em sua maioria eletrodomésticos, passa a inundar a cidade a partir da década de 40, estabelecendo novos padrões de conforto no modo de habitar e prometendo um alinhamento à vida moderna através do seu consumo. Esses equipamentos passam a ser referência de Bem Estar, tanto aos que possuíam poder de compra, quanto aos que os transformavam em objeto de desejo. O que estamos salientando é a difusão importada dos “benefícios” da era elétrica, em meio a um contexto produtivo marcadamente mecânico, que conseguira uma certa autonomia até então (lembremo-nos que a formação de uma burguesia industrial nacional ganha ênfase a partir de 1930). Como diz o historiador inglês T.S. Ashton, ao se referir ao processo embrionário industrial na Inglaterra (final do século XVIII), a circulação de novos inventos foi a base na qual se assentou a gênese de uma tecnologia industrial, e o processo que garantiu ritmo acelerado ao seu desenvolvimento.
O texto traduzido que apresentamos a seguir trata exatamente deste processo, um século após, revivido pelos agentes da “revolução industrial elétrica” americana. Como veremos, foram necessários quase 50 anos de descobertas e aprimoramentos para que os “inventores fabricantes”, em sua maioria oriundos do trabalho técnico em pequenas oficinas, conseguissem solucionar o dueto PLUG e TOMADA, de modo a compatibilizá-los com os circuitos elétricos domiciliares, viabilizando, logo após, a difusão mundial dos eletrodomésticos americanos. Como veremos, seu design era essencial para o desenvolvimento de um sistema ao mesmo tempo padronizado e flexível.
No pós-guerra, quando os eletrodomésticos americanos importados passam efetivamente a figurar no mercado brasileiro, Simonsen parecia antever seu futuro promissor, ao pedir proteção aos produtos brasileiros.
Mas como com eles competir se a nossa indústria persistia na era mecânica e nossos operários faziam os cursos rápidos do SENAI para ingressar nas montadoras que aqui se instalavam?
“Plug ” e tomada são ícones do modo americano de produzir tecnologia industrial, estruturalmente integrada ao mercado e seu potencial de expansão.
* A redação de Agitprop agradece a Denise Banho pela cessão dos direitos de tradução e publicação.
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