É difícil resenhar a História do Design Gráfico de Meggs sem iniciar o texto com adjetivos grandiosos. Sucumbirei facilmente aqui à tentação. O livro é referência obrigatória para designers, historiadores e demais interessados na cultura visual, na comunicação e, claro, no design gráfico stricto sensu. O trabalho hercúleo de pesquisa, compilação, reflexão e edição feito por Meggs e seus colaboradores não encontra similares[1].
O livro, de dimensões materiais não menos impressionantes (aproximadamente setecentas páginas, amplamente ilustradas), sofreu revisões e adições desde sua primeira edição, em 1983. Divide-se, hoje, em cinco grandes blocos partindo, grosso modo, da invenção da escrita até a revolução digital – passando pelo advento da impressão; pela Revolução Industrial; pelo modernismo (e seus vários desdobramentos); e pelo pós-modernismo. Uma ampla e audaciosa linha do tempo, concatenada cronologicamente, que contempla a história social do design gráfico e seus principais representantes (além até de alguns personagens mais obscuros).
Dito isto, podemos perguntar – se ainda restarem dúvidas: mas por que sua edição em português era tão esperada? A resposta é simples. Uma vez que o design firmou-se em solo nacional como uma profissão na passagem dos anos 1950 para 1960, precisamos de ferramentas consistentes para alfabetizar historicamente as atuais e futuras gerações do ofício. O livro de Meggs funciona, nesse sentido, com dupla utilidade: serve tanto aos cursos teóricos de História do Design, em sua leitura integral, como aos pesquisadores e curiosos que necessitam informações rápidas, transversais, sobre pontos específicos desse monumental trajeto histórico-visual.
Não menos significativa é a bibliografia contida ao final do volume. Caso as informações em seus capítulos sejam telegráficas ou insuficientes para pesquisas mais aprofundadas, vinte páginas com indicações de outros títulos – específicos a cada tema abordado – servem como precioso guia, dando continuidade ao trabalho de Meggs. Aliás, tocando nesse assunto, a História de Meggs não findou-se com sua prematura morte, em 2002. Seu trabalho tem consistência para ser atualizado, reedição após reedição, por outros críticos e estudiosos do design gráfico. Pode ser, assim, uma obra aberta aos mais diversos interessados – inclusive àqueles posicionados fora do eixo Europa Ocidental / Estados Unidos.
Por fim, um breve comentário ligado ao próprio tema do livro – o design gráfico. Se este pode ser livremente entendido como a atribuição de formas materiais e visuais a conceitos intelectuais, o volume editado pela Cosac Naify merece destaque. Conteúdo e forma casam em notável harmonia. Do projeto gráfico ao tratamento das imagens e à impressão, o livro, enquanto objeto planejado, é magnífico. Uma metonímia do conteúdo espelhando, no entanto, o espírito de seu próprio contexto e época.
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[1] El Diseño Gráfico (1988), de Enric Satué e Graphic Design: a concise history (1994), de Richard Hollis são também bons candidatos ao pódio. Porém, o primeiro, apesar da fluidez e abrangência do texto, peca na iconografia. O segundo, restringe-se ao design moderno – sendo, de fato, muito conciso.
Veja também a resenha de Steven Heller sobre este livro.
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Celso Longo é arquiteto e mestre em Design e Arquitetura pela FAU-USP. Dirige, desde 2005, o Imageria Estúdio – escritório focado em projetos de design editorial, ambiental, promocional e identidades visuais para os setores educacionais e culturais. Em 2008, colaborou com o corpo curatorial da 9ª Bienal Brasileira de Design Gráfico, sendo responsável pela categoria Fluxos. Atualmente, também é professor do curso de graduação em Design Visual da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo.