Ano: III Número: 28
ISSN: 1983-005X
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Desvendando o pensamento dos designers
Walter Spina Jr.

Livro: Desenho para Designers Autor(a): Alan Pipes Editora: Blücher

Postado: 22/04/2010

   

Grande parte das pessoas, ao olhar um objeto industrial, não imagina o quanto a sua elaboração pode ter sido trabalhosa e por quantos processos um produto passa até chegar às lojas e, assim, ao seu cotidiano. Os designers estão envolvidos em muitas dessas etapas, principalmente nas que definem os aspectos estéticos e funcionais do objeto, e nas quais são realizados inúmeros desenhos, dos mais simples aos mais elaborados. Porém, ao final do projeto, esse material muitas vezes é eliminado ou acaba esquecido dentre os demais materiais utilizados na concepção do produto. Em Desenho para designers, publicado em 2007 e traduzido para o português e publicado pela Editora Blucher no início de 2010, Alan Pipes alerta para a importância do acesso a esses desenhos e esboços que, em sua opinião, possuem valor artístico e merecem ser conhecidos pelo grande público.

Os esboços e desenhos desenvolvidos ao longo do processo de criação do design, além de ser um importante registro das diversas etapas do projeto e das explorações feitas pelos designers, têm, segundo Pipes, três funções principais. A primeira é “ser um modo de exteriorizar e analisar pensamentos e simplificar problemas multifacetados para torná-los mais fáceis de entender”; ou o desenvolvimento do conceito e objeto em si, a segunda é “ser um meio de persuasão que vende idéias aos clientes e garante a estes que suas propostas estão sendo satisfeitas”, um importante meio de comunicação entre designer e seu contratante, e a terceira “ser um método de comunicação completo e sem ambiguidades na informação para aqueles responsáveis pela fabricação, montagem e comercialização do produto”, ser claro e objetivo.

Embora o autor admita que não existam fórmulas prontas no desenvolvimento do design, e que cada empresa e escritório possui sua própria maneira de fazê-lo, ele aponta para a existência de etapas fundamentais ao projeto. Cada uma delas tem seus objetivos, prazos e tempo de trabalho e os desenhos realizados nessas diferentes fases, geralmente, sugerem a utilização de diferentes materiais e suportes. É com base nesses materiais que Pipes descreve os objetivos e características dos desenhos realizados pelos designers.

Os primeiros traços do objeto de design podem nascer de um esboço em um papel qualquer, “como o fez o antigo engenheiro da era Vitoriana, Joseph Paxton, sonhando acordado com o Palácio de Cristal, desenhando em uma folha de papel de borrão, durante uma enfadonha reunião”. Esse esboço inicial pode ser chamado de “desenho de conceito”, utilizado nas primeiras definições da forma do objeto. E empregam materiais mas simples, como lápis e canetas esferográficas.

Após a definição das primeiras características do produto, condizentes com briefing entregue pelo cliente, são desenvolvidos desenhos mais elaborados, bem detalhes, realizados em suportes mais formais e utilizando canetas marcadores, devido ao “imediatismo e resultados rápidos, além de suas faixas de cores e compatibilidade com outros meio”, o computador, por exemplo. Esses desenhos são, nesta etapa, destinados às apresentações ao cliente.

Após ser aprovado pelo cliente, o projeto recebe os últimos ajustes e passa para uma fase de detalhamento. O desenho passa a ser um conjunto de informações no auxílio à produção. A introdução e acessibilidade aos programas CAD 2D (Computer aided design, ou Design auxiliado por computador) não só facilitaram a produção desses “desenhos de conjunto”, como também serviram para “expandir a visão conceitual do designer e dar a ele uma visão holística do projeto, com cada vez mais controle sobre o processo do design à produção”. Essa precisão dos sistemas CAD melhorou, também, a análise prévia dos objetos, uma vez que através da modelagem em 3D, podem ser previstos problemas estruturais, medida a resistência dos diferentes materiais empregados etc.

A precisão oferecida pela utilização dos computadores é essencial no mundo globalizado, onde a fábrica ou manufatura de uma empresa pode estar localizada em um continente diferente, longe da unidade de desenvolvimento de novos produtos da empresa. Daí a necessidade da clareza e objetividade dos desenhos do designer, alertada pelo autor. No entanto, o autor adverte que “o sistema deve ser construído sobre a habilidade humana em vez de marginalizá-la” e que “a palavra-chave no design auxiliado por computador é auxiliado”.

A internet contribuiu significativamente para a profissão do designer, pois além de permitir o trabalho integrado de pessoas espalhadas pelo mundo, abriu espaço para a divulgação dos trabalhos desenvolvidos, assim como para a criação de grupos de discussão e atualização das muitas questões e ferramentas que envolvem a atividade. Essa maior visibilidade e acesso a informação aproxima, a cada dia, os estudantes de design dos profissionais.

Contudo, o livro Desenho para designers, de Alan Pipes, traz um bom registro dos desenhos realizados pelos designers e a evolução desses ao longo da história da produção industrial. Na era do computador como instrumento indispensável, o livro, também reafirma o importante papel do desenho manual sem uso de tecnologia eletrônica no processo de criação do design. Podendo ser ainda mais interessante aos estudantes, o livro descreve os melhores materiais a serem empregados em cada etapa do processo e mostra alguns casos de escritórios de design e as soluções encontradas para seus projetos.

 

Walter Spina Jr. é designer e monitor da disciplina Fundamentos Sociais do Design V, na Facamp.

 


Comentários

Fernando Mendes de Almeida
23/04/2010

Estou ansioso para ler o livro, sempre acreditei na expressividade desses primeiros passos na elaboração de um projeto, seja de arquitetura ou de design. Observo que muitos dos meus colegas vão direto para a construção de uma idéia em programas sofisticados de 3D, que por mais perfeitos que sejam não tem a riqueza, o calor e até mesmo a beleza da imperfeição do traço livre à mão sobre o papel. O traço, o risco, informa o caráter e a “alma” de uma idéia, abre um leque maior de possibilidades no desenvolvimento de um projeto, e essas possibilidades podem até surgir acidentalmente num gesto não premeditado.

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