Americanismo e fordismo
Alô, professores de história e de fundamentos sociais do design: a editora Hedra acaba de lançar o livro Americanismo e fordismo, conjunto de notas do marxista italiano Antonio Gramsci.
Leitura vigorosa, com a impressionante argúcia do escritor que, de dentro da prisão fascista de Mussolini, conseguiu enxergar o fordismo de maneira muito mais ampla do que apenas um novo sistema fabril. Gramsci chama a atenção para o moralismo anti-alcoolista e a defesa de uma moral sexual que reforça o sentido de família nuclear, base da sociedade de consumo, então em formação.
Vejam só que capacidade de enxergar muito além da economia: “...estão sendo criadas margens de passividade social cada vez mais amplas. As mulheres aparentemente têm uma função predominante nesse fenômeno. O homem industrial continua a trabalhar mesmo que miliardário, mas a sua mulher e as suas filhas se tornam mamíferos de luxo. Os concursos de beleza, os concursos para trabalhar no cinema, o teatro etc., selecionando a beleza feminina mundial e expondo-a em leilão, suscitam uma mentalidade de prostituição, e o tirar as roupas íntimas é feito legalmente pelas classes altas.”
Ou ainda: “é o caso de estudar as iniciativas puritanas dos industriais como as de Ford. Está claro que estes não se preocupam com a humanidade, com a espiritualidade do trabalhador que imediatamente é aniquilada. Esta humanidade e espiritualidade não pode realizar-se senão no mundo da produção e do trabalho, na criação produtiva. Esta era a máxima do artesão, do demiurgo, quando a personalidade do trabalhador se refletia completamente no objeto criado, quando ainda era forte a ligação entre arte e trabalho. Mas é justamente contra este humanismo que luta o novo industrialismo.” (EL)
Gramsci, A. Americanismo e fordismo, trad. Gabriel Bogossian, introd. Ruy Braga, São Paulo: Ed. Hedra, 2008.
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